Alta do dólar chega com mais força à inflação de alimentos

19/11/2015 Açúcar POR: Folha de S. Paulo
O empresário Roger Agnelli, que presidiu a Vale por dez anos e deixou a companhia em março de 2011, vai congelar seu projeto de exploração de cobre no Chile por alguns meses, até ter clareza sobre a recuperação dos preços da commodity no mercado internacional. Agnelli, que também fez carreira como executivo do Bradesco, tornou-se sócio do BTG Pactual, do banqueiro André Esteves, na companhia B&A, criada em julho de 2012 para explorar oportunidades no mercado de mineração no Brasil, na América Latina e na África.
Em três anos e meio, Agnelli mapeou diversas oportunidades de negócios em vários países, mas só levou adiante dois projetos com a B&A: investimento na área de fertilizantes no Pará e de exploração de cobre, no Chile, maior produtor e exportador da commodity. Ele só não contava com a queda vertiginosa dos preços da commodity no mercado internacional. O cobre, cotado a US$ 4,6 mil a tonelada, atingiu neste ano sua mais baixa cotação desde a crise global de 2008.
Em entrevista ao Estado, Agnelli, que fundou no início de 2012 a holding AGN, que atua em mineração e fertilizantes, por meio da B&A, e também em bioenergia, mas sozinho, disse que segue otimista em relação ao mercado de mineração. Neste momento, contudo, está revisando o projeto do Chile, onde a B&A adquiriu uma mina para explorar o cobre. Neste projeto, o aporte foi entre US$ 80 milhões e US$ 90 milhões. "O projeto é bom e de baixo custo, mas nenhum é viável com esse atual preço", disse.
O foco de Agnelli está concentrado no projeto de fertilizantes no Pará, em Bonito (a 150 km de Belém), onde foram investidos entre US$ 50 milhões e US$ 60 milhões na produção de fertilizante à base de fosfato. A fábrica, inaugurada em fevereiro, começou aos poucos a produção no mês passado e tem capacidade para 150 mil toneladas por ano. O Brasil produz cerca de 9,5 milhões de toneladas por ano e é altamente dependente de importação do insumo.
Divergências
O Estado apurou que Agnelli estaria enfrentando problemas com seu sócio BTG, uma vez que o banco não está participando do dia a dia do negócio e não estaria disposto a fazer mais aportes nos projetos. Agnelli nega veementemente problemas com seu sócio e diz que o momento do setor está complicado, mas que em até seis meses haverá maior clareza dos rumos desse mercado. Procurado, o BTG não comenta o assunto.
Outra aposta de Agnelli é em cana, que toca sozinho. A AGN Bioenergia tem investido em plantio de cana mais produtiva para ser vendida às usinas para produção exclusiva de etanol e de bagaço para cogeração de energia, mas que ainda não é viável comercialmente.
Mônica Scaramuzzo
O dólar começa a ter um impacto mais intenso nos preços dos alimentos. O peso da elevação da moeda norte-americana auxiliou na alta do custo médio da alimentação, que atingiu 1,7% na segunda quadrissemana deste mês (últimos 30 dias acumulados até a segunda semana de novembro).
Os dados são da Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas) e se referem à cidade de São Paulo.
Ao registrar essa taxa, o grupo dos alimentos teve a maior elevação em 30 dias desde abril do ano passado.
O dólar provocou alta tantos no produtos que o país importa como nos que exporta. O trigo, por exemplo, um produto cuja dependência externa chega a pelo menos 50% do que o país consome, está gerando custos maiores nas importações.
O resultado foi que os preços médios do pão francês tiveram alta de 1,4% na segunda quadrissemana deste mês, uma pressão que não ocorria com tanta intensidade no acumulado de 30 dias desde julho de 2014.
Mesmo nos produtos em que o país é líder em exportações, os preços ficaram mais altos com a valorização do dólar. Mais competitivos no mercado externo, esses produtos subiram também em reais, apesar da queda dos valores externos.
É o caso da soja, que está com tendência de baixa na Bolsa de Chicago, mas mantém preços elevados em reais no mercado interno.
O preço do produto em grão puxou o valor do óleo de soja, cuja alta acumulada na quadrissemana foi de 3,2%. Desde março de 2013 o consumidor não tinha um reajuste tão acentuado para esse produto.
O grande salto foi dado, no entanto, pelo açúcar, cujo preço teve valorização de 7% nos supermercados nos últimos 30 dias, segundo a Fipe.
Havia cinco anos não ocorria uma correção de preços do açúcar tão acentuada na quadrissemana conforme a última registrada pela Fipe.
Além do reajuste em reais, o produto teve valorização também em dólares, devido às estimativas de um consumo mundial superior ao da oferta.
O cenário externo para o açúcar muda uma tendência dos últimos anos, quando o produto teve forte queda nos preços internacionais porque a oferta sempre foi maior do que a demanda pelo produto.
Para o próximo ano, a produção mundial voltará a ser inferior ao volume que será consumido, segundo estimativas do mercado.
As carnes, devido a uma recuperação das exportações nos últimos meses e à menor oferta de animais prontos para o abate, também subiram internamente. A alta da bovina foi de 1,4%, e a de frango, de 4%.
Os produtos que não estão ligados às exportações, mas pressionados pelos custos internos de produção -como gasolina, diesel e energia-, também sobem. Os legumes ficaram 7% mais caros, enquanto a frutas subiram 5%, e as verduras, 2,5%.
O consumidor começa a ter alívio, no entanto, no preço do leite. A produção aumentou, e os preços pagos aos produtores começam a cair, uma queda que chega às gôndolas dos supermercados. 
*Texto extraído da Coluna Vaivém da Folha de S. Paulo
Mauro Zafalon