O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana cotado a 14.41 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março de 2018, uma alta de 43 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. 9.50 dólares por tonelada de variação positiva que foi acompanhada por altas entre 2 e 8 dólares por tonelada nos meses de negociação subsequentes, que se estendem até maio de 2020. O preço médio dos fechamentos correspondentes à safra 2018/2019 (maio de 2018 até março de 2019), incluindo NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) equivale a R$ 1,120 por tonelada.
Enquanto notícias frescas sobre os fundamentos do açúcar não atingirem o mercado, estaremos condenados a assistir a toda tentativa de o mercado subir - empurrado pelas recompras das posições vendidas dos fundos - sendo compensada pela avalanche de fixações de venda ainda pendentes por parte das usinas. Quais fundamentos seriam esses?
Primeiramente, os números de moagem da UNICA nesta última quinzena mostraram uma redução na moagem acumulada comparativamente ao mesmo período do ano passado: uma queda de 1.9%. Embora a produção acumulada de açúcar no mesmo período tenha sido de quase 5% acima do ano passado, chama a atenção a propensão recente de mais cana sendo direcionada para o etanol. Duas coisas ainda podem potencializar uma subida de preços: uma redução ainda maior da moagem na próxima quinzena e a confirmação da tendência de mais cana sendo convertida no biocombustível.
Em segundo lugar, reforçando a tese aqui discutida nos comentários anteriores, a importância que o petróleo passa a ter na formação do preço do açúcar. Vamos precisar de mais tempo para ver como será a reação do mercado numa eventual subida vigorosa no preço do petróleo. Os mercados estão cada vez mais interligados. Às vezes não percebemos o quanto.
Nessa linha de pensamento, gosto de lembrar o episódio do mal da vaca louca, uma doença neurodegenerativa fatal que atingiu os bovinos, ocorrido no início da década passada. A doença, descobriu-se depois, estava associada à alimentação do gado com farinha de carne e ossos de outros animais, que era usada para a ração desses animais. Como trader de açúcar, na época, ao acompanhar pelas agências noticiosas, ignorei o assunto achando que o tal fenômeno da “vaca louca” em nada tinha nada a ver com o açúcar. Errei feio, isso sim.
Ocorre que com a suspensão desse tipo de alimentação contaminada para os bovinos começou a crescer a demanda por farelo de soja e milho. O preço do farelo subiu fortemente em Chicago e devido à margem de esmagamento, soja grão e óleo de soja também subiram. A próxima commodity e ser afetada dentro dessa equação foi o milho. Com o milho sendo demandado, em função da demanda por farelo de soja, também seu preço subiu. O etanol de milho competia com a matéria prima in-natura e os preços altos abriram espaço para a demanda pelo etanol de açúcar cujo preço era mais competitivo. Ato contínuo, o etanol de açúcar subiu de preço no mercado internacional e, finalmente, o açúcar foi afetado subindo na mesma proporção. Muitos traders na época, como eu, ignoraram completamente a possibilidade de o mal da vaca louca ocupar um papel de destaque no mercado de açúcar. Lição aprendida.
O petróleo e a gasolina (RBOB) terão um impacto cada vez maior na formação de preço do etanol brasileiro e indiretamente no preço do açúcar via paridade. Esse fator não está devidamente apreçado no mercado. O açúcar é a commodity que mais se desvalorizou no ano e os fundos só esperam uma fagulha que detone a tomada de lucro. Ela virá?
Até o final de setembro de 2017, segundo o modelo da Archer Consulting, as usinas já haviam hedgeado 4,215 milhões de toneladas de açúcar, ao preço médio de 16,31 centavos de dólar por libra-peso FOB, sem prêmio de polarização, o que deve representar aproximadamente 15.5% do total estimado da exportação brasileira de açúcar. O preço médio de fixação é de R$ 1,223 por tonelada, incluindo o prêmio de polarização e ajustado pelo NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira). Esse valor é equivalente a 53.22 centavos de real por libra-peso. O dólar médio obtido pelas usinas foi de 3.2632 reais.
O percentual acumulado no ano, de 15.5% é o menor desde a safra 2015/2016. Na safra passada, nesse mesmo período, o percentual de fixação estava em 27.07%. Alguns fatores corroboram por esse atraso na fixação: falta de crédito por parte das tradings, atraso na fixação da safra 2017/2018 que fez com as usinas olhassem a próxima safra em segundo plano. A queda vertiginosa do preço do açúcar no mercado internacional, principalmente a partir de abril, desestimulou as usinas a fixarem preços.
(Arnaldo Luiz Corrêa é diretor eda Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)
O mercado futuro de açúcar em NY fechou a semana cotado a 14.41 centavos de dólar por libra-peso no vencimento março de 2018, uma alta de 43 pontos em relação ao fechamento da semana anterior. 9.50 dólares por tonelada de variação positiva que foi acompanhada por altas entre 2 e 8 dólares por tonelada nos meses de negociação subsequentes, que se estendem até maio de 2020. O preço médio dos fechamentos correspondentes à safra 2018/2019 (maio de 2018 até março de 2019), incluindo NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira) equivale a R$ 1,120 por tonelada.
Enquanto notícias frescas sobre os fundamentos do açúcar não atingirem o mercado, estaremos condenados a assistir a toda tentativa de o mercado subir - empurrado pelas recompras das posições vendidas dos fundos - sendo compensada pela avalanche de fixações de venda ainda pendentes por parte das usinas. Quais fundamentos seriam esses?
Primeiramente, os números de moagem da UNICA nesta última quinzena mostraram uma redução na moagem acumulada comparativamente ao mesmo período do ano passado: uma queda de 1.9%. Embora a produção acumulada de açúcar no mesmo período tenha sido de quase 5% acima do ano passado, chama a atenção a propensão recente de mais cana sendo direcionada para o etanol. Duas coisas ainda podem potencializar uma subida de preços: uma redução ainda maior da moagem na próxima quinzena e a confirmação da tendência de mais cana sendo convertida no biocombustível.
Em segundo lugar, reforçando a tese aqui discutida nos comentários anteriores, a importância que o petróleo passa a ter na formação do preço do açúcar. Vamos precisar de mais tempo para ver como será a reação do mercado numa eventual subida vigorosa no preço do petróleo. Os mercados estão cada vez mais interligados. Às vezes não percebemos o quanto.
Nessa linha de pensamento, gosto de lembrar o episódio do mal da vaca louca, uma doença neurodegenerativa fatal que atingiu os bovinos, ocorrido no início da década passada. A doença, descobriu-se depois, estava associada à alimentação do gado com farinha de carne e ossos de outros animais, que era usada para a ração desses animais. Como trader de açúcar, na época, ao acompanhar pelas agências noticiosas, ignorei o assunto achando que o tal fenômeno da “vaca louca” em nada tinha nada a ver com o açúcar. Errei feio, isso sim.
Ocorre que com a suspensão desse tipo de alimentação contaminada para os bovinos começou a crescer a demanda por farelo de soja e milho. O preço do farelo subiu fortemente em Chicago e devido à margem de esmagamento, soja grão e óleo de soja também subiram. A próxima commodity e ser afetada dentro dessa equação foi o milho. Com o milho sendo demandado, em função da demanda por farelo de soja, também seu preço subiu. O etanol de milho competia com a matéria prima in-natura e os preços altos abriram espaço para a demanda pelo etanol de açúcar cujo preço era mais competitivo. Ato contínuo, o etanol de açúcar subiu de preço no mercado internacional e, finalmente, o açúcar foi afetado subindo na mesma proporção. Muitos traders na época, como eu, ignoraram completamente a possibilidade de o mal da vaca louca ocupar um papel de destaque no mercado de açúcar. Lição aprendida.
O petróleo e a gasolina (RBOB) terão um impacto cada vez maior na formação de preço do etanol brasileiro e indiretamente no preço do açúcar via paridade. Esse fator não está devidamente apreçado no mercado. O açúcar é a commodity que mais se desvalorizou no ano e os fundos só esperam uma fagulha que detone a tomada de lucro. Ela virá?
Até o final de setembro de 2017, segundo o modelo da Archer Consulting, as usinas já haviam hedgeado 4,215 milhões de toneladas de açúcar, ao preço médio de 16,31 centavos de dólar por libra-peso FOB, sem prêmio de polarização, o que deve representar aproximadamente 15.5% do total estimado da exportação brasileira de açúcar. O preço médio de fixação é de R$ 1,223 por tonelada, incluindo o prêmio de polarização e ajustado pelo NDF (contrato a termo de dólar com liquidação financeira). Esse valor é equivalente a 53.22 centavos de real por libra-peso. O dólar médio obtido pelas usinas foi de 3.2632 reais.
O percentual acumulado no ano, de 15.5% é o menor desde a safra 2015/2016. Na safra passada, nesse mesmo período, o percentual de fixação estava em 27.07%. Alguns fatores corroboram por esse atraso na fixação: falta de crédito por parte das tradings, atraso na fixação da safra 2017/2018 que fez com as usinas olhassem a próxima safra em segundo plano. A queda vertiginosa do preço do açúcar no mercado internacional, principalmente a partir de abril, desestimulou as usinas a fixarem preços.
(Arnaldo Luiz Corrêa é diretor eda Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.)