Temporada seca de plantio de amendoim e soja exige resiliência e atenção dos produtores
Depois do desastre climático da safra passada, a última coisa que o produtor esperava enfrentar no período de plantio de soja e amendoim em rotação de cultura com cana-de-açúcar era ter que encarar um novo veranico.
E ele veio sem dó num mês de outubro muito seco, trazendo de volta à cabeça dos agricultores os fantasmas do período anterior. Embora tenha chovido muito bem na época de plantio (final de setembro até a metade de novembro), as águas serviram como uma arapuca, pois incentivou a grande maioria a plantar de maneira antecipada, e quando as plantas já estavam com o tamanho ideal para encher as vagens, entre o final do ano e todo o mês de janeiro, o céu simplesmente secou, fazendo com que não valesse a pena o uso do diesel para a colheita em algumas áreas.
Fora que no período de colher o grão, soja ou amendoim, São Pedro quis ser generoso e despejou água, subtraindo mais algumas casas decimais da conta da produtividade.
Com menos produção, em muitos casos, na conta final, os custos ficaram acima do faturamento, levando o produtor a alocar recursos destinados a outras culturas como da cana, ou a renegociar suas dívidas para enfim conseguir manter, pelo menos, o crédito para a safra atual.
Contudo, essa falta de padronização climática, onde a cada ano o regime de chuvas e o calor se apresentam de um jeito, não surgiu na safra passada e trouxe duas características importantes aos produtores.
A primeira é a resiliência, que nada mais é quando o indivíduo consegue lidar com problemas, adaptar-se às mudanças, superar obstáculos e resistir à pressão, causados principalmente por situações adversas que não estão em seu controle. Desnecessário dizer por que o cultivador de soja e amendoim tem essa característica.
E a segunda é um bom ouvido, pois como a água está vindo rala e picotada nas áreas (a famosa chuva de manga), ao primeiro barulho distante de um trovão já é motivo para ficar de prontidão com o equipamento de plantio e, caso a chuva se confirme, não perder um segundo para iniciar os trabalhos.
Sendo assim, aos trancos e barrancos, quase toda a área destinada a receber as culturas de rotação foram se preenchendo. Lógico que com um certo atraso, mas não deverá ultrapassar os últimos dias de novembro.
Porém, há algum alento vindo dos estudos climáticos de alguns institutos que apontam para uma melhoria progressiva no regime de águas até o final do ano e com chuvas abundantes em janeiro.
Outro recurso que ajudou demais o produtor foi a tecnologia, principalmente no caso do plantio, com destaque para a evolução das sementes. Na cultura do amendoim, por exemplo, as de fabricação própria da Copercana tiveram uma germinação ímpar, enquanto que nos campos de soja, o uso da inoculação foi fundamental para a brotação.
Ao se observar as questões de mercado, em condições minimamente normais quanto ao clima, segundo o diretor administrativo da Copercana e líder da operação de grãos, Augusto Cesar Strini Paixão, há uma expectativa de produção de 2,6 milhões de sacos de amendoim numa área de 15 mil hectares (quase 1,5 mil hectares a mais em relação ao ano passado) o que dá uma média de 175 sacos por hectare, ou 434 por alqueire.
Caso esses números se comprovem, o executivo espera por preços melhores, já que o grande diferencial do projeto é a venda para os mercados mais exigentes do mundo (Europa e Japão), destino, em 2018, por 70% das exportações da Copercana.
Contudo, no atual ano o volume de negócios retraiu, isso porque como o período de estiagem atingiu a lavoura justamente no momento de formação do grão, o que acarreta numa contaminação maior por aflatoxina, principal índice de qualidade do amendoim, há um campo enorme para ganhar apenas considerando o fato da contribuição do regime de chuvas, pois a competência de manejo dos participantes está mais que consolidada.
E a prova de que as perspectivas de sucesso são enormes é de que está previsto para os próximos anos a implantação de uma nova unidade que dobrará a capacidade industrial da cooperativa.
Quanto à soja, Paixão enxerga que embora tenha iniciado suas operações no decorrer da colheita, o desempenho do centro de recebimento e armazenagem de Guaíra foi bem, fechando o último período com um total de 48 mil toneladas.
Com a estrutura redonda, a estimativa é receber até o final da colheita cerca de 80 mil toneladas, sendo 50 mil em Guaíra e 30 mil em Sertãozinho.
Nas páginas a seguir serão contadas as histórias de seis produtores distintos, que além das condições climáticas também enfrentam áreas infestadas de daninhas, pragas e doenças, fora o cuidado cirúrgico que precisam ter para não atrapalhar o desenvolvimento da linha mãe da meiosi e a pressão do calendário para o plantio de cana-de-açúcar.