A chuva cai e o mercado sobe
11/06/2012
Açúcar
POR: UDOP
Bastaram uma semana chuvosa, que interrompe o corte e a moagem de cana, e alguns atrasos no embarque de açúcar, crescendo a fila de navios, para fazer com que o mercado em NY experimentasse uma alta expressiva na quarta-feira da semana passando apreciando 4,41%, algo que não sucedia desde o início do ano. Cobertura de posições vendidas a descoberto empurrou o spread julho/outubro que se fortaleceu (os vendedores temerosos que não tenham a mercadoria para entrega recompram o que venderam em julho e rolam a posição vendida para o vencimento seguinte) contando com a ajuda dos fundos agem da mesma forma. Pronto! Ficamos altistas de novo! E a China surpreende o mercado e faz um corte de juros, primeiro desde 2008.
A sexta-feira fechou com uma alta de 89 pontos na semana, fazendo o vencimento julho/2012 encerrar a 19,98 centavos de dólar por libra-peso. Os demais meses de negociação fecharam também em alta, com apreciação maior para os meses com vencimento mais curto, apresentando altas entre 48 e 15 pontos.
Tomando as quase 20 previsões da safra de cana do Centro Sul que circulam por aí, a média é de 511 milhões de toneladas. O consenso parece apontar para alguma coisa entre 510 e 520 milhões de toneladas. Houve um pequeno aumento da demanda física de açúcar. A China já comprou 840.000 toneladas do Brasil nos primeiros quatro meses do ano e as tradings acreditam que esse número vai aumentar fortemente. A Tailândia vendeu 600.000 toneladas para os chineses este semestre.
A produção de açúcar da Índia de outubro de 2011 até 31 de maio de 2012 alcançou 25.5 milhões de toneladas. Ligeiramente abaixo do que o mercado trabalhava, que era 26 milhões.
Quem tivesse discutido no final de fevereiro passado sobre a trajetória que o dólar teria nos meses seguintes, jamais poderia ter pensado que a moeda americana fosse ultrapassar a marca de 2,0000 reais. Esse foi certamente o maior erro de avaliação que o mercado teve, incluído este humilde escriba. Dos 750 pontos de declínio desde a alta do final de fevereiro até os 19 centavos de dólar por libra-peso na semana passada, 300 pontos devem-se à moeda. Não fosse isso o mercado teria alcançado a baixa de 22 centavos de dólar por libra-peso, que dissemos por várias vezes aqui, seria o chão do mercado.
Sinal amarelo para a safra 2013/2014: a Rússia terá uma redução de quase 15% na área plantada de beterraba em razão da seca.
Causa-nos sempre espanto quando comparamos a evolução dos preços da soja no mercado internacional com a queda acentuada do açúcar e o porquê isso não influi na mudança de cultura dos produtores indianos. O que os produtores de cana recebem não tem nenhuma relação com o preço que as usinas obtêm pelo açúcar. Segundo um expert de Índia, esse descompasso entre os valores pode causar atrasos e acúmulo nos pagamentos para os produtores caso os preços do açúcar estejam em declínio. São esses atrasos que fomentam a mudança de uma cultura para outra. O governo indiano estabelece agora qual o preço a ser pago pela cana de açúcar o que faz com que ela seja a cultura mais rentável nesse momento. Isso persistirá em 2013/2014? Ninguém sabe.
Se você notar o contrato de petróleo WTI, em reais, desde o começo do ano, vai ver que atingimos o ponto mais alto no final de abril o que dava suporte para que o governo pudesse alterar de pronto o preço da gasolina para o consumidor. Com a queda do petróleo de 110 para 84, mesmo com a desvalorização do real, o valor de importação agora é menor do que o do início de fevereiro. Portanto, parece ir por água abaixo, neste momento, a necessidade que o governo teria de reajustar o preço do combustível para aliviar os prejuízos que a estatal brasileira do petróleo está acumulando com essa política míope imposta pelo governo federal.
O custo de produção do anidro e do hidratado, de acordo com o modelo desenvolvido pela Archer Consulting, é de R$ 1,1782 e 1,1311, por litro na usina, respectivamente. Comparando com o fechamento da BM&F Bovespa, o hidratado apresenta uma rentabilidade média de 0,77% comparada ao custo de produção para o segundo trimestre de vencimento de 2012.
Arnaldo Luiz Corrêa
Diretor da Archer Consulting