Uma nova era na cultura de cana-de-açúcar e do agronegócio focada em sustentabilidade e produtividade
O Brasil é chamado de “celeiro do mundo” e, por isso, lhe é cobrada a responsabilidade de produzir com sustentabilidade. Ao longo dos anos, os processos de plantio e colheita da cana-de-açúcar vêm sendo otimizados e surgiu, então, o termo nova agricultura canavieira, que significa falar em todos os novos meios de produção de cana em prol do desenvolvimento sustentável do setor sucroenergético. Mas não é só a evolução de máquinas e novas tecnologias que integram a nova agricultura, é preciso focar no solo. A nova agricultura trata do cultivo da cana sob um novo mais sustentável, com foco na agricultura de baixo carbono, no sistema radicular e no melhor aproveitamento das riquezas do solo.
Para falar sobre a produção de cana-de-açúcar rumo a uma agricultura de baixo carbono e uma nova era na agricultura canavieira, o Grupo IDEA reuniu renomados especialistas do setor para o seminário on line “A nova agricultura canavieira”, que focou diferentes temas em torno do solo e a otimização da produção de cana, apresentando técnicas, produtos e tecnologias que contribuem para a sustentabilidade agrícola.
“Organizamos este evento para que todos saibam quais são as novas tecnologias que estão revolucionando a produção canavieira e gostaria de destacar que para alcançar altas produtividades, precisamos começar olhando para o solo, pois se ele é saudável, há produção eficiente e há vida produtiva para qualquer cultura”, disse o CEO do Grupo IDEA Dib Nunes.
Importância da sistematização e conservação do solo para a nova agricultura canavieira
É importante dar ao solo as melhores condições de uniformidade de preparo, da microtopografia, de infiltração das águas, proporcionando às operações mecanizadas uma menor interrupção por manobra, obstáculos e minimizar o efeito compactação. “Objetivamos com a sistematização e conservação do solo e água, ganhos agronômicos tanto na qualidade naquilo que fazemos e dos produtos que obtemos no caso a cana, como também em produtividade. Esse conjunto de técnicas operacionais, agronômicas e conservacionista, com o uso de técnicas disponíveis, nos dá condições de fazer uma nova agricultura mecanizada”, pontuou o produtor de cana e consultor, Luiz Carlos Dalben.
Dalben: “Diferente de um grão de soja, trigo, amendoim ou milho, onde tem o plantio todo ano dessas culturas, a cana tem que ser preservada porque o plantio é caro”
Controle de tráfego - Nos últimos anos, a mecanização passou a ser mais intensa, as máquinas atualmente são mais pesadas do que as que faziam o carregamento no passado. Houve um aumento na compactação do solo com essa nova mudança e uma degradação física e biológica do solo e, em alguns casos, uma redução de produtividade. O controle do trafego visa minimizar todos esses efeitos. “Temos tecnologias disponíveis que começam na análise do solo independente do tipo de preparo que utilizamos, hoje o mapeamento via satélite e o direcionamento de todas as operações nesse sentido, desde o preparo de solo, são muito importantes para a cana, principalmente visando à compactação. Atualmente não dá para trabalhar com plantio e colheita mecanizada visando ter qualidade e rendimentos sem que se tenha todo o mapeamento via satélite, uso de GPS, piloto automático, nos seus equipamentos, na sua propriedade. Isso é uma condição muito importante”, chamou a atenção o consultor.
Um canavial produtivo e resistente à seca
Produzir cana sem água ou com o mínimo de água, principalmente sem irrigação num ano como foi 2020 e como foi o início de 2021, é algo difícil, impossível? Para o produtor de cana Ricardo Delarco, não! “É preciso sair do convencional e fazer algo para o canavial aguentar o estresse hídrico. Em épocas secas, quando é preciso produzir com a falta de água, é necessário fazer um alicerce, um preparo, melhorar o solo e o perfil onde estão as linhas da cana. Produzir cana com pouca água sem irrigação só tem uma maneira, investir no tripé - preparo físico, químico e biológico do solo”, afirmou Delarco, que ainda destacou que a cana não é igual soja ou milho, ela necessita de um preparo mais profundo, localizado. “É preciso corrigir o perfil da cana no sulco onde as raízes vão descer, pois o que ela quer é matéria orgânica, cálcio, magnésio, fósforo. Planta de cobertura significa matéria orgânica, maior quantidade de teores de nutrientes para que o solo fique mais desejável para a cana e microrganismos benéficos. No meu caso uso Microgel”, também aconselhou o produtor. “Pensem muito bem no preparo do solo porque senão vão ficar em 70/80 toneladas por hectare para o resto da vida. Se não tiver um preparo físico, químico e biológico de forma correta, linha por linha em profundidade, não vai adiantar nada. Não façam o mesmo e verão como isso vai mudar e por um custo menor”, assegurou Delarco
Palha benefício ou problema?
Os estudos do IDEA comprovam que praticamente cada corte de cana deixa no solo quase 13 toneladas de cana por hectare e essa palha traz várias interferências na produtividade agrícola da cana. Ou seja: aumento da incidência de cigarrinhas, Sphenophorus e Colletotrichum; seleção de novas espécies de plantas daninhas; redução do efeito de herbicidaaumento da suscetibilidade a geadas; aumento da necessidade de nitrogênio; abrigo para mosca dos estábulos, risco de incêndio – como tivemos no ano passado e várias áreas com problemas sérios de incêndios.
Na ocasião, o gerente de marketing da DMB Implementos Agrícolas, Auro Pardinho, destacou que a empresa tem a solução para minimizar ou até reduzir essas interferências que é o Incorporador de Palha e que pode ser utilizado logo após a colheita da cana. O equipamento aplica o calcário em profundidade e melhora a qualidade do sulco de plantio.
Uso de Giberilina para ganhar produtividade
Giberilina, conhecida no Brasil como ProGibbi, foi descoberta no Japão. Plantas doentes cresciam mais do que as sadias e os japoneses descobriram que tinha um fungo que, quando atacava as plantas, promovia um crescimento maior do que nas demais. Não demorou muito, descobriram um grupo de hormônios vegetais naturais responsáveis por alongamento celular que estimulava a divisão celular, acelerava o crescimento e o desenvolvimento, aumentava o tamanho de frutos, flores e uniformizava a maturação. Surgiu então a Giberilina e uma empresa japonesa isolou o produto e criou o ProGibb, que é o regulador de crescimento vegetal, talvez o mais utilizado no mundo porque é conhecido em diversas culturas. Pode ser utilizado em flores, pastagens, frutas, café e faltava o trabalho em cana-de-açúcar.
“A Giberilina da excelentes respostas com apenas uma aplicação"
“Quando fizemos os primeiros trabalhos em cana-de-açúcar, tivemos uma grata surpresa, percebemos que promovia o alongamento do colmo através do aumento no comprimento das células dos tecidos jovens. Além disso, a planta não perdia diâmetro e continuava crescendo”, comentou o CEO, do grupo IDEA Dib Nunes, ao apresentar sua experiência com o uso de Giberilina nos ganhos de produtividade.
De acordo com Dib, foram feitos centenas de experimentos de Giberilina em cana. Um dos trabalhos trouxe uma resposta interessante em doses crescentes do ProGibb. Foi observado que a melhor resposta acontecia com a dose atualizada de 7,5 grs do produto comercial por hectare. Esse trabalho feito pelo professor Fernando Tadeu Carvalho, da Unesp, de Ilha Solteira, mostrou que o melhor tratamento, talvez o mais econômico, foi aplicar apenas uma dose do ProGibb quando a testemunha teve 78 toneladas, a área tratada com ProGibb a 7,5 grs produziu 95,5 (17,54% de ganho). Isso veio comprovar todos os trabalhos feitos no campo.
“Sabemos que o produto dá resposta na cana quando aplicado no melhor período de crescimento dela. Agora estamos passando por um período ótimo de crescimento e, coincidentemente este ano, tivemos uma trava no crescimento da cana devido à intensa seca que tivemos no ano passado. Esse talvez seja um dos anos mais ideais para se utilizar ProGibb”, destacou Dib.
A infestação de plantas daninhas na cultura de cana-de-açúcar
Um dos problemas dentro da cultura da cana-de-açúcar é a necessidade do manejo de plantas daninhas. A realização desse manejo é fundamental para obter índices de produtividade adequados porque a planta daninha reduz a produtividade em até 50% ou mais e dificulta a colheita mecanizada e o rendimento operacional em mais de 20%. “Dentro de uma unidade de produção precisamos trabalhar com um manejo de plantas daninhas de forma eficaz para reduzir perdas de forma econômica para que tenhamos produtividade e sustentabilidade do sistema de produção”, disse o pesquisador e consultor, Pedro Christoffoleti. Mas como fazer isso? Segundo ele, através do manejo integrado.
Christoffoleti: “Precisamos urgentemente de metodologias para que tenhamos uma nova agricultura canavieira com sustentabilidade”
“É preciso integrar práticas desde o manejo varietal, espaçamento de práticas culturais, uso da palhada de forma adequada, e também do aproveitamento da rotação de cultura, da meiose, do uso de culturas em rotação para que possamos suprimir o desenvolvimento das plantas daninhas, mas mesmo com tudo isso, precisamos do herbicida. Para o herbicida, principalmente em função do seu custo, precisamos de recomendações assertivas e baseadas em informações confiáveis”, chamou a atenção.
Para Christoffoleti, a informação mais difícil de obter dentro de uma unidade de produção para conseguir uma recomendação confiável é saber qual planta daninha infesta a área e seu nível de infestação. “É evidente que para recomendar assertivamente um herbicida precisamos saber que planta daninha temos na área e essa informação depende de maneiras de como fazer isso”.
Inovando no manejo de plantas daninhas
Uma área maltratada que tem escape de plantas daninhas pode afetar principalmente áreas com folhas largas, prejudicar a colheita, ter aumento do banco de sementes do solo e impacto direto em produtividade. A UPL apresentou um equipamento para gestão de plantas daninhas e monitoramento, o Fly Up, que é um mapeamento inovador. Ele funciona como uma ferramenta de monitoramento, de observação aérea de plantas daninhas nos canaviais, além de dar atenção ao monitoramento de falhas e perdas nas áreas de plantio.
Uma aliada para a sustentabilidade agrícola
O Brasil conta com uma agricultura de ponta, que procura ser reconhecida cada vez mais não só pela sua capacidade de produzir comida, carnes e fibras, mas também por conseguir isso respeitando o meio ambiente. A Embrapa Cerrados desenvolveu a BioAS (bioanálise de solo) e a pesquisadora, doutra da Embrapa Cerrados, Ieda de Carvalho Mendes, participou do evento para falar sobre essa tecnologia. De acordo com ela, a BioAS envolve bioindicadores selecionados, com níveis críticos definidos em tabelas de interpretação, que permitem ao agricultor monitorar a saúde do solo sabendo exatamente o que avaliar e como interpretar o que foi avaliado, além de outras questões que envolvem qualidade e saúde do solo.
“Até julho do ano passado, basicamente o que tínhamos em análise de solo eram os aspectos relacionados à parte de química e física. Havia uma grande lacuna nas nossas análises que era exatamente a ausência do componente biológico e a biologia é a base da vida do solo. Felizmente essa situação mudou, com o lançamento dessa nova tecnologia bioanálise de solo conseguimos agora através da análise de duas enzimas a Beta-Glicosidase e a Arilulfatase, associadas aos ciclos do enxofre e do carbono, respectivamente, acessar a memória do solo e avaliar a saúde dele”, afirmou Ieda.
De acordo com a pesquisadora, essa tecnologia possibilita o agricultor saber se seu solo está saudável ou doente, é como se fosse um exame de sangue do solo, que permite detectar problemas assintomáticos antes que eles resultem em perdas de rendimento de grãos nas lavouras. “A grande vantagem é que as enzimas são mais sensíveis que os indicadores químicos e físicos, detectando com maior antecedência alterações que ocorrem na saúde do solo, em função do seu uso e manejo”, disse.
Ieda:“Todo solo saudável é produtivo, mas nem todo solo produtivo é saudável”
Os procedimentos de amostragem para a aplicação da BioAS são semelhantes aos adotados quando o solo é coletado para análises químicas. A única coisa que muda é que, nessa tecnologia, é imprescindível que a profundidade de amostragem seja de 0 a 10 cm, porque esta é a camada diagnóstica. A época de coleta deve acontecer após a colheita das lavouras. Em áreas sob cultivos anuais, são feitas múltiplas coletas em linhas e entrelinhas do último cultivo para formar amostras suficientes do espaço (gleba, talhão etc.). Nos laboratórios de análise de solo, a terra coletada deve ser seca ao ar e passada em peneira com malha de 2 mm.
Atualmente, essa tecnologia de bioanálise de solo está totalmente calibrada e formatada para o bioma Cerrado para as áreas de cultivos anuais de grãos e algodão, mas segundo a pesquisadora, a próxima versão da BioAS terá tabelas para o Paraná na parte de cultivo de anuais. Ieda ainda destacou “esperamos que daqui a uns dois anos possamos conseguir a BioAS cana, café, pastagens e eucalipto. Queremos expandir essa tecnologia”.
Faz parte da tecnologia BioAS um componente muito importante que é o modo de interpretação da qualidade de solo – isso é uma interface web que conecta os laboratórios comerciais de análise de solo aos servidores da Embrapa. “Todos os laboratórios comerciais que fazem parte dessa rede Embrapa de BioAS de bioanálise de solo, se conectam aos nossos servidores e à medida em que eles nos enviam os resultados das determinações de atividades enzimáticas feitas por eles nós automaticamente interpretamos esses resultados e calculamos o índice de qualidade de solo. Então, hoje é muito interessante, porque além de receber os valores das determinações de análise de rotina de solo, estamos incluindo as duas enzimas, a Beta-Glicosidase e a Arilsulfatase, e estamos devolvendo valores de índice de qualidade do solo integrando todos esses parâmetros”.