Por Arnaldo Luiz Corrêa
A Petrobras anunciou na noite de sexta-feira nova redução no preço médio nos combustíveis nas refinarias em 5.9%. É natural que haja um impacto negativo nos preços do açúcar na reabertura do mercado, segunda-feira, de 60-70 pontos.
O mercado até então havia reagido bem apesar de uma entrega física volumosa (1,6 milhão de toneladas) na expiração do contrato futuro de açúcar em NY. O que poderia adicionar nova pressão sobre os preços teve efeito contrário, de forma que os vencimentos na bolsa fecharam em território positivo. O que pode ter servido de contraponto ao ambiente baixista regido pelos fundamentos do açúcar foi o fato de estarmos em final de semestre e os fundos que estavam pesadamente vendidos no mercado, podem ter liquidado parcial ou totalmente suas posições (comprando) e colocando NY novamente próximo aos 14 centavos de dólar por libra-peso.
Muito cedo para dizer se essa onda vai continuar. No entanto, serviu para o mercado sair das cordas em que estava encurralado e tentar se reerguer depois de beijar a lona nos 12 centavos de dólar por libra-peso. Mas aí, veio a Petrobras, e....
No ano passado, quando os fundos mantinham uma posição recorde comprada que foi responsável pelo mercado de açúcar em NY exageradamente negociar na vizinhança dos 24 centavos de dólar por libra-peso, pouca gente acreditava que NY pudesse elevar-se ainda mais e incentivamos as usinas a fixarem seus robustos preços em reais por tonelada. Vale o mesmo agora. Com essa imensa posição, terão os fundos mais apetite para adicionar novas vendas nos atuais níveis de preço? Terá chegado a hora de tomar lucros? Mas aí, veio a Petrobras, e....
Naquele período, o etanol hidratado era vendido ao equivalente a 850 pontos abaixo de açúcar NY, um desconto recorde. Na verdade, não era o etanol que estava depreciado, mas o açúcar. Dizíamos então que havia claramente uma dicotomia entre o físico e o futuro. Parece estarmos diante do mesmo caso, só que no andar de baixo.
Analisando os fundamentos, é difícil imaginar que o mercado possa voltar a níveis de R$ 1,500-1,700 por tonelada. Algo extremamente grave e contundente precisaria acontecer. Mas, fora fatores exógenos, fica um pouco mais claro agora que devemos ter visto os preços mais baixos. Exemplificando, algumas usinas declaradamente estão mudando seu mix para etanol anidro dado o pobre desempenho do açúcar. Um outro fator importante é que nos atuais níveis, pegando o fechamento de outubro/2017, que na sexta encerrou a 13.81 centavos de dólar por libra-peso, quais países conseguem produzir açúcar neste nível? O custo de produção no Brasil é de 13.88 centavos de dólar por libra-peso posto usina, Tailândia é de 15.49 centavos de dólar por libra-peso, Europa é de 17.50 centavos de dólar por libra-peso.
Essas questões estão longe de influenciar o curto prazo, é verdade, mas mostram que estruturalmente o preço do açúcar é construtivo no médio e longo prazos. Não há investimento em expansão do canavial, a renovação está aquém do necessário, existe um potencial de consumo para os próximos anos que não será suprido. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, se simularmos crescimento zero da economia brasileira para até 2022 e mantivermos o mesmo nível de venda anual de veículos novos, ainda assim, vamos precisar de 80 milhões de toneladas de cana apenas para atender ao consumo de etanol.
Claro que pode haver importação de etanol de milho, ou mesmo de gasolina A, ou redução da mistura. Seja qual for a solução paliativa, vamos esbarrar na limitação da logística para fazer o combustível importado chegar onde precisa. O mais fácil é subir os preços. Nesse caso, como em outras simulações, invariavelmente chegamos na majoração do preço do açúcar.
No curto prazo, uma eventual continuação do movimento de alta do açúcar em NY pode ser alimentada pela recompra por parte dos fundos de suas posições vendidas, tomando lucro. Eles estavam vendidos até terça-feira passada em 116.500 contratos !!! Não pode ser ignorada a existência stops de compra acionados por tradings que apostavam que o mercado continuaria a cair. Mas aí, veio a Petrobras e precisamos ver como o mercado vai reagir a essa nova redução.
O número de produção de cana no Centro-Sul ainda não vai influir no preço, mas nota-se uma predisposição por parte de algumas usinas a reduzirem seus números de moagem. O petróleo tem grande suporte no nível de 40-42 dólares por barril, abaixo do qual inviabiliza para alguns produtores. O consumo de combustíveis tem espaço para subir e demonstra que cai menos do que o PIB quando a economia se retrai e sobe mais quando o PIB sobe.
Por outro lado, caso o petróleo caia abaixo dos 40 dólares por barril e o real se valorize em relação ao dólar, novas reduções no preço da gasolina para o consumidor colocarão enorme pressão no açúcar. Pairam sobre o mercado algumas iniciativas que elevam o chão do mercado: a introdução da CIDE, o imposto de importação sobre etanol e a evolução nas discussões acerca do RenovaBio. Será que a redução no preço da gasolina vai abrir mais espaço para a reintrodução da CIDE?
Afinal, já vimos a mínima desse mercado (12.53)? Acredito piamente que sim, mas eu já estive errado outras vezes. Mas aí, veio a Petrobras, e....
A 28ª. Edição do Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas (em português) da Archer Consulting, vai ocorrer dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de setembro de 2017, das 09 às 17 horas, em São Paulo - SP, no Hotel Paulista Wall Street. Faltando 13 semanas para o curso, 50% das vagas já estão preenchidas. Não deixe para a última hora.
Arnaldo Luiz Corrêa- diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.
Por Arnaldo Luiz Corrêa
A Petrobras anunciou na noite de sexta-feira nova redução no preço médio nos combustíveis nas refinarias em 5.9%. É natural que haja um impacto negativo nos preços do açúcar na reabertura do mercado, segunda-feira, de 60-70 pontos.
O mercado até então havia reagido bem apesar de uma entrega física volumosa (1,6 milhão de toneladas) na expiração do contrato futuro de açúcar em NY. O que poderia adicionar nova pressão sobre os preços teve efeito contrário, de forma que os vencimentos na bolsa fecharam em território positivo. O que pode ter servido de contraponto ao ambiente baixista regido pelos fundamentos do açúcar foi o fato de estarmos em final de semestre e os fundos que estavam pesadamente vendidos no mercado, podem ter liquidado parcial ou totalmente suas posições (comprando) e colocando NY novamente próximo aos 14 centavos de dólar por libra-peso.
Muito cedo para dizer se essa onda vai continuar. No entanto, serviu para o mercado sair das cordas em que estava encurralado e tentar se reerguer depois de beijar a lona nos 12 centavos de dólar por libra-peso. Mas aí, veio a Petrobras, e....
No ano passado, quando os fundos mantinham uma posição recorde comprada que foi responsável pelo mercado de açúcar em NY exageradamente negociar na vizinhança dos 24 centavos de dólar por libra-peso, pouca gente acreditava que NY pudesse elevar-se ainda mais e incentivamos as usinas a fixarem seus robustos preços em reais por tonelada. Vale o mesmo agora. Com essa imensa posição, terão os fundos mais apetite para adicionar novas vendas nos atuais níveis de preço? Terá chegado a hora de tomar lucros? Mas aí, veio a Petrobras, e....
Naquele período, o etanol hidratado era vendido ao equivalente a 850 pontos abaixo de açúcar NY, um desconto recorde. Na verdade, não era o etanol que estava depreciado, mas o açúcar. Dizíamos então que havia claramente uma dicotomia entre o físico e o futuro. Parece estarmos diante do mesmo caso, só que no andar de baixo.
Analisando os fundamentos, é difícil imaginar que o mercado possa voltar a níveis de R$ 1,500-1,700 por tonelada. Algo extremamente grave e contundente precisaria acontecer. Mas, fora fatores exógenos, fica um pouco mais claro agora que devemos ter visto os preços mais baixos. Exemplificando, algumas usinas declaradamente estão mudando seu mix para etanol anidro dado o pobre desempenho do açúcar. Um outro fator importante é que nos atuais níveis, pegando o fechamento de outubro/2017, que na sexta encerrou a 13.81 centavos de dólar por libra-peso, quais países conseguem produzir açúcar neste nível? O custo de produção no Brasil é de 13.88 centavos de dólar por libra-peso posto usina, Tailândia é de 15.49 centavos de dólar por libra-peso, Europa é de 17.50 centavos de dólar por libra-peso.
Essas questões estão longe de influenciar o curto prazo, é verdade, mas mostram que estruturalmente o preço do açúcar é construtivo no médio e longo prazos. Não há investimento em expansão do canavial, a renovação está aquém do necessário, existe um potencial de consumo para os próximos anos que não será suprido. Para se ter uma ideia do tamanho do problema, se simularmos crescimento zero da economia brasileira para até 2022 e mantivermos o mesmo nível de venda anual de veículos novos, ainda assim, vamos precisar de 80 milhões de toneladas de cana apenas para atender ao consumo de etanol.
Claro que pode haver importação de etanol de milho, ou mesmo de gasolina A, ou redução da mistura. Seja qual for a solução paliativa, vamos esbarrar na limitação da logística para fazer o combustível importado chegar onde precisa. O mais fácil é subir os preços. Nesse caso, como em outras simulações, invariavelmente chegamos na majoração do preço do açúcar.
No curto prazo, uma eventual continuação do movimento de alta do açúcar em NY pode ser alimentada pela recompra por parte dos fundos de suas posições vendidas, tomando lucro. Eles estavam vendidos até terça-feira passada em 116.500 contratos !!! Não pode ser ignorada a existência stops de compra acionados por tradings que apostavam que o mercado continuaria a cair. Mas aí, veio a Petrobras e precisamos ver como o mercado vai reagir a essa nova redução.
O número de produção de cana no Centro-Sul ainda não vai influir no preço, mas nota-se uma predisposição por parte de algumas usinas a reduzirem seus números de moagem. O petróleo tem grande suporte no nível de 40-42 dólares por barril, abaixo do qual inviabiliza para alguns produtores. O consumo de combustíveis tem espaço para subir e demonstra que cai menos do que o PIB quando a economia se retrai e sobe mais quando o PIB sobe.
Por outro lado, caso o petróleo caia abaixo dos 40 dólares por barril e o real se valorize em relação ao dólar, novas reduções no preço da gasolina para o consumidor colocarão enorme pressão no açúcar. Pairam sobre o mercado algumas iniciativas que elevam o chão do mercado: a introdução da CIDE, o imposto de importação sobre etanol e a evolução nas discussões acerca do RenovaBio. Será que a redução no preço da gasolina vai abrir mais espaço para a reintrodução da CIDE?
Afinal, já vimos a mínima desse mercado (12.53)? Acredito piamente que sim, mas eu já estive errado outras vezes. Mas aí, veio a Petrobras, e....
A 28ª. Edição do Curso Intensivo de Futuros, Opções e Derivativos – Commodities Agrícolas (em português) da Archer Consulting, vai ocorrer dias 19 (terça), 20 (quarta) e 21 (quinta) de setembro de 2017, das 09 às 17 horas, em São Paulo - SP, no Hotel Paulista Wall Street. Faltando 13 semanas para o curso, 50% das vagas já estão preenchidas. Não deixe para a última hora.
Arnaldo Luiz Corrêa- diretor da Archer Consulting - Assessoria em Mercados de Futuros, Opções e Derivativos Ltda.