Novos investimentos em etanol
28/05/2012
Etanol
POR: Tribuna da Bahia / Portal Dia de Campo
O Plano de Negócios 2011 – 2015 da Petrobras traz uma previsão de investimentos no aumento da produção do etanol equivalentes a US$1,9 bilhão. O cumprimento dessa meta requer a construção de unidades industriais de grande porte integradas a imensas áreas plantadas de cana-de-açúcar com elevada produtividade agrícola.
A produtividade alcançada no Nordeste em plantações no sequeiro, principalmente em Alagoas e Pernambuco, alcançam 50 t/ha, contra 90 t/ha obtidas nas terras férteis de Sertãozinho, São Paulo, e adjacências.
Em Juazeiro, na Bahia, o bem-sucedido projeto pioneiro de cana irrigada da Agrovale projetava, em seu início, há 32 anos, uma produtividade de 120 t/ha, tendo atingido a surpreendente marca de 240 t/ha nos últimos 5 anos com a irrigação subterrânea por gotejamento.
Se a Petrobras Biocombustíveis decidisse participar acionariamente de projetos para produção de etanol no Nordeste, viabilizaria vários investimentos previstos para serem implantados em áreas localizadas nas margens do Rio São Francisco onde existem vastas extensões de terras planas, de fácil mecanização da colheita. A viabilidade depende da aplicação de novas técnicas de irrigação de baixo consumo de água, como as de domínio da Agrovale, e permitiria o aproveitamento de terras consideradas pobres para o cultivo da cana.
Por outro lado, a presença da Petrobras encorajaria investidores internacionais desejosos de participar do negócio álcool e viabilizaria a participação deles nos projetos integrados, por serem barrados pela legislação que limita a propriedade da área de terra para capitais estrangeiros em até 5.000 hectares.
O etanol tem sido usado amplamente no Brasil, em larga escala, como combustível automotivo, misturado à gasolina ou puro, por conta da tecnologia dos motores flex, no mais bem-sucedido programa de uso de combustíveis alternativos e de matéria prima renovável. Seu uso na fabricação do biodiesel, em substituição ao tradicional metanol, importado atualmente pelo Brasil, é uma realidade, dependendo apenas de alguns ajustes técnicos para ser competitivo de forma plena.
Ademais, o uso do etanol como matéria-prima na fabricação do plástico verde e de toda uma gama de produtos derivados, componentes da alcoolquímica, abre perspectivas alvissareiras para esse produto cuja tecnologia do processo produtivo e de fabricação de máquinas e equipamentos é dominada por empresas brasileiras.
As pesquisas que são realizadas nesse campo, inclusive na fabricação de etanol via hidrólise enzimática da celulose, possibilitarão, em futuro breve, a duplicação da produção desse álcool sem aumento da área de terra plantada.
Contudo, uma hesitação inexplicável e difícil de entender impede a Petrobras e suas empresas de participarem de projetos de cana-de-açúcar irrigada, o que limita suas ações de realização dos investimentos previstos em seu Plano de Negócios para as terras de boa qualidade das regiões Sul e Sudeste, longe do semiárido nordestino, fazendo a Bahia ficar fora dessa grande oportunidade.
Alguns projetos, localizados nos municípios de Pilão Arcado e Barra, estão nessa situação. Os grupos estrangeiros não participam desses projetos impedidos que são pelo limite da propriedade da terra e a Petrobras, por decisão interna mal explicada.
A limitação do capital estrangeiro na propriedade da terra é de todo conveniente, principalmente pelo valor estratégico que ostenta, nesse momento em que a população do planeta ultrapassa os 7 bilhões de habitantes e a produção de energia com fontes alternativas passa a ser uma vantagem comparativa das maiores para fortalecimento da nação brasileira.
Entretanto, a proibição do uso de irrigação no semiárido não colabora em nada com os propósitos de geração de emprego e renda bem distribuída, indispensável aos desejos de promoção do desenvolvimento econômico.
Se persistirem os obstáculos aqui apontados, fáceis de serem removidos por ação política, a Bahia estará perdendo a chance de pongar mais uma vez no estribo do bonde que está passando, tendo de se contentar com lamentações e mais uma perda de oportunidade.