Copersucar inaugura subsidiária na China
06/12/2012
Açúcar
POR: Valor Econômico
Menos de um mês depois de anunciar a aquisição do controle da trading americana de etanol Eco-Energy e se posicionar como a maior exportadora global de etanol, a Copersucar inicia hoje as operações de sua subsidiária chinesa, instalada em Hong Kong. Batizada de Copersucar Asia, a subsidiária terá a missão de consolidar o mercado do Sudeste Asiático como importador de açúcar brasileiro. Mas as ambições vão além. Será também a plataforma de compra de açúcar de fora do Brasil para comercialização, operação inédita para a Copersucar.
Maior trading da commodity do país, com faturamento projetado de US$ 7,5 bilhões nesta safra 2012/13, a Copersucar já exporta há pelo menos três anos para o sudeste da Ásia (China, Indonésia e Coreia do Sul). É responsável nessa região por 10% do comércio de açúcar, o que significa embarques de um volume de 350 mil toneladas - ainda ínfimo perto do volume total de 8,7 milhões de toneladas que a empresa tende a exportar a todos os destinos na safra 2012/13.
O CEO da Copersucar, Paulo Roberto de Souza, afirma que a meta é chegar a 20% em três anos, com volume embarcado da ordem de 1 milhão de toneladas, distribuídos pelos três países já clientes e também na Malásia.
A China já é, de longe, o maior país importador de açúcar do mundo, com mais de 4 milhões de toneladas. Começou a despontar como importador-chave do Brasil em 2011, quando comprou 2,1 milhões de toneladas, 70% mais que em 2010, assumindo, portanto, a segunda posição, atrás somente da Rússia. De janeiro a outubro deste ano, no entanto, os chineses tomaram a dianteira da pauta brasileira com a importação de 1,7 milhão de toneladas, desbancando a Rússia (1,1 milhão de toneladas), segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (Secex/MDIC).
Dessa forma, o posicionamento no mercado asiático é estratégico, explica o CEO da companhia. A maior parte do açúcar originado para atender essa região ainda será brasileiro, mas pela primeira vez, a Copersucar também vai buscar a commodity fora do Brasil. Austrália e Tailândia estão no topo da lista. As aquisições tendem a ser feitas obedecendo a sazonalidade desses mercados. "Quando entra a safra tailandesa, o Brasil tem mais dificuldades de entrar na Ásia, por conta das diferenças de frete. Mas agora, nesses períodos, teremos oportunidades de continuar operando na Ásia, mas com açúcar de outras origens", detalha Souza.
Ele adiciona que, inicialmente, a originação na Tailândia, segundo maior exportador de açúcar, tende a ocorrer nos moldes convencionais - ou seja, em contratos de curto prazo. Mas ele não descarta estabelecer no mercado local estrutura de relacionamento com usinas semelhante à existente no Brasil, por meio do qual as unidades se tornam sócias e firmam contrato de longo prazo de entrega de açúcar. "Não descartamos esse tipo de aliança no futuro. Já temos bons nomes e relacionamentos com usinas locais", afirma Souza.
O presidente do conselho de administração da Copersucar, Luís Roberto Pogetti, esclarece que a estrutura na China não é a de um escritório e sim de uma subsidiária, pois a atuação se estende a operações mais complexas, entre as quais execução comercial, emissão de documentos de compra e venda e pagamentos.
A logística de açúcar da subsidiária será atendida pela Copa Shipping, empresa de afretamento marítimo fruto de uma joint venture estabelecida em 2011 entre Copersucar e o grupo Jamal Al-Ghurair (JAG) que, entre outros negócios controla a Al Khaleej Sugar (AKS), maior refinaria de açúcar do mundo, localizada em Dubai.
Souza explica que não é preciso armazéns intermediários para originar açúcar em outros países. Contratos de compra de açúcar podem ser firmados com frete até o porto (FOB - Free On Board) e entrega na China. "Temos também estrutura de armazenamento no porto de Dubai para 350 mil toneladas, que pode suportar alguma operação, caso seja necessário", afirma.
Apesar de a Copersucar há mais de três safras exportar ao Sudeste Asiático a partir do Brasil, a companhia via obstáculos culturais e de fuso horário que limitavam oportunidades. A equipe, majoritariamente chinesa, será fundamental para transpor a dificuldade de fazer negócios com uma diferença de fuso horário de dez horas. Ainda, explica o CEO da Copersucar, Paulo Roberto de Souza, era preciso estabelecer uma aproximação cultural com esses países asiáticos. O líder da operação será o trader chinês Leo Chu, com larga experiência no trade de açúcar na região e trazido de uma trading concorrente com atuação da China. Um trader brasileiro, já funcionário da Copersucar, também será transferido para atuar na subsidiária de Hong Kong.
O olhar da Copersucar para a Ásia não tende a se limitar à operação de trading. No futuro, Souza não descarta alianças no segmento de refino de açúcar na região. "Em países como a China, com uma extensa costa marítima, é inexorável o investimento em refinarias nas regiões portuárias", antecipa Souza.
Fabiana Batista