Na economia mundial e brasileira
• A inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) fechou o mês de maio com alta de 0,23%, um valor abaixo do previsto, sendo 0,38 p.p. inferior ao registrado em abril, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). O percentual atingiu o menor nível desde agosto de 2020, salvo as deflações ocasionadas em meados de 2022 pela desoneração de impostos sobre os combustíveis. O acumulado nos cinco primeiros meses do ano foi de 2,95%, enquanto nos últimos 12 meses alcançou 3,94%.
• Já as previsões econômicas divulgadas pelo Banco Central por meio do Boletim Focus, em 19 de junho, indicam um IPCA de 5,12% (baixa em relação ao mês passado) para 2023 e 4,00% (queda) em 2024. Para o Produto Interno Bruto (PIB), o órgão estima um crescimento de 2,14% (alta mensal) neste ano e, em contrapartida, um avanço menor para 2024 de 1,20% (baixa). O câmbio deve encerrar 2023 em R$ 5,00 (baixa), e 2024 em R$ 5,10 (queda). Por último, para a taxa Selic, a perspectiva é de 12,25% ao final deste ano e 9,50% no fim de 2024, queda em ambos os períodos na comparação com a previsão do mês anterior. As alterações nas previsões para a economia vieram após o anúncio de crescimento do Produto Interno Brasileiro (PIB) acima das expectativas do mercado no 1º trimestre: 1,9%. O resultado foi puxado pelo grande crescimento do setor agropecuário, de 21,6% no período.
No agro mundial e brasileiro
• O Índice de Preços dos Alimentos da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) alcançou uma média de 124,3 pontos em maio, configurando queda de 2,6% no comparativo com abril e redução de 22,1% em relação ao recorde histórico de março do ano passado. Essa pontuação é a mais baixa em dois anos (desde abril de 2021). A retração foi puxada principalmente pela queda significativa nos preços dos óleos vegetais, laticínios e grande parte dos cereais. O último recuou 4,8% em relação a abril, liderado pela baixa expressiva de 9,8% no milho por conta das previsões favoráveis à produção, demanda mais tímida e cancelamentos de compras chinesas do cereal americano. Além disso, as cotações do trigo caíram 3,5% em função da extensão da Iniciativa de Grãos do Mar Negro. Esses números superaram as altas do açúcar (5,5%), arroz e carnes (1,0%).
• Na previsão de junho (2ª) do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), a produção global de milho em 2023/24 foi revista para cima em 3,15 milhões de t: de 1,219 bilhão em maio para 1,222 bilhão agora em junho. A alta é justificada, principalmente, pela revisão dos números da Ucrânia, de 22,0 (maio) para 24,5 (junho) milhões de t. Demais países de importância global permanecem com os mesmos valores: EUA devem produzir 387,5 milhões de t (+11,2%); China, 380,0 milhões de t (+1,0%); Brasil com 129,0 milhões de t (-2,3%); e Argentina com 54,0 milhões de t (+54,3%). Com o crescimento na produção, os estoques foram também revistos para cima, agora estimados em 314,0 milhões de t; 1,0 milhão de t a mais que o mês passado e crescimento de 5,5% na comparação com a safra anterior.
• Ainda sobre o milho, vale destacar que o USDA reviu para cima a oferta do cereal na safra 2022/23 no Brasil, ainda em andamento. A nova previsão é de 132,0 milhões de t neste ciclo, alta de 13,8% ou 16 milhões de t adicionais na comparação com 2021/22.
• Na soja, o USDA estimou uma produção global praticamente igual a do mês passado para 2023/24: 410,7 milhões de t, apenas 115 mil t maior do que a estimativa de maio e 11,1% superior ao ciclo anterior. O Brasil segue com 163,0 milhões de t (+ 4,5%), seguido de Estados Unidos com 122,7 milhões de t (+ 5,5%) e Argentina com 48,0 milhões de t (+ 92,0%); todos eles sem alteração deste o último relatório. Já os estoques globais da oleaginosa foram revistos para cima em 842 mil t e estão agora apontados em 123,3 milhões de t, 21,7% maior do que 2022/23 ou 22,0 milhões de t adicionais.
• No algodão, uma leve alta na estimativa da produção global: estava em 25,189 milhões de t (maio) e foi a 25,413 milhões de t (junho). Se confirmada, a produção será apenas 0,3% superior do ciclo passado, configurando uma relativa estabilidade na oferta. Segundo o USDA, China, Índia e Estados Unidos (os três principais produtores) devem produzir 5,88 (- 12,0%), 5,55 (+ 2,0%) e 3,59 (+ 14,0%) milhões de t, respectivamente. No Brasil, a produção foi revista para cima em 224 mil t este mês, e agora deve ser de 1,29 milhão de t, alta expressiva de 51,4%. Estoques finais devem permanecer praticamente no mesmo patamar de 2022/23, em 20,20 milhões de t.
• Nos Estados Unidos, após alguns dias sem chuvas em regiões produtoras, as condições das lavouras de grãos começam a chamar a atenção. No milho, até 18 de junho, as condições excelentes estavam em 8,0% (era de 13,0% há um ano) e boas em 47,0% (2022: 57,0%). Na soja, 7,0% estavam em nível excelente (2022: 10,0%) e 47,0% em bom (2022: 57,0%). Já as lavouras de algodão se encontram em evolução melhor: 6,0% em condições excelentes (2022: 4,0%) e 41,0% em boas (2022: 36,0%). O acompanhamento é também do USDA. Permanecendo o problema com o clima, é bem provável que ocorram perdas; vamos acompanhar!
• Ainda no cenário internacional, a explosão da barragem da usina de Kakhovka, na Ucrânia, pode ter impacto duradouro na produção agrícola do país. Milhões de t de grãos podem ser perdidos pelas inundações e, ainda, cerca de 500 mil ha de terras ficaram sem irrigação, o que vai afetar diretamente os rendimentos. Além disso, a destruição impediu a navegação em importante rota de exportação agrícola.
• No Brasil, o relatório da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) para o mês de junho aponta um novo recorde de produção para a safra 2022/23 de grãos em 315,8 milhões de t. Esse volume representa aumento de 15,8% frente à temporada anterior, são 43,2 milhões de t a mais. A projeção da área cultivada é 4,8% maior neste ciclo ou 3,6 milhões de ha superior, resultando em um total de 78,1 milhões de ha. O destaque de maior crescimento vai para a soja com 155,7 milhões de t (+24%) ou 30,2 milhões de t acima do colhido em 2021/22.
• No milho, o cenário não é diferente, a projeção é de 125,7 milhões de t (+11,1%) nas três safras ou 12,6 milhões de t a mais, sendo 27,1 milhões de t já praticamente colhidos na 1ª safra, 96,3 na 2ª safra que estão em fase inicial de colheita e 2,3 na 3ª safra. Em ambos os casos, as boas condições climáticas e o bom pacote tecnológico contribuíram para os resultados. Para o algodão, a colheita da pluma é estimada em 2,98 milhões de t, 16,6% maior se comparada as 2,55 milhões de t colhidas no ciclo anterior.
• O Instituto Mato-grossense de Economia Agropecuária (Imea) elevou a projeção para a safra 2022/23 de milho no estado para 48,99 milhões de t (ante os 47 milhões de t previstos em maio), um novo recorde. Em relação a temporada anterior, o crescimento é de 11,74%. A melhor distribuição das chuvas, o grande volume de plantio dentro da janela ideal e o consequente aumento de produtividade foram os principais fatores que contribuíram para o ajuste positivo. O Mato Grosso passa a ser maior que a Argentina!
• Em relação às culturas de inverno, a Companhia estima uma produção de aproximadamente 11,5 milhões de t, sendo 7,4% menor que os 12,4 milhões de t alcançados na temporada 2021/22. Os holofotes apontam para o trigo com um crescimento de 9,7% em área que deve resultar em uma produção de 9,8 milhões de t (-7,4%). É notável o aumento de área em quase todas as culturas desse segmento, no entanto, existe uma expectativa de redução na produtividade para todos os cultivos e, consequentemente, na produção, isto por conta da confirmação do fenômeno climático El Niño, que costuma causar chuvas acima da média na região Sul.
• Falando no assunto, a confirmação da ocorrência de El Niño no Brasil tem preocupado. Segundo a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos Estados Unidos, a probabilidade de ocorrer um evento moderado é de 84% e forte de 56% (chances elevadas na última análise). O fenômeno provoca alterações climáticas de maneira bastante heterogênea. No Brasil, a região Sul do país experimenta precipitação abundante, chuvas intensas e elevações nos níveis de temperatura. Já a faixa norte das regiões Norte e Nordeste é atingida por secas e, consequentemente, elevações nos números de incêndios florestais.
• Na última divulgação da Conab (12/06) sobre as fenologias das lavouras, o algodão estava com 14,9% do cultivo em formação de maçãs; 84,2% já em fase de maturação e apenas com 0,9% colhido (contra 1,6% no ciclo passado), sendo a Bahia e Mato Grosso do Sul os estados mais avançados. Já as lavouras de milho 2ª safra estão com 1,7% do total colhido (Mato Grosso despontando na frente), enquanto na safra 2021/22 esse volume atingia 4,9% do total, isso porque as chuvas no início do plantio podem ter atrapalhado as atividades em algumas regiões produtoras, mas apesar do atraso, o rendimento e a qualidade dos grãos são satisfatórios. Os estádios fenológicos estão com 1,7% em desenvolvimento vegetativo, 8,9% em floração, 40,4% em enchimento de grãos e 47,3% em maturação. Por fim, as operações de colheita do trigo ainda não iniciaram, mas o cultivo em campo está com 46,9% da área semeada, praticamente no mesmo patamar do ano passado.
• Em maio, as exportações do agronegócio brasileiro somaram US$ 16,78 bilhões, alta de 11,2% no comparativo com o mesmo mês de 2022 e uma participação de 50,8% em tudo o que foi vendido pelo Brasil neste mês. Para os resultados em volumes, os destaques positivos foram a soja em grãos com 15,6 milhões de t (+ 46,5%), e o açúcar com 2,41 milhões de t (+ 54,2%). Já os negativos foram o milho, que registrou apenas 382 mil t embarcadas (- 64,8%) – resultado do baixo estoque gerado pela venda externa elevada em meses anteriores – e para a categoria “madeira e suas obras’’, que embarcou 721 mil t (-28,2%).
• O top 5 das categorias com maior receita tem, na liderança, o “complexo soja” com US$ 9,89 bilhões (+ 21,2%), dos quais a soja em grão responde por 82,2% ou US$ 8,13 bilhões (+ 22,9%). Na segunda posição aparecem as “carnes” com receita de US$ 2,10 bilhões (- 5,4%), dos quais: a carne bovina vendeu US$ 952 milhões (- 11,8%); a de frango US$ 854 milhões; e a de porco com US$ 249 milhões (+ 24,1%). Em terceiro, ficaram os “produtos florestais”, com receita de US$ 1,24 bilhão (- 20,8%), seguidos do “complexo sucroalcooleiro” (4º) que somou US$ 1,21 bilhão (+ 81,2%), dos quais US$ 1,14 bilhão advém das vendas de açúcar. Por fim, na quinta posição apareceu o café, que há meses não ficava entre os cinco principais produtos embarcados. O estimulante registrou receita de US$ 604 milhões, baixa mensal de 5,2%.
• Do outro lado da balança comercial, as importações do setor somaram US$ 1,38 bilhão em maio (- 8,7%), o que possibilitou um saldo mensal de US$ 15,4 bilhões. No acumulado de 2023 (janeiro a maio), o agro brasileiro já vendeu US$ 67,3 bilhões (+ 5,8%) e importou US$ 7,08 bilhões (+ 7,2%), o que resulta em um saldo acumulado de US$ 60,2 bilhões até o momento (+5,6%).
• O Valor Bruto da Produção (VBP) Agropecuária para 2023 foi estimado em R$ 1,179 trilhão em junho, 3,8% acima do verificado em 2022 (R$ 1,135 trilhão), mas com queda de R$ 36 bilhões em relação a maio, devido à redução nos preços de vários produtos. Do total, a produção agrícola (lavouras) deve obter um faturamento de R$ 835,5 bilhões (+6,3% que o ano passado) e a pecuária, R$ 343,8 bilhões (-1,85%). A maior protagonista é a soja, que representa 29,3% do total, seguida do milho (12,9%), cana-de-açúcar (9,0%) e café (4,4%). Na pecuária, os bovinos (11,7%) e a carne de frango (7,5%) lideram na participação, mas ao mesmo tempo foram os que mais contribuíram para a retração do segmento, com quedas de -7,3% e -6,0% respectivamente.
• Na área sanitária, até o fechamento da nossa coluna, 39 casos de gripe aviária haviam sido confirmados no Brasil, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). A doença aparece com maior intensidade no Espírito Santo, mas estados como a Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul também registraram casos, felizmente apenas em aves silvestres. Por conta disso, o Brasil é reconhecido como país livre da doença no exterior, uma vez que as granjas comerciais não foram atingidas.
• As obras da Ferrovia Norte-Sul - sistema ferroviário que conecta os portos de Itaqui (MA) ao de Santos (SP) - foram concluídas após mais de 35 anos. Os estados do Mato Grosso, Goiás e Minas Gerais, grandes produtores de commodities agrícolas, vão se beneficiar ganhando competitividade logística para exportar seus produtos, seja pelo litoral da Região Sudeste ou pelo Norte do Brasil.
• Finalizando a nossa análise do agronegócio, na sequência apresentamos os preços dos principais produtos na data de fechamento da nossa coluna. Na soja, a cotação para entrega em cooperativa do estado de São Paulo (FOB) estava em R$ 132,30/sc (60kg) e o futuro em R$ 122,60/sc para mar/2024. No milho, o preço físico era de R$ 55,50/sc e o futuro (FOB) estava em R$ 56,30/sc para ago/2023. Já o milho na B3 (Bolsa Brasileira) era negociado a R$ 71,70/sc para mar/2024. O algodão (base Esalq) estava em R$ 135,01/@ e o sorgo físico fechou em R$ 44,00/sc. Outros preços do agro, de acordo com o Cepea/Esalq, estavam em: boi gordo, R$ 252,95/@; o café arábica em R$ 901,57/sc (60kg); o trigo Paraná em R$ 1.377,99/t; e a laranja para indústria (a prazo) em R$ 43,50/cx (40,8kg).
Os cinco fatos do agro para acompanhar em julho são:
1. As previsões climáticas para acompanhar os efeitos do El Niño no Brasil e seus prováveis impactos nas lavouras agrícolas. Uma vez que as chuvas devem retornar às regiões Sul/Sudeste do país, vamos observar os impactos nos cultivos de inverno, na cana-de-açúcar e em lavouras perenes. No Norte/Nordeste, com maior chance de seca, é essencial olhar para os cultivos de 2ª e 3ª safras em andamento, bem como outras lavouras estabelecidas nesses períodos. Vale lembrar, ainda, que a depender da duração do fenômeno, podemos ver impactos, inclusive, durante a Junho de 2023 95 janela de plantio da safra verão. Vamos acompanhar!
2. Especificamente sobre a 2ª safra de milho no Brasil, a Conab estima que 32,0% das lavouras ainda estão em enchimento de grãos e outros 57,3% já em maturação. É pouco provável que tenhamos grandes impactos do clima nessas áreas, especialmente considerando a fenologia das plantas, mas vale lembrar que as operações de colheita estão se iniciando. Vale observar o andamento e os números em consolidação.
3. No cenário internacional, vamos “grudar o olho” a safra americana de grãos, que segue enfrentando estiagem até o momento. As condições boas das lavouras de soja e milho caíram 4 p.p. em uma semana. Se a falta de chuvas persistir, as estimativas de produção devem ser revistas em breve, impactando o mercado e os preços globais. Ainda no cenário internacional, vale lembrar que os números de produção da Ucrânia foram revistos para cima, mas a intensificação da guerra pode mudar esse cenário.
4. Momento-chave também para ficar de olho no câmbio! Na data de fechamento da nossa coluna, o dólar estava cotado em R$ 4,77, seguindo tendência de queda (como nós estimamos em nossas análises anteriores). Oportunidade para compra de insumos com preços menores e um indicativo do que vem pela frente quanto aos preços das commodities no mercado global.
5. Por fim, vamos olhar para a questão da gripe aviária no Brasil. Felizmente, ainda não tivemos casos detectados em áreas comerciais e/ou de produção de frangos, o que mantém nosso país como livre da doença no mercado internacional.
A partir de julho, começa o período de “emigração” das aves silvestres (principal foco da doença) para outras regiões. Vamos torcer que consigamos passar “intactos”.
Reflexões dos fatos e números da cana em maio/junho e o que acompanhar em julho
Na cana
• A moagem de cana-de-açúcar para a safra 2023/24 na região Centro-Sul totalizou quase 125,4 milhões de t desde o início da temporada até o fim de maio, volume 16,7% maior que o registrado no ciclo anterior, é o que aponta a União da Indústria de Cana-de-açúcar e Bioenergia (Unica).
• Até o fechamento da coluna, 245 unidades estão em operação no Centro-Sul, versus 252 no mesmo período da safra 2022/23. Do total, 231 são para o processamento da cana-de-açúcar, 7 para etanol de milho e mais 7 flex (etanol de cana e de milho).
• Em relação ao ATR, que mede a qualidade da matéria-prima, o indicador alcançou 135,22 kg/t, sendo 5,06% acima do observado no ano passado (128,72 kg/t). No acumulado da safra 2022/23, o valor foi de 124,49 kg/t, uma valorização anual positiva de 1,89%. Enquanto isso, o mix de produção está em 46,88% para o açúcar e 53,12% para o etanol.
• O clima no início da safra 2022/23 de cana-de-açúcar foi bastante favorável ao desenvolvimento das lavouras e recuperação da moagem. No entanto, a chegada do El Niño preocupa os produtores canavieiros, uma vez que apresenta risco para as operações de colheita. Apesar de aumentar as chances de incidência de chuvas na região Sul do país, ele pode se estender para algumas áreas entre São Paulo e Mato Grosso do Sul.
• Para o mercado de CBios, até o dia 12 de maio 13,86 milhões de títulos haviam sido emitidos, segundo dados da B3 (Bolsa de Valores Brasileira). Em torno de 48,4 milhões de créditos de carbono foram adquiridos pela parte obrigada do programa RenovaBio, considerando o estoque de passagem em 2021 somados com os créditos adquiridos em 2022 e 2023.
• O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) estima que novas tecnologias de melhoramento genético, biotecnologia, soluções de plantio e outras técnicas podem elevar em mais de 30% a produtividade dos canaviais até 2040, passando dos atuais 75 t/ha para 100 t/ha. Esse crescimento é capaz de diminuir a expansão de área em torno de 3 milhões de ha, o que equivale a 36% da área a ser colhida na safra atual 2023/24 (8,41 milhões de ha). Além disso, essa evolução pode adicionar 22 milhões de CBios no mercado e garantir uma agricultura mais sustentável.
• A Uisa vai emitir créditos de carbono de suas áreas dentro das reservas legais (RL) e áreas de preservação permanente (APP). Será a primeira operação do setor de cana-de-açúcar no país a gerar esses créditos em relação à preservação florestal (REDD). Embora sejam áreas que a empresa já é obrigada a preservar, A UISA projeta que há demanda para dar mais garantia de proteção.
No açúcar
• Desde o começo do mês de abril, que marca o início da safra, a fabricação de açúcar atingiu 6,97 milhões de t, um aumento de 37,7% no comparativo com o mesmo período de 2022/23 (5,06 milhões de t), de acordo com dados da Unica.
• Na segunda quinzena de maio, o mix de açúcar foi o maior em 17 anos, atingindo 46,9% ante os 43,2% no ano passado. Foram 2,90 milhões de t em 15 dias, segundo a Unica. As usinas estão se movimentando para aumentar a alocação de açúcar em detrimento do etanol, devido à ascensão do preço do adoçante no mercado internacional em função de preocupações com a oferta do produto na Ásia, crescimento do consumo e aumento das probabilidades do El Niño.
• Como consequência do mix mais açucareiro em 2023/24, o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) prevê que o Brasil produza 42,01 milhões de t do adoçante, contra 38,05 milhões de t no ciclo passado, ou seja, um crescimento de 10,4% ou quase 4 milhões de t a mais. No relatório, divulgado em maio, o órgão aponta a produção global em 187,9 milhões de t, 5,9% superior, sendo que Índia e União Europeia deverão ofertar 36,00 (+ 12,5%) e 15,48 (+ 4,0%) milhões de t, respectivamente.
• Mesmo com a alta na produção, o USDA projeta uma retração de 6 milhões de t nos estoques globais de açúcar na safra 2023/24, que devem ficar em 33,46 milhões de t (- 15,2%). Entre os fatores está a elevação no consumo global do produto, que deve totalizar 180,04 milhões de t (+ 2,3%), com 4 milhões de t a mais na comparação com a demanda de 2022/23.
• Em maio, o Brasil exportou 2,16 milhões de t de açúcar, alta de 47,1% ou 693 mil t a mais do que no mesmo mês de 2022. Em termos de receitas, as vendas geraram US$ 1,0 bilhão, 79,5% superior. Com isso, os preços médios dos embarques em maio ficaram em US$ 466,6/t (+ 21,9%). No acumulado de 2023 (janeiro a maio), o nosso país já vendeu US$ 3,29 bilhões (+ 31,9%) e embarcou 7,30 milhões de t (+ 12,0%). Os dados são do Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa).
• A Copersucar, líder mundial na comercialização de açúcar e etanol, pretende elevar em 27% as vendas do adoçante na safra 2023/24. Os preços mais atrativos do açúcar vão aumentar a destinação da matéria-prima para essa commodity.
No ciclo passado, o valor do adoçante em dólar e convertido em reais foi recorde. No entanto, o presidente da empresa ressalta que a confirmação do El Niño, além de estremecer a safra Centro-Sul do Brasil pela maior possibilidade de chuvas, por outro lado causa preocupação de tempo mais seco na Índia e Tailândia, nossos principais concorrentes na exportação. Além disso, ele nos alerta em mais um gargalo, a situação logística brasileira, uma vez
que grandes volumes de soja e milho serão exportados durante o pico de escoamento do açúcar.
• Na data de fechamento da nossa coluna, os preços estavam um pouco abaixo do boletim anterior, mas ainda se sustentando em níveis elevados. O açúcar em Nova York para jul/2023 estava negociado e 26,22 centavos de dólar por libra-peso e, em Londres, o açúcar branco com vencimento em agosto ficou em US$701,20/t. No mercado interno, o açúcar cristal branco (Cepea/Esalq) estava cotado em R$141,79/sc (60kg) ou US$29,59/sc. Há um mês, o preço era de R$148,80/sc, ou seja, seguiu comportamento de baixa, de 4,7% nos últimos 30 dias.
No etanol
• A produção de etanol na atual safra 2023/24 fechou maio em 5,77 bilhões de litros, crescimento de 11,12% em relação à temporada anterior. Do total, 3,39 bilhões de litros foram de etanol hidratado (-5,17%), representado 58,75%, enquanto 2,37 bilhões de litros foram de anidro (+47,24%), o que corresponde a 41,24%. Além disso, 907,62 milhões de litros foi o biocombustível produzido a partir do milho, uma alta anual de 52,19% para este segmento, de acordo com a Unica.
• Ainda segundo a entidade, as vendas de etanol do atual ciclo acumularam 4,48 bilhões de litros até o fim de maio, configurando queda anual de 1,89%. Desse valor, 2,50 bilhões de litros (-13,04%) correspondem ao hidratado e 1,98 bilhão de litros (+17,09%) ao anidro. Do total vendido, 94,9% são comercializados no mercado interno e apenas 5,1% é exportado a outros países, sendo a Coréia do Sul, Holanda e Estados Unidos os maiores compradores.
• Após um mês da adoção da nova política de preços pela Petrobras, as cotações caíram pouco e continuam próximas aos valores praticados anteriormente. Isso porque foi um período que apresentou valorização do real e estabilidade no preço do petróleo. Porém, ainda falta transparência na formação de preços da estatal, o que acaba gerando insegurança para os importadores. Além disso, é necessário destacar que se a nova política acabar levando os preços muito abaixo da paridade de importação, a atividade dos importadores de combustível - segmento que supre 25% da demanda nacional - ficaria inviável no país.
• Em análise, o Itaú BBA divulgou que o corte nos preços deve estar próximo do fim, uma vez que o combustível está sendo negociado por R$ 2,66 com as distribuidoras, um valor muito próximo do mínimo estimado pela entidade (R$ 2,64). No entanto, o segundo corte veio antes de outro fator que vai impactar novamente os preços dos combustíveis. Em julho, a cobrança integral de tributos federais sobre a gasolina e o etanol vai voltar a valer. A partir do dia 1º, os impostos passarão de R$ 0,47/litro para R$ 0,69/litro.
• No diesel, o governo vai antecipar parte da reoneração para 2023, antes, o movimento estava previsto para acontecer em janeiro do próximo ano. Do total de R$ 0,35/litro projetado para 2024, R$ 0,11/litro já vai começar a incidir nos próximos 90 dias.
• A demanda de petróleo deve cair próximo a 40% até 2050, é o que estima o diretor de transição energética e sustentabilidade da Petrobras. Entre os três cenários projetados pela Agência Internacional de Energia (AIE) para o setor, esse é o mais provável. 128 países que participam de 88% das emissões globais de gases do efeito estufa têm compromissos firmados para reduzir a pegada de carbono. Além disso, a redução significativa no custo de energias renováveis (como eólica e solar, por exemplo) e a chegada de novos combustíveis (como hidrogênio verde e biodiesel) ajuda a pressionar ainda mais os combustíveis fósseis.
• O plano de trabalho para 2023 da Comissão Especial da Transição Energética e Produção do Hidrogênio Verde foi aprovado. Seu principal direcionador será o aproveitamento da energia do hidrogênio contida em biocombustíveis, a exemplo do etanol e biogás. O agronegócio está investindo no seu potencial dentro da nova economia criada com o hidrogênio de baixo carbono. Existe aqui uma grande oportunidade de desenvolvimento para o Brasil abastecer a indústria com um insumo de baixo carbono.
• E concluindo nossa análise, o Indicador Semanal do Etanol Hidratado Combustível em São Paulo, divulgado pelo Cepea/Esalq, estava em R$ 2,5455/l, uma alta de 3,4% no comparativo com os preços há um mês; em 12 de maio, estava em R$ 2,4619/l. Apesar da leve alta no último mês, o indicador ainda segue abaixo do mesmo período do ano passado: em maio de 2022, a média mensal foi de R$ 3,0615/l e foi a R$ 2,5984 no mesmo mês de 2023. Vale lembrar que no início da safra 2023/24 (abril), a média mensal era de R$ 2,9377/l.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em abril na cadeia da cana:
1. Andamento das operações de colheita e moagem de cana-de-açúcar na região Centro-Sul. O ritmo está quase 17% mais acelerado do que no mesmo período do ano passado, o que indica a boa evolução. No entanto, vale lembrar que teremos um volume bem maior de cana para processar, além de possíveis impactos do clima (chuvas) nas operações de colheita nos próximos meses.
2. A confirmação do El Niño e a elevação da probabilidade de ocorrência de um evento forte (56%), será essencial acompanhar as previsões de chuva na região Centro-Sul, o que pode prejudicar o andamento da colheita e as condições fisiológicas das lavouras.
3. Observar o comportamento do mercado global de açúcar: as estimativas para oferta do adoçante em países da Ásia, que seguem em queda; a previsão de elevação no consumo global; a baixa nos estoques mundiais de açúcar; e o comportamento das usinas brasileiras em função dos preços. A tendência é de alta no mix de produção para o adoçante. Vamos acompanhar como segue em julho.
4. O comportamento de vendas de combustíveis, olhando especialmente para o etanol. Ao que parece, as mudanças nas políticas de preços da Petrobras seguem afetando os preços e opções do consumidor. Em maio, as vendas do biocombustível pelas usinas caíram, mesmo diante de alta na oferta com o início e evolução da safra.
5. Por fim, acompanhar os impactos da cobrança integral dos preços de combustíveis (a partir de 1º e julho) no setor sucroenergético e também na opção de compra do consumidor entre etanol e gasolina. Lembrar também dos efeitos nos custos de produção (pensando no diesel).
Valor do ATR: em maio, o preço mensal do Açúcar Total Recuperável (ATR) ficou em R$ 1,1945/kg, baixa de 1,5% na comparação com o primeiro mês da safra 2023/24, abril. Relembrando os preços nos últimos três meses: R$ 1,1792/kg em fev/2023; R$ 1,2019/kg em mar/23; e R$ 1,2129/kg em abril. No momento, o acumulado mensal está em R$ 1,2033/kg. Nossa expectativa é que fique entre R$ 1,17/kg e R$ 1,20/kg no ciclo atual.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em doutoragro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP e especialista em comunicação estratégica no agronegócio.
Vitor Nardini Marques é associado na Markestrat Group e mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP.
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