Notas sobre canaviais das regiões norte e nordeste do Estado de São Paulo

01/07/2021 Cana-de-Açúcar POR: José Mario Paro

José Mario Paro - cooperado e produtor rural

 

1 – Apresentação

Há vários anos, a cada início de safra, circulo pelos canaviais da região fazendo avaliações para uso de nossa empresa. Neste ano de tantas adversidades climáticas, procurei ampliar o alcance destas avaliações e divulgar os resultados.

2 – Metodologia

Com centro em Bebedouro/SP, foi demarcado em mapa rodoviário um círculo de 50km de raio, que tangencia as cidades de Sertãozinho, Jaboticabal, Catanduva, Olímpia, Barretos e Morro Agudo.

Compreende canaviais de doze unidades industriais em uma área total de 750 mil hectares e estimados 650 mil hectares de áreas de cultivo.

Para amostragem foram definidos dez roteiros em função das informações disponíveis, percorridos de 29/04/21 a 13/05/21, tendo sidos rodados quase 1.000km de rodovias, estradas vicinais e caminhos, com veículo próprio e motorista.

Pela dimensão das amostragens, não foi possível ter rigor cientifico na coleta de dados.

3 – Avaliação geral

O impacto de tantas adversidades resultou em canaviais com muitas falhas, estressados e com produção severamente comprometida.

Questão importante na análise dos dados obtidos é não tomar a safra 20/21 como parâmetro. Esta safra excepcional foi um ponto fora da curva.

Em nossa empresa, estamos trabalhando com as médias históricas de nossos canaviais.

4 – Avaliação da safra 21/22

Somaram-se incríveis condições adversas:

  1. a) sucessão de três anos com poucas chuvas;
  2. b) invernos com temperaturas acima da média;
  3. c) temperaturas extremas nos meses de setembro, outubro e novembro;
  4. d) extensão do presente déficit hídrico até setembro/21, pelas previsões do clima;
  5. e) grandes áreas de solos vermelhos e avermelhados (maiores teores de argila) apresentando compactação, que potencializa o déficit hídrico;
  6. f) canaviais secando, em manchas, sinalizando problemas à frente.

* Observa-se concentração dos canaviais com produtividades de 60 a 100 ton/ha, que vêm sendo confirmadas pelos dados de áreas já colhidas.

Observações:

1 – Existem microrregiões com canas boas e muito boas, em áreas de aplicação de vinhaça; em solos com maior capacidade de retenção de água; canaviais mais novos;

2 – O trecho contínuo mais longo com canas boas e muito boas foi visto na estrada municipal que liga o Porto de Areia, em Jaborandi, à cidade de Barretos;

3 – O trecho contínuo mais longo com canas ruins e muito ruins foi visto às margens da Rodovia Washington Luiz, no trecho Catanduva a São José do Rio Preto.

5 – Plantio 20/21

Estas áreas também foram afetadas pela falta de chuvas:

- não ter mudas prontas no tempo certo;

- dificuldades no preparo dos solos, em especial nas terras vermelhas;

- plantio interrompido.

Numa visão abrangente poderão ser observadas as situações:

- 75% a 80% do plantio com canas bem brotadas;

- 10% a 15% com brotação irregular;

- 5% a 10% - áreas em que dificilmente a cana se estabelecerá.

6 – Áreas em pousio (descanso)

Neste cenário áspero chama atenção a quantidade de áreas em pousio (sem nenhum cultivo), como há muito não se via.

Estas áreas - pousio – concentram-se nos municípios de Barretos, Morro Agudo, Jaborandi, Terra Roxa, Viradouro, Pitangueiras e Jaboticabal, no círculo 50km de raio estabelecido.

7 – Tendências

Em um cenário tão desafiador é natural que os produtores se preocupem com as questões imediatas:

  1. a) reforma dos canaviais acima da média histórica, pela ocorrência de soqueiras de má qualidade e pelo incentivo dos bons preços do amendoim e da soja;
  2. b) plantio de cana 21/22 ainda indefinido.

A decisão por eventual segundo plantio de grãos é arriscada, pois as reformas irão se acumulando e, no limite, poderão dificultar a reposição do canavial.

Chegará o momento em que os preços do amendoim e da soja não serão remuneradores.

Nesta situação, caso o produtor esteja com os canaviais desestabilizados, corre o risco de não conseguir se manter na atividade.

8 – Conclusão

Tenho plena convicção de que o melhor investimento a ser feito pelos produtores é o cultivo das soqueiras. Será investimento de curto prazo – 12 meses – e seguro, pois na safra 22/23 os preços do ATR continuarão bons.

Boa safra a todos!