Em busca da perfeição no plantio com a meiosi

10/10/2020 Cana-de-Açúcar POR: Marino Guerra

Quando a mente se abre para a tecnologia, os desafios são superados

Caminhões-tanque da Fazenda São José trabalham de modo ininterrupto irrigando as linhas-mãe até a chuva "firmar"

“Sem a Meiosi é quase impossível para o produtor que cultiva uma área considerável da cultura de cana de açúcar executar todo seu plantio o mais bem feito possível”, a frase foi dita pelo cooperado Paulo Maximiano Junqueira Neto, que ao lado do filho André Maximiano Junqueira, decidiram ano passado reassumir a totalidade dos canaviais que possuem (que estavam em regime de parceria com uma unidade industrial) voltando a cultivar 3,3 mil hectares.

Finalizaram a primeira safra pós retorno em 12 de outubro, executando todos os processos, inclusive a colheita, transbordo e transporte. Os produtores se mostram convictos quanto a utilização da Meiosi como técnica imprescindível, pretendendo caminhar o máximo possível para este plantio.

Claro que o crescimento virá de forma proporcional, dentro de um processo iniciado com André, em 2018, em área inferior a atual (800 hectares de cana). Na estreia seu planejamento era de reformar aproximadamente 100 hectares, desdobrando na escala de um para dez, com a rua mãe formada em linha dupla através do plantio de MPB no mês de outubro.

Os que possuem uma boa memória sobre as condições climáticas já recordaram que o período foi marcado por dois pesados veranicos (o primeiro entre novembro e dezembro e o segundo em janeiro), atingindo em cheio as linhas mães que haviam brotado muito bem, mas que não tinham como ser irrigadas depois de estarem maiores em decorrência do plantio de soja entre elas.

Pai e filho (Paulo e André Junqueira) encerraram a primeira safra após a retomada, no dia 12 de outubro, e, no ciclo, puderam contar com o apoio da Copercana, representada pelo RTV de Serrana, Arthur Feierabend Neto

Resultado: um grande sofrimento vegetal, principalmente por ter sido ampliado pela impossibilidade da entrada de máquinas para a aplicação de adubos e/ou defensivos, também pelo fato do plantio do grão ter sido feito muito próximo às linhas mães. Com isso houve uma produtividade muito baixa, insuficiente para cobrir toda área, além de mudas de baixa qualidade, que influenciaram ainda mais nos resultados.

O desastre faria com que muitas pessoas desistissem e voltassem a zona de conforto, mas André decidiu seguir por um outro caminho. Estudou os problemas, mudou alguns manejos e em 2019 partiu para o segundo ano num plantio de 40 hectares, permanecendo com as linhas duplas, mas diminuindo a desdobra em um para seis, além de antecipar o plantio para o fim de agosto.

Outra ação importante foi a busca por um parceiro no cultivo da soja em rotação de cultura experiente na adoção de técnicas de agricultura de precisão, principalmente observando a aplicação de herbicidas, o tráfego das máquinas e o respeito de uma distância mais confortável para que os tratos das linhas mães não fossem comprometidos (segundo André, de pelo menos um metro).

As mudanças surtiram efeito, fazendo com que o manejo de formação das linhas-mãe do corrente ano fosse ajustado e ampliado, acrescentando a formação de uma Cantosi de MPB plantada em outubro de 2019, a volta por uma formação mais tardia (fim de setembro) e o aumento da área de plantio para 160 hectares.

Uma característica importante do manejo é a opção pelo plantio direto, tanto da soja na entrelinha, como da cana no momento da desdobra. Para os produtores a prática é mais viável por reduzir o número de operações (somente antes de semear o grão são reduzidas pelo menos quatro operações) significando menor custo e compactação do solo, além da retenção de umidade, o que pode ser decisivo para o sucesso ou fracasso das linhas mães.

Aplicação de corretivo à taxa variável (caminhão da Copercana prestando o serviço), paralelismo das linhas através do uso de GPS desde a passagem da primeira grade na formação das linhas-mães, distanciamento entre a linha e a cultura de rotação de um metro e plantio direto da soja - exemplos de manejos baseados nos conceitos da Agricultura de Precisão

Falando em irrigação, a estrutura da fazenda conta com três caminhões tanque com capacidade de 15 mil litros que despejam uma lâmina de 10 mm por passada até que as chuvas regulares se firmem.

Quanto ao preparo de solo, é padrão, sendo mantido também nos plantios de Meiosi a correção baseada na análise de solo via aplicação por taxa variada, calcário, gesso e fósforo. Com isso mantem-se um paralelismo entre as linhas buscando a perfeição nesse quesito, o uso do GPS já começa na primeira passada do trator, geralmente com a grade pesada, que vai cultivar somente o local onde serão instaladas as linhas-mãe.

Na nutrição, é colocado no sulco 20 pontos a mais de fósforo. Já sobre as infestações de mato competição, o principal desafio atualmente está no combate às folhas largas, o qual é feito em sua grande maioria via catação.

Finalizando, os produtores também lembram da importância da Meiosi na introdução de novas variedades e destacam a RB975375 como um dos destaques nesses três anos de caminhada, isso por entouceirar muito, além de formar uma cana grossa num intervalo curto de tempo.

Não é tarefa para amadores voltar a produzir cana (executando todos os processos) numa área considerável e praticamente em situação de abandono. Para se ter ideia, a média de reforma até a produtividade e qualidade ficarem do jeito que os produtores almejam, será de mil hectares nos próximos três anos.

Mais uma prova na forma com que pai e filho encaram os desafios, tentando utilizar o máximo possível as novas tecnologias como ferramenta, tanto quanto os novos experimentos que surgem no setor.

“Nascemos neste solo maravilhoso da nossa região, nele tiramos o sustento para nossa família e de mais de uma centena de colaboradores diretos. País de oportunidades impar a todos que trabalham com a terra, produzem com respeito ao meio ambiente e sustentabilidade, geram receita, renda e riqueza para o Brasil, alimentando o mundo”, completou Paulo Junqueira.

Brotação da linha-mãe, mesmo na seca com menos de 15 dias do plantio