Cana-de-açúcar - desenvolvimento econômico, social e ambiental
17/01/2014
Cana-de-Açúcar
POR: Marcos Fava Neves, Rafael Bordonal Kalaki, Tássia Gerbasi e Mairun Junqueira Alves Pinto | Jornal da Manhã
Para avaliar o quanto a chegada de novas usinas dinamiza a atividade econômica, ambiental e social de uma região, foi feita uma análise sobre o impacto ocorrido no município de Uberaba, no estado de Minas Gerais, durante os últimos anos. Minas Gerais é o terceiro maior estado produtor de cana-de-açúcar do País, com uma participação de 8,7% (Sapcana, 2013). Já o município de Uberaba é o maior produtor mineiro, com uma participação de 10,7% na moagem estadual.
A sua área plantada é de 80 mil hectares (Canasat, 2013), com uma produção de cana de 5,26 milhões de toneladas. No município de Uberaba, estão instaladas duas agroindústrias sucroenergéticas: a Usina Uberaba e a Usina Vale do Tijuco. O Grupo Delta tem instaladas três unidades nos municípios de Delta, Conquista e Conceição das Alagoas, que também dependem da cana cultivada no município de Uberaba. Juntas, as cinco unidades moeram 13,2 milhões de toneladas de cana na safra 2012/13.
A região adota um modelo de produção que prioriza o desenvolvimento por meio de ganhos múltiplos, com a valorização dos produtores rurais. Da quantidade de cana moída, cerca de 42% vêm de fornecedores independentes; 48%, de parceria agrícolas, e 10%, de áreas próprias das usinas. Esse modelo gera renda para o fornecedor de cana (o parceiro agrícola), além de permitir que as usinas tenham melhor planejamento e ganhem eficiência nas operações. Ou seja, são três agentes ganhando e se beneficiando nesse contexto.
Os dados primários foram obtidos mediante entrevistas em profundidade com diversos agentes econômicos da cadeia produtiva, como os colaboradores das usinas Delta, Vale do Tijuco e Uberaba, o presidente do Sindicato Rural, o secretário de Meio Ambiente, o secretário de Agricultura, produtores independentes de cana, o Senar, o Senai, o Sebrae, a Associação Comercial e Industrial, entre outros. Já a coleta de dados secundários ocorreu por meio de desk research e análise de documentos das associações, sindicatos, usinas, Prefeitura, entre outros.
No âmbito das contribuições sociais, devem ser destacados alguns avanços proporcionados, como os empregos gerados, a qualificação da mão de obra e a melhoria nos salários e na distribuição de renda. Somente em 2012, mais de 80% dos cursos realizados pelo Senar foram para o setor de cana. Em oito anos, o setor gerou na região mais de 2.000 postos de trabalho. A média salarial anual saiu de R$13.000 por funcionário, em 2005, para R$40.596, em 2013, ou seja, um aumento de 217% - mais do que o triplo.
As questões ambientais também foram beneficiadas. Atualmente, a colheita é 100% mecanizada. As rigorosas fiscalizações ambientais às quais as usinas são submetidas são um atestado das boas práticas promovidas no setor. Anteriormente à implantação das usinas, foi necessária a realização de estudos para avaliar os impactos ambientais que as mesmas trariam. Isso resultou nas chamadas "áreas poligonais", onde cada usina deve exercer a sua atividade, sem a ocorrência da superexploração dos recursos naturais e com a garantia da diversidade agrícola.
A expansão da cana-de-açúcar não prejudicou a produção de outras atividades agrícolas, já que a sua entrada deu-se, principalmente, sobre áreas de pastagens e uma menor parte, sobre áreas de cultivo de grãos. Os aumentos de produtividade foram evidentes em todas as atividades, assim como a inserção do conceito de sustentabilidade na região.
Quando se analisa o município sob a ótica do desenvolvimento, cabe considerar todos os setores em atividade além do sucroenergético. Assim, no período de 2001 a 2012, o aumento verificado na receita, da ordem de 270%, possibilitou maiores investimentos pela administração pública municipal em educação, saúde, hotéis, restaurantes, segurança, entre outros.
A arrecadação do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) e o Imposto sobre Serviços (ISS) aumentou, respectivamente, em 240% e 676%. A receita per capita de Uberaba saltou de R$603, no ano de 2001, para R$1.871, em 2012, um crescimento em torno de 210%. Este incremento econômico é refletido claramente no desenvolvimento da economia e do comércio local, tendo crescido as vendas em supermercados, lojas de varejo, eletrodomésticos, restaurantes, bares, entre outros. No final, a cadeia sucroenergética da região de Uberaba movimentou cerca de R$3,3 bilhões na economia local apenas na última safra contabilizada.
Esses recursos que passam nas mãos da população, do comércio e dos municípios vizinhos são reinvestidos novamente em saúde, educação, no próprio comércio etc. Enfim, trata-se de uma movimentação financeira altamente benéfica para o município e a microrregião. Então, a título de conclusão, a chegada da cana-de-açúcar e dos grupos agroindustriais a Uberaba trouxe consigo maior geração de empregos, capacitação da mão de obra, diversificação de culturas e aumento da produtividade das propriedades rurais. Outros benefícios vieram com a maior valorização da terra, desenvolvimento socioambiental e aquecimento da economia local, com maior distribuição de renda. Vale destacar que tudo isso não se restringiu ao município de Uberaba, pois também gerou externalidades positivas nas pequenas cidades pertencentes à sua microrregião. Para os formuladores de políticas públicas, um exemplo de desenvolvimento evidente, de um setor que precisa ser incentivado, em função do seu potencial de oferecer melhorias para a população.