O evento reconhece empresas que se destacaram pela adoção de variedades modernas e enfatiza a importância de dados precisos e novas tecnologias para impulsionar a produtividade
O Prêmio de Produtividade com Modernidade que reflete a transparência e abrangência dos dados coletados, consolidando-se como o maior levantamento de produtividade de cana-de-açúcar com variedades modernas no Brasil, e mostrando a dinâmica de um setor altamente influenciado pelas condições climáticas, foi realizado no dia 11 de setembro no auditório do Centro de Convenções da Cana-de-açúcar do IAC, em Ribeirão Preto.
Rubens Braga Junior, consultor em planejamento estratégico da RBJ Consult
Pelo segundo ano, a premiação reconhece as melhores práticas na produção de cana-de-açúcar. O consultor em Planejamento Estratégico da RBJ Consult, Rubens Braga Junior, na oportunidade, falou sobre a importância do levantamento de dados sobre a safra 2023/24, realizado em 17 estados com a participação de 221 empresas.
O prêmio tem como objetivo relacionar a produtividade da cana-de-açúcar com fatores como solos, clima e o uso de variedades modernas. “Esse é o segundo ano que entregamos esse prêmio e isso me deixa muito feliz por estar homenageando as empresas mais produtivas e modernas do país”, comentou Braga Junior. A premiação leva em consideração a quantidade de açúcar por área e o uso de variedades de cana-de-açúcar que apresentam porte ereto e alto perfilhamento, características que facilitam a colheita, reduzem os custos de produção e aumentam a longevidade do canavial.
Os critérios para a seleção dos vencedores incluíram o envio de dados para o Censo Varietal do IAC referente à safra 2023/24, a planilha de produção até 15 de agosto de 2024, e uma produção mínima de 500 mil toneladas. O principal indicador do prêmio é o IIPM - Índice IAC de Produtividade com Modernidade, que considera a média de toneladas de açúcar por hectare ao longo dos cinco primeiros cortes e a idade média das variedades utilizadas contada a partir do ano de liberação comercial, revelada pelo índice de liberação varietal.
Marcos Landell, diretor geral do IAC
Em sua palestra, Marcos Landell, diretor geral da instituição, destacou que o resultado desta importante pesquisa envolvendo 221 empresas do setor sucroenergético revela uma correlação positiva entre a produtividade agroindustrial e a adoção de novas variedades de cana-de-açúcar, desenvolvidas por programas de melhoramento genético no país.
Segundo Landell, essas novas variedades serão fundamentais para o setor, especialmente no Centro-Sul do Brasil, que foi duramente afetado por incêndios em áreas de produção. “O uso dessas novas tecnologias varietais, com maior capacidade de produção em soqueiras, devido à elevada brotação e à excepcional emissão de colmos para o ciclo seguinte, será essencial”, afirmou. Ele também explicou que essas variedades atuariam como um “antídoto” para os danos causados pelos incêndios, destacando que a recuperação demandará ciência e tecnologia para mitigar o aumento nos custos de produção.
Landell também apresentou dois lançamentos futuros das variedades IAC, a IAC07-2361 e a IAC09-6166, reforçando o compromisso do instituto com a inovação e a busca por soluções que promovam a sustentabilidade e a produtividade no setor sucroenergético.
Premiação
Nessa segunda edição do Prêmio Produtividade com Modernidade, a grande vencedora foi a Usina Alta Mogiana, de São Paulo, que apresentou um IIPM de 13,67, quase dois pontos a mais que a vencedora da primeira edição. Segundo Rubens Braga Junior, a mudança no ranking dos vencedores, com metade dos premiados de 2024 não figurando na lista de 2023, já era esperada, dado o impacto das condições climáticas. “A produtividade tem muita relação com o ano agrícola, e os dois últimos anos foram muito diferentes. A safra 2022/23 foi marcada pela seca, enquanto 2023/24 registrou uma safra recorde com muita chuva. Quem se adapta melhor ao clima tende a elevar consideravelmente a produtividade”, disse Braga Junior.
Especialista destaca panorama de custos e mercado do setor sucroenergético
Raphael Delloiagono, especialista em custos e inteligência de mercado do Pecege, foi um dos palestrantes no evento. Na ocasião, Delloiagono apresentou um panorama sobre os custos e o mercado do setor sucroenergético, com ênfase nos resultados recém-publicados do levantamento do 1º trimestre da safra 2024/25.
O levantamento contou com a participação de 41 grupos empresariais, representando 75 unidades agroindustriais em oito estados brasileiros. Essas empresas moeram cerca de 75 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, aproximadamente 31% do total da moagem da região Centro-Sul. Segundo o especialista, os dados indicam uma redução dos custos agrícolas e industriais em comparação com a safra anterior, reflexo da safra histórica de 2023/24, marcada por recordes de produção de açúcar e etanol.
Raphael Delloiagono, especialista em custos e inteligência de mercado do Pecege
Delloiagono ressaltou que a queda nos custos foi influenciada pela redução dos preços de insumos como fertilizantes e defensivos, que, após uma alta acentuada nos anos anteriores, devido à pandemia e à valorização do dólar, apresentaram uma tendência de normalização em 2024.
No entanto, a safra atual enfrenta desafios, como a quebra de 50 milhões de toneladas na moagem, resultado do envelhecimento dos canaviais e do déficit hídrico. Apesar dessa redução, o especialista projeta uma produção total superior a 600 milhões de toneladas de cana-de-açúcar, mantendo o setor em níveis historicamente elevados.
Em termos de perspectivas, Delloiagono destacou que a produção de açúcar deve cair para um pouco menos de 40 milhões de toneladas, impactada pela menor moagem e produtividade. No entanto, a quebra brasileira será compensada pelas safras asiáticas, o que deve resultar em uma leve queda nos preços do açúcar no mercado global.
Já o etanol apresenta sinais de recuperação, com aumentos desde o início da safra 2024/25. A paridade do preço do etanol com a gasolina, que estava em 64% na safra passada, já se aproxima de 67%. A tendência é de estabilidade nos preços para a próxima safra, com o etanol hidratado alcançando valores próximos a R$ 2,57 por litro.
Delloiagono ainda comentou sobre o preço do ATR (Açúcar Total Recuperável), que deverá cair de R$ 1,20 na safra anterior para R$ 1,16 na atual. Para a safra 2025/26, ele projeta um ATR de R$ 1,11, caso as condições climáticas se normalizem e as safras internacionais de açúcar sigam seu curso esperado. O especialista concluiu destacando a importância de acompanhar os cenários globais, que podem alterar significativamente as projeções de preço tanto para o açúcar quanto para o etanol.
As perspectivas da safra 2024/25 sob o olhar da UNICA
O diretor de economia e inteligência estratégica da UNICA - União da Indústria de Cana-de-Açúcar, Luciano Rodrigues, discorreu as perspectivas para a safra 2024/25 durante o evento. Em sua apresentação, Rodrigues abordou o cenário atual do setor sucroenergético e as mudanças esperadas para o próximo ciclo produtivo.
Luciano Rodrigues, diretor de economia e inteligência estratégica UNICA
Ele destacou que, além dos desafios normais da produção, o setor deve enfrentar transformações significativas em termos de regulamentação, envolvendo novas demandas, como a produção de combustíveis de aviação e marítimos, além de captura e armazenamento de carbono. “Eu estou na indústria há cerca de 15 anos e nunca passei por um período tão intenso de novidades e problemas novos”, afirmou.
Desempenho da safra passada - A safra 2023/24 foi marcada por recordes de produção, com 654 milhões de toneladas de cana-de-açúcar processadas na região Centro-Sul, 42 milhões de toneladas de açúcar produzidas e um aumento expressivo na produção de etanol, que incluiu a incorporação do etanol de milho. “Foi uma safra excepcional tanto em termos de produção quanto de receita”, ressaltou Rodrigues. O aumento de produtividade refletiu em uma elevação de 30% na receita por hectare, melhorando as condições financeiras das empresas.
Expectativas para 2024/25 - Para a safra atual, espera-se um crescimento da área de colheita e um aumento significativo na produção de etanol de milho, que pode superar os 20% da produção total de etanol da região Centro-Sul. No entanto, a produtividade da cana-de-açúcar deve ser menor devido a condições climáticas adversas e incêndios em diversas áreas produtoras. Até agosto de 2024, estima-se uma queda de 7% na produtividade, com impactos que podem se estender para a safra seguinte.
Rodrigues também comentou sobre os incêndios que afetaram 231 mil hectares de áreas de cana, sendo 100 mil hectares já colhidos. “Esses incêndios não só prejudicam a safra atual, como podem afetar o desenvolvimento das plantas no próximo ano”, alertou.
Preços e mercado - Apesar das adversidades, o mercado mantém preços convidativos, especialmente para o açúcar, que, embora em um nível menor que o do ano passado, continua acima da média histórica. O consumo de etanol também segue em alta, com um aumento de 50% nas vendas mensais em comparação ao ano anterior. “Estamos vendo uma participação crescente do etanol no consumo de combustíveis, o que é um ponto positivo para o setor”, comentou Rodrigues.
Segundo o executivo da UNICA, no geral, a safra 2024/25 será desafiadora, principalmente para as empresas do estado de São Paulo, principal produtor de açúcar do país. As cicatrizes dos eventos climáticos e dos incêndios devem se refletir também no próximo ciclo, trazendo dificuldades adicionais. Contudo, os preços mantêm-se estáveis e competitivos, o que pode ajudar a compensar parte das perdas”, concluiu Rodrigues.