Congresso Nacional da Bioenergia aponta os desafios para o setor sucroenergético

09/02/2017 Cana-de-Açúcar POR: Andréia Vital – Revista Canavieiros – Edição 127
O 9º Congresso Nacional da Bioenergia reuniu mais de 1500 profissionais e lideranças do setor sucroenergético para discutir assuntos relevantes para o desenvolvimento da cadeia bioenergética, em novembro, em Araçatuba-SP. Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), entidade realizadora do congresso, deu as boas-vindas aos participantes e destacou a importância do segmento para o país. “O setor está em um bom momento e logo voltarão os investimentos. Aqui os profissionais encontram informações e conhecem as novas tecnologias que ajudarão na retomada do segmento”, afirmou ele, satisfeito com o sucesso do evento.
A programação contou com dezenas de palestras sobre gestão, tecnologia e sistemas de produção divididas em 12 salas temáticas das áreas Administrativo- -Financeira; Agrícola; Comunicação; Controladoria, Planejamento e Custos; Direito do Agronegócio; Industrial; Mecanização; Mercado, Comercialização e Logística; Recursos Humanos; Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Trabalho; Suprimentos e Tecnologia da Informação.
Motivos para a queda da produtividade
“Tecnologias para maximização da produção e longevidade dos canaviais” foi o tema do primeiro painel da sala temática agrícola, uma das mais concorridas pelos participantes, e contou com discussão entre lideranças do setor sobre o porquê da produtividade dos canaviais ter reduzido tanto. “O setor sucroenergético fatura quase R$ 100 bi por ano, gera cerca de mil empregos diretos e 800 indiretos, já exportou US$ 12 bilhões em dívidas, economizou 23 bilhões de litros em 2015, já evitou a emissão de 352 milhões de toneladas de CO2, além disso, mais de 1500 municípios brasileiros dependem da cultura da cana”, elucidou Dib Nunes, diretor do Grupo Idea, moderador da plenária, lembrando ainda, que de 2008 até o momento, 80 usinas fecharam as portas no Brasil e 71 unidades estão em recuperação judicial. 
“A dívida média das empresas supera seu faturamento bruto anual (R$ 70 bi no total), na média quase 15% da receita está comprometida com juros, é preciso reverter isso”, refletiu. Para Rodrigo Rodrigues Vinchi, gerente corporativo de Desenvolvimento Agrícola da Raízen, a resposta está na falta de planejamento agrícola e de formação de mão-de-mão especializada, fatos que exigiram tremendo esforço do segmento para se adequar. 
“Exemplo disso foi a mecanização. O setor não se preparou para essa mudança e estamos pagando um preço alto por isso. Outro fator é que boa parte das empresas expandiu suas operações para regiões onde se tinha pouco domínio agronô- mico, o que exigiu a transferência de aporte tecnológico e a adaptação foi custosa, refletindo assim na produtividade”, analisou. 
A falta de planejamento também foi a sugestão de Ismael Perina, produtor e presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura. “O principal motivo é o planejamento que falta ao Brasil, que falta para este setor, pois nós assistimos a um crescimento desenfreado, sem pé nem cabeça, sem a mínima condição de crescer quando se tinha dinheiro, e aí quando faltou dinheiro, tinha que se administrar a falta de recurso, com corte em tudo. Então, é uma série de motivos que influenciaram na produtividade, basicamente pela falta de planejamento estruturado do país”, alegou.
Já Mário Galdini, diretor agroindustrial do Grupo São Martinho, indicou o clima como um dos motivos principais para a perda de produtividade. “Tivemos excesso de água em janeiro até março e uma interrupção abrupta das chuvas em abril e maio, com uma temperatura muito acima da média histórica, um fenômeno nunca visto na região de Ribeirão Preto-SP. 
Isso provavelmente afetou as nossas canas, resultando em uma quebra grande”, disse ele, contando que enfrentaram também três geadas muito fortes, situação que, além de matar muita cana, acabou com o planejamento de safra. E o fator comportamental foi a indicação de Ricardo Lopes, diretor agrícola da Biosev. “Parece repetitivo, mas no nosso entendimento para evoluir é preciso investir em pessoas, manter a estabilidade pois se não tem estabilidade no time, não se adquire o conhecimento para o desenvolvimento da produção”, disse. 
O debate contou ainda com depoimentos de Cássio Paggiaro, diretor agrícola, da Clealco; Fabiano Morsoleto de Pontes, superintendente do Grupo Odebrecht; Fernando César Pattaro, gerente de Suporte Técnico Agronômico da Santa Terezinha; Jorge Fernando Fávaro Gomes, gerente agrícola regional da Adecoagro; José Carlos Contiero, gerente corporativo de fornecedores do Grupo Coruripe e Júlio Vieira de Araújo, gerente agrícola da usina São José da Estiva.
Como atender às demandas da COP 21?
Outro painel disputado foi o debate político com o tema “Sem políticas de estado o setor é capaz de cumprir as metas da COP 21?”. Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da UDOP, lembrou que o setor é responsável não apenas por transformar o Brasil em modelo de energia limpa, mas por criar uma alternativa energética ao combustível fóssil e, mesmo assim, “com toda a tecnologia que tem no país, com todo o parque produtivo que temos hoje, com capacidade de processar em torno de 650 milhões de cana, a situação não é estável e sim extremamente preocupante”, disse, justificando que a remuneração dos preços ainda não viabiliza uma recuperação instantânea do segmento, fato que deve ocorrer somente em três ou quatro anos, “trabalhando com muito afinco os desafios que não são poucos”, desabafou. 
Moderado por André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, a plenária contou com a participação do governador em exercício do estado de São Paulo, Márcio França, e do secretário de Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim, além de outras lideranças, tais como Aurélio César Nogueira Amaral, diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis); José Mauro Ferreira Coelho, superintendente da Diretoria do EPE (Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis); Marcos Fava Neves, professor titular da FEA/USP - RP; Marina Carlini, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Raízen; Maury Eduardo Pekelman, vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Agroindustrial e Plínio Nastari, presidente da DATAGRO.
O cenário nacional e internacional do setor foi um dos assuntos debatidos na sala temática "Mercado, comercialização e logística". De acordo com Roberto Hollanda, presidente da Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul), o horizonte é positivo para o setor sucroenergético, mas é preciso agir com o pé no chão. 
“Já tem luz no fim do túnel, não seria responsável dizer que saímos da crise e está tudo bem. Eu acho que podemos dizer que o horizonte está melhor”, refletiu, ele ao moderar palestra de Guilherme Nastari, diretor da DATAGRO. 
O palestrante apresentou um cenário sobre o segmento e destacou a importância de se investir na comunicação do setor. "É preciso mostrar a externalidade da indústria agro canavieira", afirmou ele. Segundo o consultor, apesar dos baixos preços do petróleo e da gasolina, a demanda mundial de etanol continua em expansão e o consumo de hidratado tem sido bastante responsivo a preços no Brasil, absorvendo excesso de oferta em alguns momentos. 
“Estamos muito próximos de viver um momento na história de expansão de cana do Brasil, talvez essa seja a quarta expansão”, esclareceu ele, afirmando ser necessário aumentar a oferta de sacarose, que não registra uma curva significativa nos últimos 10 anos. Isso, somado ao limite da capacidade de extração, torna-se uma barreira ao crescimento do segmento. “Estamos na contramão do setor, pois outras regiões produtoras menos eficientes do que nos estão falando em construir usinas e nós não. 
O mundo está olhando o setor de açúcar e um pouco de álcool, tem um movimento de expansão de capacidade instalada no mundo, na Tailândia fala-se em 25 usinas, na Argentina, uma ou duas, e a gente infelizmente ainda está neste processo de reorganização”, desabafou.
Direito do agronegócio
Mário Ferreira de Campos Filho, presidente da SIAMIG (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais) foi um dos palestrantes da sala temática Direito do Agronegócio e apresentou, na ocasião, a palestra “Histórico do TAC do transporte em Minas Gerais e os impactos sobre a produção”, com mediação do gerente jurídico trabalhista da Raízen, Vinicius Soares Rocha. Campos Filho apresentou os detalhes de um aditivo ao TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MPT (Ministério Público Trabalho) que estabelece a necessidade das unidades sucroenergéticas se adequarem, gradativamente até 2019, às exigências da legislação de trânsito.
“Conseguimos fechar com o MPT uma adequação da estrutura de transporte à legislação, passando o prazo dessa adequação para 2022 e não mais para 2019, como era anteriormente exigida. A logística da cana é o principal item do custo de produção e o texto anterior era muito prejudicial às unidades, podendo até mesmo fechar algumas usinas”, esclareceu. 
Sobre a safra no estado mineiro, o executivo disse que a chuva em outubro atrasou o término da temporada, mas a previsão é de moer 63 milhões de toneladas de cana. “Isso significa menos cana, mas não menos sacarose, assim o aumento do teor de sacarose possibilitou manter o mesmo nível de produção de sacarose que a safra passada”, disse, contanto que o mix é muito mais açucareiro do que na temporada passada, saindo de 40% para 47%. “Estamos fazendo a maior produção de história do Estado, 3,85 milhões de toneladas de açúcar, e o etanol, principalmente o hidratado, teve uma queda expressiva, assim como ocorreu a queda do consumo de hidratado no Brasil todo”. 
O presidente do SIAMIG comentou também sobre o PL (Projeto de Lei) que prevê a elevação da alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação e Mercadorias e Prestação de Serviços) sobre o etanol e a gasolina, que ainda não foi analisado por nenhuma comissão na Assembleia Legislativa de MG. “Estamos trabalhando contra o projeto para que não haja alteração e caso houver alteração, que mantenha a competitividade do etanol”, ponderou. 
Com moderação de Jorge dos Santos, diretor executivo do SINDALCOOL-MT (Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso), a advogada e sócia da Pineda & Krahn Advogados, Samanta Pineda, também explanou na sala temática de Direito do Agronegócio, abordando a questão do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e suas exigências. 
“O enfoque da palestra foi orientar o produtor que ainda tem muita dúvida sobre a legislação, sobre o que fazer com o cartório, com o órgão ambiental que não responde, com a conta da reserva legal no terreno que já foi desmatado há muito tempo. Foi muito proveitoso nosso encontro”, admitiu.
Segundo a advogada, embora a maior parte do estado de São Paulo tenha feito o CAR, o programa está parado. “O CAR é o primeiro passo da regularização, mas é preciso identificar quais são os passivos ambientais e aderir a um programa de regularização e, aqui em São Paulo, por conta de uma ação do Ministério Público, a lei do PRA (Programa de Regularização Ambiental) está suspensa, então o produtor que quer fazer a regulamentação, quer suspender as multas, quer rever seu TAC, não tem o instrumento porque a lei está suspensa”, explica, comentando que estão buscando os procedimentos alternativos para resolver essa questão. 
“A lei federal dá sim instrumentos para chegar no órgão ambiental e dizer “eu quero fazer a minha regulamentação de acordo com a lei federal, não me importa se a lei estadual está suspensa”, e foi isso que a gente orientou as pessoas aqui”, concluiu. 
Dentro do conceito de direito do agronegócio, diversas outras palestras foram apresentadas como a do gestor executivo da Orplana, Celso Albano, que falou sobre a gestão estratégica e associativismo, Sistema Integrado Orplana, na qual, o executivo apontou as iniciativas feitas pela organização para sua reestruturação. E a de Manoel Bertone, presidente da Renuka do Brasil S.A, que explanou sobre a recuperação judicial para agroindústrias sucroenergéticas e citou, na ocasião, a situação da empresa que preside, que está em recuperação judicial, e pretende leiloar uma de suas quatro unidades (localizada em Promissão-SP), para tentar honrar suas dívidas com fornecedores de cana e bancos.
Medalha da Agroenergia
Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, recebeu a Medalha Agroenergia, a maior honraria concedida pela UDOP, em reconhecimento ao seu trabalho pelo progresso do setor bioenergético, durante jantar de confraternização realizado com a presença dos congressistas. “Mais importante que falar das conquistas que tivemos é falarmos de valores. Valorizar as pessoas que trabalham e que criam novos costumes, que pensam e vivem o setor contribuindo para que a nossa bioenergia seja referência mundial”, afirmou ele emocionado ao receber o troféu das mãos do governador em exercício, Márcio França, do presidente-executivo da UDOP, Antonio Cesar Salibe e do presidente da entidade, Celso Torquato Junqueira Franco. 
Luiz Guilherme Zancaner, que foi presidente da UDOP durante nove anos e faleceu, em junho passado, em um acidente, também foi homenageado na ocasião. Os filhos do executivo, então presidente do Grupo Unialco, receberam uma placa e flores em seu nome.
O 9º Congresso Nacional da Bioenergia reuniu mais de 1500 profissionais e lideranças do setor sucroenergético para discutir assuntos relevantes para o desenvolvimento da cadeia bioenergética, em novembro, em Araçatuba-SP. Antonio Cesar Salibe, presidente executivo da UDOP (União dos Produtores de Bioenergia), entidade realizadora do congresso, deu as boas-vindas aos participantes e destacou a importância do segmento para o país. “O setor está em um bom momento e logo voltarão os investimentos. Aqui os profissionais encontram informações e conhecem as novas tecnologias que ajudarão na retomada do segmento”, afirmou ele, satisfeito com o sucesso do evento.

 
A programação contou com dezenas de palestras sobre gestão, tecnologia e sistemas de produção divididas em 12 salas temáticas das áreas Administrativo- -Financeira; Agrícola; Comunicação; Controladoria, Planejamento e Custos; Direito do Agronegócio; Industrial; Mecanização; Mercado, Comercialização e Logística; Recursos Humanos; Saúde, Segurança e Meio Ambiente do Trabalho; Suprimentos e Tecnologia da Informação.

 
Motivos para a queda da produtividade

 
“Tecnologias para maximização da produção e longevidade dos canaviais” foi o tema do primeiro painel da sala temática agrícola, uma das mais concorridas pelos participantes, e contou com discussão entre lideranças do setor sobre o porquê da produtividade dos canaviais ter reduzido tanto. “O setor sucroenergético fatura quase R$ 100 bi por ano, gera cerca de mil empregos diretos e 800 indiretos, já exportou US$ 12 bilhões em dívidas, economizou 23 bilhões de litros em 2015, já evitou a emissão de 352 milhões de toneladas de CO2, além disso, mais de 1500 municípios brasileiros dependem da cultura da cana”, elucidou Dib Nunes, diretor do Grupo Idea, moderador da plenária, lembrando ainda, que de 2008 até o momento, 80 usinas fecharam as portas no Brasil e 71 unidades estão em recuperação judicial. 

 
“A dívida média das empresas supera seu faturamento bruto anual (R$ 70 bi no total), na média quase 15% da receita está comprometida com juros, é preciso reverter isso”, refletiu. Para Rodrigo Rodrigues Vinchi, gerente corporativo de Desenvolvimento Agrícola da Raízen, a resposta está na falta de planejamento agrícola e de formação de mão-de-mão especializada, fatos que exigiram tremendo esforço do segmento para se adequar. 

 
“Exemplo disso foi a mecanização. O setor não se preparou para essa mudança e estamos pagando um preço alto por isso. Outro fator é que boa parte das empresas expandiu suas operações para regiões onde se tinha pouco domínio agronô- mico, o que exigiu a transferência de aporte tecnológico e a adaptação foi custosa, refletindo assim na produtividade”, analisou. 

 
A falta de planejamento também foi a sugestão de Ismael Perina, produtor e presidente da Câmara Setorial do Açúcar e do Álcool do Ministério da Agricultura. “O principal motivo é o planejamento que falta ao Brasil, que falta para este setor, pois nós assistimos a um crescimento desenfreado, sem pé nem cabeça, sem a mínima condição de crescer quando se tinha dinheiro, e aí quando faltou dinheiro, tinha que se administrar a falta de recurso, com corte em tudo. Então, é uma série de motivos que influenciaram na produtividade, basicamente pela falta de planejamento estruturado do país”, alegou.

 
Já Mário Galdini, diretor agroindustrial do Grupo São Martinho, indicou o clima como um dos motivos principais para a perda de produtividade. “Tivemos excesso de água em janeiro até março e uma interrupção abrupta das chuvas em abril e maio, com uma temperatura muito acima da média histórica, um fenômeno nunca visto na região de Ribeirão Preto-SP. 

 
Isso provavelmente afetou as nossas canas, resultando em uma quebra grande”, disse ele, contando que enfrentaram também três geadas muito fortes, situação que, além de matar muita cana, acabou com o planejamento de safra. E o fator comportamental foi a indicação de Ricardo Lopes, diretor agrícola da Biosev. “Parece repetitivo, mas no nosso entendimento para evoluir é preciso investir em pessoas, manter a estabilidade pois se não tem estabilidade no time, não se adquire o conhecimento para o desenvolvimento da produção”, disse.

 
O debate contou ainda com depoimentos de Cássio Paggiaro, diretor agrícola, da Clealco; Fabiano Morsoleto de Pontes, superintendente do Grupo Odebrecht; Fernando César Pattaro, gerente de Suporte Técnico Agronômico da Santa Terezinha; Jorge Fernando Fávaro Gomes, gerente agrícola regional da Adecoagro; José Carlos Contiero, gerente corporativo de fornecedores do Grupo Coruripe e Júlio Vieira de Araújo, gerente agrícola da usina São José da Estiva.

 
Como atender às demandas da COP 21?

 
Outro painel disputado foi o debate político com o tema “Sem políticas de estado o setor é capaz de cumprir as metas da COP 21?”. Celso Torquato Junqueira Franco, presidente da UDOP, lembrou que o setor é responsável não apenas por transformar o Brasil em modelo de energia limpa, mas por criar uma alternativa energética ao combustível fóssil e, mesmo assim, “com toda a tecnologia que tem no país, com todo o parque produtivo que temos hoje, com capacidade de processar em torno de 650 milhões de cana, a situação não é estável e sim extremamente preocupante”, disse, justificando que a remuneração dos preços ainda não viabiliza uma recuperação instantânea do segmento, fato que deve ocorrer somente em três ou quatro anos, “trabalhando com muito afinco os desafios que não são poucos”, desabafou. 

 
Moderado por André Rocha, presidente do Fórum Nacional Sucroenergético, a plenária contou com a participação do governador em exercício do estado de São Paulo, Márcio França, e do secretário de Agricultura de São Paulo, Arnaldo Jardim, além de outras lideranças, tais como Aurélio César Nogueira Amaral, diretor da ANP (Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis); José Mauro Ferreira Coelho, superintendente da Diretoria do EPE (Estudos do Petróleo, Gás e Biocombustíveis); Marcos Fava Neves, professor titular da FEA/USP - RP; Marina Carlini, gerente de Desenvolvimento Sustentável da Raízen; Maury Eduardo Pekelman, vice-presidente de Relações Institucionais da Odebrecht Agroindustrial e Plínio Nastari, presidente da DATAGRO.

 
O cenário nacional e internacional do setor foi um dos assuntos debatidos na sala temática "Mercado, comercialização e logística". De acordo com Roberto Hollanda, presidente da Biosul (Associação dos Produtores de Bioenergia do Mato Grosso do Sul), o horizonte é positivo para o setor sucroenergético, mas é preciso agir com o pé no chão.

 
“Já tem luz no fim do túnel, não seria responsável dizer que saímos da crise e está tudo bem. Eu acho que podemos dizer que o horizonte está melhor”, refletiu, ele ao moderar palestra de Guilherme Nastari, diretor da DATAGRO. 

 
O palestrante apresentou um cenário sobre o segmento e destacou a importância de se investir na comunicação do setor. "É preciso mostrar a externalidade da indústria agro canavieira", afirmou ele. Segundo o consultor, apesar dos baixos preços do petróleo e da gasolina, a demanda mundial de etanol continua em expansão e o consumo de hidratado tem sido bastante responsivo a preços no Brasil, absorvendo excesso de oferta em alguns momentos. 

 
“Estamos muito próximos de viver um momento na história de expansão de cana do Brasil, talvez essa seja a quarta expansão”, esclareceu ele, afirmando ser necessário aumentar a oferta de sacarose, que não registra uma curva significativa nos últimos 10 anos. Isso, somado ao limite da capacidade de extração, torna-se uma barreira ao crescimento do segmento. “Estamos na contramão do setor, pois outras regiões produtoras menos eficientes do que nos estão falando em construir usinas e nós não.

 
O mundo está olhando o setor de açúcar e um pouco de álcool, tem um movimento de expansão de capacidade instalada no mundo, na Tailândia fala-se em 25 usinas, na Argentina, uma ou duas, e a gente infelizmente ainda está neste processo de reorganização”, desabafou.

 
Direito do agronegócio

 
Mário Ferreira de Campos Filho, presidente da SIAMIG (Associação das Indústrias Sucroenergéticas de Minas Gerais) foi um dos palestrantes da sala temática Direito do Agronegócio e apresentou, na ocasião, a palestra “Histórico do TAC do transporte em Minas Gerais e os impactos sobre a produção”, com mediação do gerente jurídico trabalhista da Raízen, Vinicius Soares Rocha. Campos Filho apresentou os detalhes de um aditivo ao TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) com o MPT (Ministério Público Trabalho) que estabelece a necessidade das unidades sucroenergéticas se adequarem, gradativamente até 2019, às exigências da legislação de trânsito.

 
“Conseguimos fechar com o MPT uma adequação da estrutura de transporte à legislação, passando o prazo dessa adequação para 2022 e não mais para 2019, como era anteriormente exigida. A logística da cana é o principal item do custo de produção e o texto anterior era muito prejudicial às unidades, podendo até mesmo fechar algumas usinas”, esclareceu. 

 
Sobre a safra no estado mineiro, o executivo disse que a chuva em outubro atrasou o término da temporada, mas a previsão é de moer 63 milhões de toneladas de cana. “Isso significa menos cana, mas não menos sacarose, assim o aumento do teor de sacarose possibilitou manter o mesmo nível de produção de sacarose que a safra passada”, disse, contanto que o mix é muito mais açucareiro do que na temporada passada, saindo de 40% para 47%. “Estamos fazendo a maior produção de história do Estado, 3,85 milhões de toneladas de açúcar, e o etanol, principalmente o hidratado, teve uma queda expressiva, assim como ocorreu a queda do consumo de hidratado no Brasil todo”. 

 
O presidente do SIAMIG comentou também sobre o PL (Projeto de Lei) que prevê a elevação da alíquota de ICMS (Imposto sobre Circulação e Mercadorias e Prestação de Serviços) sobre o etanol e a gasolina, que ainda não foi analisado por nenhuma comissão na Assembleia Legislativa de MG. “Estamos trabalhando contra o projeto para que não haja alteração e caso houver alteração, que mantenha a competitividade do etanol”, ponderou. 

 
Com moderação de Jorge dos Santos, diretor executivo do SINDALCOOL-MT (Sindicato das Indústrias Sucroalcooleiras de Mato Grosso), a advogada e sócia da Pineda & Krahn Advogados, Samanta Pineda, também explanou na sala temática de Direito do Agronegócio, abordando a questão do CAR (Cadastro Ambiental Rural) e suas exigências. 

 
“O enfoque da palestra foi orientar o produtor que ainda tem muita dúvida sobre a legislação, sobre o que fazer com o cartório, com o órgão ambiental que não responde, com a conta da reserva legal no terreno que já foi desmatado há muito tempo. Foi muito proveitoso nosso encontro”, admitiu.

 
Segundo a advogada, embora a maior parte do estado de São Paulo tenha feito o CAR, o programa está parado. “O CAR é o primeiro passo da regularização, mas é preciso identificar quais são os passivos ambientais e aderir a um programa de regularização e, aqui em São Paulo, por conta de uma ação do Ministério Público, a lei do PRA (Programa de Regularização Ambiental) está suspensa, então o produtor que quer fazer a regulamentação, quer suspender as multas, quer rever seu TAC, não tem o instrumento porque a lei está suspensa”, explica, comentando que estão buscando os procedimentos alternativos para resolver essa questão. 

 
“A lei federal dá sim instrumentos para chegar no órgão ambiental e dizer “eu quero fazer a minha regulamentação de acordo com a lei federal, não me importa se a lei estadual está suspensa”, e foi isso que a gente orientou as pessoas aqui”, concluiu. 

 
Dentro do conceito de direito do agronegócio, diversas outras palestras foram apresentadas como a do gestor executivo da Orplana, Celso Albano, que falou sobre a gestão estratégica e associativismo, Sistema Integrado Orplana, na qual, o executivo apontou as iniciativas feitas pela organização para sua reestruturação. E a de Manoel Bertone, presidente da Renuka do Brasil S.A, que explanou sobre a recuperação judicial para agroindústrias sucroenergéticas e citou, na ocasião, a situação da empresa que preside, que está em recuperação judicial, e pretende leiloar uma de suas quatro unidades (localizada em Promissão-SP), para tentar honrar suas dívidas com fornecedores de cana e bancos.

 
Medalha da Agroenergia

 
Arnaldo Jardim, secretário de Agricultura e Abastecimento de São Paulo, recebeu a Medalha Agroenergia, a maior honraria concedida pela UDOP, em reconhecimento ao seu trabalho pelo progresso do setor bioenergético, durante jantar de confraternização realizado com a presença dos congressistas. “Mais importante que falar das conquistas que tivemos é falarmos de valores. Valorizar as pessoas que trabalham e que criam novos costumes, que pensam e vivem o setor contribuindo para que a nossa bioenergia seja referência mundial”, afirmou ele emocionado ao receber o troféu das mãos do governador em exercício, Márcio França, do presidente-executivo da UDOP, Antonio Cesar Salibe e do presidente da entidade, Celso Torquato Junqueira Franco. 

 
Luiz Guilherme Zancaner, que foi presidente da UDOP durante nove anos e faleceu, em junho passado, em um acidente, também foi homenageado na ocasião. Os filhos do executivo, então presidente do Grupo Unialco, receberam uma placa e flores em seu nome.