A nova era do Consecana
14/06/2019
Cana-de-Açúcar
POR: Revista Canavieiros
Atualização do Consecana-SP foi baseada na heterogeneidade existente na canavicultura
Por: Marino Guerra
Heterogeneidade, talvez essa seja uma das palavras mais utilizadas no mundo agrícola nos dias de hoje. Diferente da modernização industrial, que busca adequar tudo em processos cada vez mais padronizados, a concepção de uma operação agropecuária moderna está em conhecer cada fazenda, se possível cada talhão, e nele adotar a melhor prática para produzir mais e gastar menos.
Sob este aspecto, se torna impossível desenvolver um sistema de formação de preço e pagamento padrão que menospreze essas questões pontuais.
Um exemplo que prova essa tese é o método de formação de preço e pagamento de cana com base em um padrão do Estado de São Paulo, mais conhecido como Consecana-SP. De longe, esse é o sistema mais eficiente para determinar o valor da matéria-prima, mas por ter ficado muito tempo rígido começou a perder o seu protagonismo de outrora, fazendo com que voltassem à tona as negociações individuais entre a unidade industrial e o fornecedor.
Esta manifestação de mercado ganhou peso nos últimos anos, direcionando líderes e representantes de ambas as classes a dedicarem esforços com o objetivo de encontrar uma solução ao cálculo que atendesse às peculiaridades de cada relação de fornecimento.
Finalmente, depois de um trabalho que durou mais de quatro anos, a primeira revisão do sistema, respeitando essa necessidade foi publicada. Nela, surge a premiação para aqueles fornecedores que entregarem a matéria-prima com um índice de impureza menor que a média da unidade industrial.
Os detalhes da solução e também outras novidades que surgiram na histórica circular do dia 25 de março serão descritos nos textos seguintes que fazem parte dessa reportagem de capa. No entanto, ao prestar atenção nos aspectos relacionados à conjuntura do setor, importantes conclusões podem ser feitas de maneira muito clara.
A primeira é a sensação de que o gelo finalmente foi quebrado e com isso outras medidas, e a própria adequação dessas conforme o tempo, deverão surgir com mais frequência. É até mesmo inconcebível imaginar uma atualização com um intervalo mínimo de cinco anos em plena época de revolução da informação, ainda mais em um momento importante para o setor, que consegue cada vez mais ampliar o leque de seu portfólio, agregando produtos para além dos tradicionais açúcar e etanol.
Aliás, esse será um assunto discutido e que deverá ganhar intensidade ao longo deste ano, inclusive já foi comentado, ainda de maneira tímida, nessa circular. Trata-se do RenovaBio, que terá definido o cálculo de participação do fornecedor somente em 2020, quando este estiver 100% implantado e com todas as regras definidas. Porém, uma coisa é certa: a organização dos dados do fornecedor valerá dinheiro.
Uma segunda constatação está relacionada ao real papel do Consecana-SP na formação do preço. Ele deixará de ter a função de formulador único de precificação e, ao ganhar maior flexibilidade no sentido de atualização, assumirá um posto de referência, algo fundamental para a indicação de um valor mínimo de remuneração. Sendo assim, a conta final estará totalmente vinculada ao poder de geração de valor do fornecedor frente à unidade industrial.
Sendo essa a terceira constatação e quem não conseguir configurar sua operação nesse sentido, dificilmente terá uma remuneração suficiente para se manter no negócio, mesmo que sua terra esteja ao lado da moenda.