Fernanda Dias Pereira - Engenheira agrônoma e fitopatologista
Graduada em Engenharia Agronômica pela UNESP/FCAV, Fernanda Dias Pereira possui Mestrado, Doutorado e Pós-Doutorado em Agronomia, com ênfase em Fitopatologia, pela mesma instituição. Durante sua trajetória acadêmica, atuou como docente na UNESP/FCAV, ministrando disciplinas essenciais como Fitopatologia, Doenças das Grandes Culturas e Doenças das Frutíferas e Olerícolas, e desempenhou um papel ativo na formação do CEPENFITO - Centro de Pesquisa em Engenharia - Fitossanidade em Cana-de-Açúcar. Além do seu compromisso com o ensino e pesquisa, é fundadora da AgroSan - Laboratório e Consultoria Agrícola e Co-fundadora da CROPPEN - Soluções em Proteção de Plantas, empresas no setor agrícola. Atualmente desempenha um papel fundamental na área de Fitopatologia. Seu trabalho consiste em liderar pesquisas e desenvolver soluções inovadoras para a proteção de plantas, contribuindo significativamente para o avanço do setor. A conversa com a reportagem da Revista Canavieiros abrange vários aspectos da carreira da Dra. Fernanda Dias Pereira, proporcionando uma visão ampla e detalhada de sua trajetória e impacto no setor agrícola. Confira!
Revista Canavieiros: O que motivou a seguir a carreira de Engenharia Agronômica?
Fernanda Dias Pereira: Minha motivação não surgiu de uma vocação precoce, mas sim como uma resposta pragmática às circunstâncias e limitações. Crescendo em Jaboticabal, minha cidade natal, as opções de cursos oferecidos pela FCAV/UNESP se tornaram a base das minhas escolhas. Dentre as opções disponíveis, percebi que a Engenharia Agronômica representava uma escolha viável e promissora, pois a instituição é renomada e repleta de oportunidades. Além disso, a Engenharia Agronômica me permitiria abordar e solucionar problemas complexos relacionados à sustentabilidade, produção de alimentos e desenvolvimento rural. Essas áreas são fundamentais para o futuro da agricultura e do meio ambiente, e foi esse reconhecimento que consolidou minha decisão de seguir essa carreira.
Revista Canavieiros: O que a levou a escolher a Fitopatologia como área de especialização?
Fernanda: Minha escolha foi influenciada pela possibilidade de atrelar de forma prática outras áreas de conhecimento às quais tinha interesse. A Fitopatologia é uma área que demanda uma abordagem interdisciplinar, algo que sempre valorizei. Ela me permite trabalhar com uma variedade de técnicas e conceitos, desde a microbiologia até a genética, e aplicar esses conhecimentos de maneira prática para resolver problemas agronômicos. Isso mantém meu trabalho interessante e desafiador, alimentando minha motivação para buscar sempre mais conhecimento e enfrentar novos desafios.
Revista Canavieiros: Como foi a transição de estudante para docente na mesma instituição?
Fernanda: A transição foi marcada por desafios e oportunidades únicas e gratificantes. Como estudante, eu estava acostumada a receber orientações e feedback, enquanto como docente, passei a ser a fonte dessas orientações. Isso exigiu uma mudança significativa na forma como eu me comunicava e na minha abordagem ao ensino. Tive a sorte de contar com o apoio de mentores, como o Prof. Dr. Antônio de Goes, Profa. Dra. Rita de Cassia Panizzi, Prof. Dr. Modesto Barreto, entre outros, que me ajudaram a navegar por essa nova fase. A experiência de já estar familiarizada com a instituição e suas práticas foi uma vantagem, mas também significou que eu precisava me estabelecer como uma autoridade em meu campo entre aqueles que antes eram meus professores. Sempre vi minha transição de estudante para docente como uma oportunidade de contribuir para a formação de novos profissionais e para a disseminação de conhecimentos importantes para a sociedade.
Revista Canavieiros: Como foi a experiência de lecionar disciplinas como Fitopatologia, Doenças das Grandes Culturas e Doenças das Frutíferas e Olerícolas?
Fernanda: Lecionar essas disciplinas foi uma jornada de constante aprendizado e adaptação. Cada disciplina trouxe suas próprias peculiaridades e demandas, mas todas compartilharam o objetivo comum de preparar os alunos para enfrentar os desafios que os produtores encontram no campo. A necessidade de combinar teoria com prática, manter o conteúdo atualizado e enfrentar desafios inesperados, como a pandemia, destacou a importância da flexibilidade e da inovação no ensino. Essas experiências não apenas enriqueceram meu próprio conhecimento, mas também servirão de base para que muitos alunos enfrentem os desafios não só no campo da agronomia e da fitopatologia, mas também na vida. Acredito que a capacidade de adaptação e a busca contínua por soluções inovadoras são fundamentais para formar profissionais resilientes e bem preparados para o futuro.
Revista Canavieiros: Qual foi o seu papel na formação do Pilar da Fitopatologia do CEPENFITO?
Fernanda: Minha participação foi marcada por um intenso trabalho de planejamento, desenvolvimento de projetos de pesquisa e elaboração de cronogramas detalhados em o conjunto com o Prof. Dr. Antônio de Goes, pesquisador principal do pilar da Fitopatologia, entre outros pesquisadores. Esses esforços foram essenciais para atender aos rigorosos critérios de avaliação de instituições como a FAPESP e as necessidades do Grupo São Martinho, garantindo o sucesso da candidatura do CEPENFITO como centro de pesquisa e contribuindo significativamente para o avanço da fitopatologia no Brasil.
Revista Canavieiros: Quais são as principais atividades que você realiza na área de Fitopatologia?
Fernanda: Realizo diversas atividades que abrangem desde pesquisas até consultoria e treinamento. Posso citar as principais: estudos de screeningin vitro para identificar a eficácia de diferentes compostos no controle de patógenos de plantas; testes de eficiência de agrotóxicos tanto em laboratório quanto a campo; consultoria para produtores e empresas agrícolas, ajudando-os a identificar e manejar doenças de plantas de maneira eficaz; treinamentos para agricultores, técnicos e profissionais da área agrícola sobre o manejo de doenças de plantas, uso correto e seguro de agrotóxicos, e técnicas de diagnóstico de patógenos; desenvolvo e implemento protocolos personalizados de manejo de doenças para diferentes culturas; realizo monitoramento contínuo das principais doenças que afetam as culturas, identificando novas ameaças e ajudando na tomada de decisão e participo de projetos de pesquisa colaborativos com instituições acadêmicas e empresas, visando ao desenvolvimento de novas tecnologias e métodos de controle fitossanitário. Estas atividades não apenas ajudam a resolver problemas enfrentados pelos produtores, mas também contribuem para o avanço da fitopatologia.
Revista Canavieiros: Como você vê o futuro da proteção de plantas e quais são as tendências mais promissoras nesse campo?
Fernanda: Vejo como uma área de constante evolução e inovação, com várias tendências promissoras que estão moldando a maneira como enfrentamos os desafios fitossanitários. Acredito que o uso de produtos biológicos será a nova realidade na proteção de plantas. Produtos biológicos, como biofungicidas, bionematicidas e biofertilizantes estão ganhando destaque devido à sua capacidade de oferecer soluções sustentáveis para o manejo de doenças, pragas e nematoides. Eles são derivados de organismos naturais, como bactérias, fungos e plantas, e podem ser altamente eficazes em controlar patógenos específicos sem causar danos ao meio ambiente ou à saúde humana. Embora os produtos biológicos estejam emergindo como uma tendência importante, é fundamental reconhecer que eles não substituirão completamente os produtos químicos. Em muitas situações, o uso combinado de produtos biológicos e químicos será necessário para alcançar um controle eficaz de fitopatógenos, pragas e nematoides. Essa abordagem integrada permite que se aproveitem os pontos fortes de ambos os tipos de produtos, minimizando a resistência dos patógenos e pragas e reduzindo o impacto ambiental. A agricultura de precisão está revolucionando o campo da proteção de plantas ao permitir a aplicação precisa de produtos fitossanitários. Com o uso de tecnologias avançadas, como drones, sensores e sistemas de GPS, os agricultores podem monitorar suas culturas em tempo real e aplicar tratamentos específicos apenas nas áreas que realmente precisam. Isso pode aumentar a eficiência do uso de agrotóxicos, reduzindo custos e impactos ambientais. O futuro da proteção de plantas também está sendo moldado pelo desenvolvimento de novas tecnologias, como a edição genética (por exemplo, CRISPR) e a nanotecnologia. Essas tecnologias têm o potencial de “criar” plantas resistentes a doenças e pragas, além de desenvolver novos métodos de entrega de produtos fitossanitários que são mais eficazes e menos prejudiciais ao meio ambiente. Hoje a sociedade clama por práticas agrícolas mais sustentáveis. Isso inclui o uso de produtos biológicos e a implementação de sistemas agrícolas regenerativos que promovem a saúde do solo e a biodiversidade. Finalmente, a educação e a capacitação de agricultores e profissionais agrícolas serão essenciais para o sucesso dessas tendências. Treinamentos sobre o uso correto de produtos biológicos e químicos, bem como a implementação de práticas de agricultura de precisão, garantirão que as novas tecnologias e métodos sejam adotados de maneira eficaz e sustentável.
Revista Canavieiros: Como você vê a evolução da fitopatologia e da agronomia no Brasil?
Fernanda: Vejo com grande otimismo e entusiasmo. O país possui um dos setores agrícolas mais dinâmicos e inovadores do mundo, e várias tendências promissoras estão impulsionando essas áreas. A adoção de novas tecnologias tem sido um motor significativo de transformação na fitopatologia e na agronomia. Ferramentas como agricultura de precisão, drones, sensores e big data estão revolucionando a maneira como monitoramos e manejamos as culturas. Essas tecnologias permitem uma gestão mais eficiente e sustentável das lavouras, reduzindo perdas e otimizando a produtividade. O investimento em pesquisa e desenvolvimento (P&D) é crucial para a evolução da fitopatologia e da agronomia no Brasil. Instituições privadas de pesquisas e diversas universidades estão na vanguarda das pesquisas, desenvolvendo métodos de controle mais eficazes e sustentáveis. Esses avanços são essenciais para manter a competitividade do agronegócio brasileiro no cenário global. A formação e a capacitação contínua de agricultores e profissionais do setor são fundamentais para a evolução da fitopatologia e da agronomia. Programas de extensão rural, cursos de atualização e treinamentos específicos são essenciais para disseminar as inovações e garantir a adoção de melhores práticas agrícolas em todo o país. Parcerias entre o setor público e o privado estão sendo fundamentais para o avanço da fitopatologia e da agronomia no Brasil. Essas colaborações facilitam a transferência de tecnologia, o financiamento de pesquisas e o desenvolvimento de soluções inovadoras que atendem às necessidades do setor agrícola. Embora haja inúmeras oportunidades, o setor agrícola também enfrenta desafios significativos, como a necessidade de adaptação às mudanças climáticas, o combate a novas doenças e pragas, e a implementação de políticas públicas que promovam a inovação e a sustentabilidade. No entanto, a capacidade de inovação e a robustez do setor agrícola brasileiro são fatores que apontam para um futuro promissor.
Revista Canavieiros: Que conselhos daria para os jovens que estão começando suas carreiras na área de agronomia e fitopatologia?
Fernanda: Dar conselhos para jovens que estão começando suas carreiras é uma responsabilidade significativa. Cada carreira é única e as experiências individuais variam amplamente, mas acredito que algumas dicas podem ser úteis em diversos momentos de suas trajetórias profissionais. Aqui estão algumas sugestões que considero importantes: mantenha-se atualizado com as últimas pesquisas, tecnologias e práticas agrícolas; participe de seminários, workshops e conferências para ampliar seu conhecimento e rede de contatos; construa uma rede de contatos com profissionais, colegas de classe e especialistas do setor. A integração de diferentes disciplinas pode proporcionar uma compreensão mais abrangente dos desafios e soluções na agricultura. Combine conhecimentos de biologia, química, matemática, tecnologia e gestão para desenvolver abordagens inovadoras e eficazes; além do conhecimento teórico, desenvolva habilidades práticas no campo; desenvolva resiliência e adaptabilidade para lidar com as incertezas do setor agrícola, como mudanças climáticas e novas doenças; esteja aberto a novas tecnologias e metodologias e envolva-se em programas de extensão rural e treinamento de agricultores.