O fogo atingiu 80% das áreas experimentais e 50% do viveiro de mudas do Centro de Cana do IAC, gerando impactos para o setor canavieiro e a pesquisa agronômica
O Centro de Cana do Instituto Agronômico (IAC-Apta) em Ribeirão Preto, um dos mais importantes centros de pesquisa sobre cana-de-açúcar do Brasil, foi afetado pelos recentes incêndios ocorridos no interior de São Paulo. Com uma produção anual entre 2,5 e 3 milhões de mudas, o viveiro do IAC teve 50% de suas instalações destruídas, enquanto 80% dos experimentos em andamento foram comprometidos.
Marcos Landell, diretor-geral do IAC
Na última segunda-feira (26), o diretor-geral do IAC, Marcos Landell, detalhou os prejuízos e os desafios que o instituto enfrentará nos próximos meses. “Estes incêndios atingiram de forma devastadora o nosso Centro de Cana-de-Açúcar. Estimamos que 80% das áreas experimentais foram destruídas. Embora tomemos medidas para minimizar as perdas, alguns danos são irreparáveis e só poderão ser recuperados em ciclos futuros”, lamentou Landell.
Recuperação e impactos na produção
Apesar dos danos, há esperança na recuperação dos experimentos a partir da rebrota da cana. “A cana tem a capacidade de rebrotar após o corte, o que nos permite, em alguns casos, realizar avaliações no ciclo seguinte. Porém, este processo de recuperação pode atrasar nosso trabalho em até um ano”, explicou Landell. A recuperação, no entanto, é mais complicada em experimentos com cana recém-plantada ou em estágio inicial, onde a perda de vigor pode comprometer o desenvolvimento de novas variedades.
Os efeitos dos incêndios também se estendem aos canaviais comerciais, que precisarão colher a cana queimada o mais rápido possível para evitar perdas maiores na qualidade da matéria-prima destinada à produção de açúcar e etanol. Segundo Landell, “cada dia que passa, a qualidade da cana deteriora, impactando negativamente a eficiência industrial e aumentando os custos de produção”.
Antonio Eduardo Tonielo, conselheiro do Grupo Viralcool
O Conselheiro do Grupo Viralcool, Antonio Eduardo Tonielo, expressou sua preocupação com os danos causados pelas chamas, destacando a gravidade da situação e a mobilização do governador Tarcísio de Freitas, que prontamente instalou um gabinete de crise na região para lidar com a emergência. Segundo Tonielo, o impacto dos incêndios foi imenso, comprometendo não apenas as plantações de cana-de-açúcar, mas também afetando infraestrutura, criação de animais e pastagens, deixando um rastro de destruição sem precedentes. “Agora vamos torcer para conseguir moer toda essa cana que foi queimada o quando antes para que o prejuízo não seja ainda maior”, disse Tonielo.
Viveiro de mudas e o setor de MPB (Mudas Pré-Brotadas)
Mauro Xavier, diretor do Centro de Cana
O diretor do Centro de Cana, Mauro Xavier, ressaltou as dificuldades que o incêndio trouxe para a produção de mudas. “Nosso planejamento foi comprometido. Perder 50% do viveiro significa que todo o processo de produção de mudas precisa ser replanejado, o que impacta diretamente a oferta para o próximo ano”, afirmou Xavier.
Perspectivas para o futuro
A recuperação dos canaviais e a retomada dos experimentos e da produção de mudas representam um grande desafio para o IAC e para os produtores de cana-de-açúcar da região. Além dos impactos diretos, há a preocupação com a produtividade futura, uma vez que as variedades afetadas pelo fogo podem não brotar de maneira uniforme, gerando falhas nos canaviais e redução na produção.
Para além dos impactos imediatos, Landell também destacou o trabalho contínuo do IAC no desenvolvimento de variedades mais resistentes e na promoção do corte mecânico de cana crua, que, segundo ele, traz inúmeras vantagens ambientais e produtivas. “Ninguém quer mais a cana queimada. O fogo não traz benefícios para a pesquisa, para os canavicultores ou para a população”, concluiu.
50% do viveiro de mudas do IAC foi comprometido pelo fogo