Luiz Silveira
Um estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista científica internacional Global Change Biology – Biofuels mostrou que as emissões diretas de gases do efeito estufa pela cana-de-açúcar são bem menores do que se estimava anteriormente. Até agora, os cálculos eram feitos com base em modelos matemáticos, mas o trabalho coordenado pela professora Janaína Braga do Carmo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi de estudos de campo.
Luiz Silveira
Um estudo de pesquisadores brasileiros publicado na revista científica internacional Global Change Biology – Biofuels mostrou que as emissões diretas de gases do efeito estufa pela cana-de-açúcar são bem menores do que se estimava anteriormente. Até agora, os cálculos eram feitos com base em modelos matemáticos, mas o trabalho coordenado pela professora Janaína Braga do Carmo, da Universidade Federal de São Carlos (UFSCar) foi de estudos de campo.
Os resultados agora poderão nortear novas pesquisas e estimativas do balanço ambiental da cana e do etanol. A descoberta mais importante dos cientistas brasileiros é que, na maior parte dos casos, a cana emitiu um fator inferior a 1% de óxido nitroso, um dos piores gases do efeito estufa. “acredito que valores de fatores de emissão até 1,5 % são bem razoáveis para as regiões tropicais”, avalia Janaína.
Um dos trabalhos mais respeitados nessa área, coordenado pelo ganhador do Prêmio Nobel de Química Paul Crutzen em 2008, calculava matematicamente que o fator de emissão de óxido nitroso pela cana seria de mais de 3%. O óxido nitroso é um gás de efeito estufa quase 300 vezes mais potente que o dióxido de carbono. A sua emissão no processo produtivo do etanol é decisiva para calcular quanto o biocombustível é ambientalmente melhor que os derivados de petróleo, o que pode interferir, por exemplo, na definição e políticas públicas para o setor.
“Como as afirmações de Crutzen e seus colaboradores não podiam ser verificadas sem dados reais de campo provenientes do Brasil, que não existiam até a publicação do nosso artigo, decidimos realizar esse trabalho para fornecer dados de campo do maior produtor de cana no mundo e assim serem usados na validação e verificação de diferentes estimativas de fatores de emissão”, explica a coordenadora da pesquisa.
Nas medições, realizadas em canaviais nas cidades paulistas de Jaú e Piracicaba, os cientistas encontraram fatores de emissão de até 0,68%. “Considerando os resultados dessa pesquisa, podemos dizer que hoje temos dados confiáveis de dois experimentos de campo onde calculamos os fatores de emissão relacionados aos fertilizantes usados (ureia e nitrato de amônio) e vimos que eles não são tão altos como imaginávamos inicialmente”, conclui Janaína. Os cálculos levam em conta apenas as emissões diretas pelo uso de fertilizantes. O estudo de Crutzen incluía na soma as emissões indiretas que, segundo Janaína, significavam cerca de 0,5%.
No entanto, as emissões foram maiores quando a cana foi fertilizada com vinhaça e torta de filtro (resíduos da produção de etanol ricos em fertilizantes) e havia grande quantidade de palha de cana no solo. A maior medição realizada pela equipe foi de um fator de emissão de 3,03%, quando foram usados os dois resíduos e havia 21 toneladas de palha por hectare no solo.
Segundo Janaína, são necessários mais estudos de campo, de alta complexidade técnica e alto custo, para definir melhor como a vinhaça, a torta de filtro e a palha interferem na emissão de gases do efeito estufa. Mas a solução, para ela, está em melhorar o manejo, e não em deixar de contar com esses elementos nos canaviais. “A presença da palha é muito importante para a conservação do solo e da água, além do benefício ambiental de não ser queimada. No nosso estudo a presença da palha só contribuiu com valores elevados dos fatores de emissão quando havia mais de 14 toneladas de palha por hectare e quando foi aplicada a vinhaça”, ressalta ela, que acredita que quantidades de palha de até 10 toneladas por hectare não geram grandes influências nas emissões dos gases.
Da mesma forma, a vinhaça e a torta de filtro são resíduos ricos em fertilizantes, que não devem ser desperdiçados. “Acredito que novas alternativas de manejo para a aplicação da vinhaça, como a sua concentração, terão que surgir, uma vez que se trata de um resíduo extremamente rico em matéria orgânica, potássio e outros nutrientes. Por isso, pode ser considerada um fertilizante e não deve ser ignorada do ponto de vista econômico e muito menos ambiental”, defende a professora.
Apesar da importância desse estudo, Janaína já pensa nos vários próximos experimentos necessários para calcular, com base em dados de campo, o balanço real das emissões e captações de gases do efeito estufa na produção de etanol.
O projeto coordenado por Janaína foi financiado pela Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp), além do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes).