Guilherme Piai - Secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de SP
O secretário de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo, Guilherme Piai, concedeu entrevista à Revista Canavieiros, onde abordou temas essenciais para o futuro do setor sucroenergético no estado. Piai destacou o andamento das ações do Protocolo Etanol Mais Verde, além de compartilhar os desafios enfrentados pelo setor, como a estiagem e os incêndios que impactaram a produção de cana-de-açúcar. Ele também falou das iniciativas do governo estadual para incentivar a produção de biocombustíveis, como o biometano, e as expectativas para o crescimento desse setor nos próximos anos, reforçando o compromisso de São Paulo com a transição energética e a sustentabilidade. Confira!
Revista Canavieiros: O senhor pode compartilhar conosco como está o andamento das ações previstas no Protocolo Etanol Mais Verde desde sua última assinatura?
Guilherme Piai:O protocolo foi retomado e está sendo criado um grupo de trabalho com todas as partes interessadas, com isso novas ações serão organizadas e um novo planejamento será elaborado. O protocolo, firmado em 2017, conta com 130 signatárias, sendo 117 usinas (84% das unidades operantes em SP) e 13 associações de fornecedores de cana, representando mais de 5.120 fornecedores (50% dos fornecedores de cana paulistas), que se comprometem a implantar e cumprir dez diretivas técnicas de sustentabilidade, e enviar anualmente documentação de acompanhamento, com indicadores dessas diretivas.
Revista Canavieiros: Quais são os principais desafios que o setor sucroenergético enfrenta atualmente em São Paulo, e como a Secretaria está lidando com eles?
Piai: O maior desafio atualmente é o clima, principalmente a estiagem, que além de impactar na produtividade, também provocou queimadas em lavouras de cana. Os prejuízos nas plantações de cana-de-açúcar chegaram a mais de R$500 milhões, segundo levantamento da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana).
O Governo de SP, por meio da SAA - Secretaria de Agricultura e Abastecimento, viabilizou R$110 milhões para produtores afetados pelos incêndios. São R$100 milhões para o seguro rural, por meio do Feap, e R$10 milhões por meio de custeio emergencial, com crédito de R$50 mil e juro zero por produtor. Você produtor afetado pode ter mais informações pelo whatsapp da Secretaria de Agricultura (11) 94758-3927. É muito importante que os produtores entrem em contato com a gente e vejam as condições que oferecemos para que eles possam recuperar suas produções e a terra.
Revista Canavieiros: Como o governo estadual pretende incentivar a adoção de biocombustíveis, especialmente o biometano, em comparação com combustíveis fósseis?
Piai: A SAA está estruturando uma coordenação de Transição Energética, que em conjunto com a subsecretaria de Minas e Energia da Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística, está atuando para incentivar os biocombustíveis. O objetivo é identificar barreiras ao desenvolvimento da cadeia do biogás e biometano, considerando a complexidade e o impacto das medidas de incentivo, embasando a criação de políticas públicas que promovam o efetivo desenvolvimento do setor.
Revista Canavieiros: Qual é a expectativa da Secretaria em relação ao crescimento da produção de biometano nos próximos anos?
Piai: O potencial de expansão envolve a produção de 6,4 mi Nm3/dia, 2,3 bi Nm3/ano, sendo o setor sucroenergético responsável por aproximadamente 84%.
Revista Canavieiros: Quais iniciativas a Secretaria está adotando para facilitar a instalação de novas unidades de produção de biocombustíveis em São Paulo?
Piai: A Coordenação de Transição Energética da Secretaria de Agricultura, em conjunto com a SEMIL e a CETESB, está elaborando procedimentos para o licenciamento ambiental de novas unidades de produção de biocombustíveis em São Paulo. A atividade de geração de biogás e/ou biometano já está em vigor e disponível no site da Cetesb, enquanto outras atividades agropecuárias ainda estão em elaboração.
Revista Canavieiros: O senhor pode falar mais sobre as iniciativas relacionadas ao biometano e aos incentivos para veículos movidos a combustíveis mais limpos?
Piai: Em São Paulo, o governador mandou um Projeto de Lei para a assembleia que, primeiro, isenta o IPVA de caminhões e ônibus movidos a hidrogênio, biogás, biometano e os híbridos que tenham como segunda fonte o etanol. Nos próximos dois anos, a previsão é de, pelo menos, 30 novas unidades se instalem para a produção de biometano. Dessas 30, 20 estão em São Paulo. Dos 10 milhões de hectares de cana plantados no Brasil, mais de 5 milhões estão em São Paulo. Há quase 180 usinas registradas, a maioria no interior, e 70 estão a 20 quilômetros de gasodutos existentes. É o nosso pré-sal caipira.
Revista Canavieiros: Como o senhor avalia a posição de São Paulo no cenário global de produção de bioenergia? Existem planos para expandir ainda mais essa liderança?
Piai: São Paulo hoje apresenta a capacidade instalada de 0,4 mi Nm3/dia, sendo 0,14 bi Nm3/ano. O potencial de expansão envolve a produção de 6,4 mi Nm3/dia, 2,3 bi Nm3/ano, sendo o setor sucroenergético responsável por aproximadamente 84% e os 16% são de aterros sanitários. O Estado de São Paulo tem potencial para se tornar protagonista mundial no quesito transição energética. Criamos uma resolução que traz regras para a produção, armazenamento e transporte seguro dos biocombustíveis. A iniciativa é uma parceria nossa com a Cetesb (Companhia Ambiental do Estado de São Paulo). O mecanismo trará segurança jurídica e previsibilidade, permitindo assim maior atração de investimentos para o setor.
Revista Canavieiros: Em termos de sustentabilidade, quais são as próximas metas da Secretaria para o setor agroindustrial, além daquelas já estabelecidas pelo Protocolo Etanol Mais Verde?
Piai: A SAA tem metas relacionadas à segurança alimentar, à transição energética e segurança energética, bem como de contribuir com o combate à mudança climática com incentivos à descarbonização, no fortalecimento das instituições, especialmente com as câmaras setoriais e os arranjos produtivos locais.
Revista Canavieiros: O senhor poderia comentar sobre o impacto econômico esperado das novas unidades de produção de biocombustíveis previstas para os próximos anos no estado?
Piai: Como disse anteriormente, nos próximos dois anos a previsão é de que, pelo menos, 30 novas unidades se instalem para a produção de biometano. Dessas 30, 20 estão em São Paulo. E aqui nós temos o que o mercado precisa: disponibilidade hídrica, boa infraestrutura, excelente mão de obra, oferta de energia limpa e transição energética. Preparar o estado para a economia do conhecimento é o diferencial. Os impactos da produção de biocombustíveis nos levarão para maior segurança energética, na geração de empregos locais, na redução de emissão de GEE, no desenvolvimento da indústria de equipamentos e serviços para os biocombustíveis, bem como no crescimento da bioeconomia e na melhoria da qualidade do ar.
Revista Canavieiros: Como a Secretaria de Agricultura está integrando as inovações tecnológicas, como a agricultura de precisão, no setor sucroenergético?
Piai: A SAA está buscando conhecer todas as tecnologias disponíveis para a habilitação das mesmas no setor e assim difundindo essas tecnologias, não só no setor sucroenergético, mas também para todo agro.
Revista Canavieiros: Como o senhor vê o futuro da transição energética em São Paulo, especialmente no setor sucroenergético?
Piai: O futuro é agora, o setor tem todas as ferramentas para investir em plantas de usinas de biogás e biometano, e quando isso for feito mais rápido será o nosso retorno. Estamos empenhados e não vamos perder nenhuma oportunidade. Sabemos o tamanho da responsabilidade, mas estamos prontos para assumir o protagonismo no Brasil e no mundo. Temos todo o apoio do governador Tarcísio de Freitas e essa é uma pauta que ele também está muito empenhado. Agora em setembro o Governo de SP lançou a plataforma digital Conecta Biometano SP, uma nova ferramenta para conectar representantes da cadeia de suprimentos de biometano com investidores e desenvolvedores de projetos de descarbonização. É mais uma novidade para mostrar que São Paulo é protagonista nesse tema. A plataforma permitirá que empresas e gestores públicos encontrem possíveis fornecedores e parceiros para a viabilização de projetos voltados à transição energética e redução de emissões de gases do efeito estufa no estado.