A afirmação é do presidente da Embrapa, Maurício Lopes, ao falar sobre o futuro da agricultura em evento realizado pela ABAG/RP (Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto), e do IBISA (Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade do Agronegócio), em Ribeirão Preto-SP, no dia 19 de abril. (ver matéria página 98/99). Segundo Lopes, a próxima grande revolução da agricultura no cinturão tropical do Globo está baseada no paradigma dos sistemas integrados.
“É preciso trabalhar o conceito da integração sustentável. Uma agricultura que economiza recurso natural, de baixo impacto, de baixa emissão, de maior eficiência. O processo de intensificação sustentável da agricultura brasileira está em curso. No ano passado nós fizemos uma pesquisa e chegamos à conclusão que o Brasil já tem mais de 11 milhões de hectares de sistemas integrados”, ressaltou ele, afirmando que este é um modelo de produção que deverá se expandir cada vez mais, permitindo fazer algo que “talvez o Brasil seja um dos pouquíssimos países no planeta capaz de fazer, uma produção diversificada de baixa emissão de carbono”, refletiu.
Um dia após participar do evento em Ribeirão Preto-SP, o presidente da Embrapa foi condecorado com a medalha da Ordem de Rio Branco, no grau de Comendador, em cerimônia no Palácio do Itamaraty, em Brasília. A Ordem de Rio Branco é a mais alta condecoração da diplomacia brasileira e homenageia pessoas físicas, jurídicas, corporações militares, instituições civis nacionais ou estrangeiras pelos seus serviços e méritos excepcionais. “Se fui merecedor de tão importante reconhecimento, tudo devo a uma organização extraordinária, chamada Embrapa, aos meus colegas e colaboradores, além dos muitos parceiros no Brasil e no exterior, que ajudam a fazer da pesquisa agropecuária brasileira uma das mais eficientes e reconhecidas do mundo. Este reconhecimento me estimula a seguir fazendo sempre o melhor pela nossa agricultura e pelo nosso Brasil”, afirmou. Confira a entrevista dada à Revista Canavieiros:
Revista Canavieiros: Na sua avaliação, qual é o principal gargalo hoje da Embrapa na questão de pesquisa e desenvolvimento para a empresa?
Maurício Lopes: A Embrapa é uma instituição já muito consolidada, comemora 44 anos no dia 27 de abril. Uma empresa, que apesar de jovem, deu muita contribuição importante para o Brasil, para a agricultura do país e ela segue com foco muito centrado nos desafios da agricultura no presente e nos desafios que virão do futuro. Óbvio que a grande limitação da pesquisa pública, não só no Brasil, mas praticamente em todo o mundo, é recurso. Em um momento em que os métodos de se fazer, de se buscar inovação se tornam cada vez mais complexos, cada vez mais sofisticados -, estamos vivendo na era da transformação digital, da automação na agricultura -, todas as agriculturas, seja de pequena, média ou grandes escalas vão passar por um processo rápido de evolução incorporando máquinas, equipamentos, conceitos e ferramentas cada vez mais sofisticadas. A pesquisa precisa estar na fronteira do conhecimento, isso também significa que precisamos estar muito atualizados em termos de competência, pessoas treinadas, habilitadas em termos de infraestrutura, uma infraestrutura coerente com os desafios da agricultura e condizente com o tamanho e a importância da agricultura brasileira. Então, ter recurso para garantir que a empresa esteja sempre capaz de dar resposta para a agricultura brasileira é sempre um grande desafio.
Revista Canavieiros: E como a Embrapa tem conseguido trabalhar com a limitação de recurso do Governo Federal?
Lopes: Com muita criatividade. Nos últimos anos, temos nos aproximado muito do setor privado, que aliás é uma grande vantagem.
A pesquisa precisa estar atuando de forma muito integrada, muito alinhada com o setor produtivo, porque a instituição de pesquisa operando sozinha não produz inovação. A inovação acontece no mundo privado, nas empresas, nas fazendas, então a gente tem buscado uma aproximação cada vez maior com o setor produtivo, com as empresas. Também temos buscado outras fontes de recursos, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social). Conseguimos uma aproximação muito boa com o banco de fomento. A empresa conseguiu projetos importantes de grande porte com o BNDES, temos projeto de grande porte na área de aquicultura, que é uma área nova que a Embrapa tem investido muito; Fundo Amazônia, uma série de outros projetos, e hoje temos cerca de 400 acordos e contratos com parceiros, públicos, privados, nacionais e internacionais.
Revista Canavieiros: E do investimento da Embrapa quanto é orçamento público e privado?
Lopes: Ainda a participação desse orçamento, digamos, alternativo, que não significa orçamento de Tesouro, já vem de outras fontes de recursos, cerca de 20% do orçamento operacional. Nós ainda somos muito dependentes do Tesouro Nacional, vamos seguir com uma dependência ainda grande porque muitas vezes temos que investir em projetos de longo prazo, de alto risco que não são tão atrativos para o setor produtivo, mas a ideia é que também tenhamos mecanismos novos para vender ativos, para combinar ativos com o setor produtivo. A Embrapa tem hoje tramitando no Congresso um Projeto de Lei, onde solicitamos autorização do Governo para abrir uma subsidiária chamada Embrapa Tecnologias SA, ou Embrapatec (subsidiária que está sendo criada para concentrar a comercialização de biotecnologias desenvolvidas pela empresa.) A ideia é que, tendo um braço formatado e habilitado para operar no mercado de inovações, a Embrapa possa fazer fluir o conhecimento e os ativos que gera de maneira mais rápida para o mercado de inovações. Nós estamos com a expectativa muito grande que com a aprovação da Embrapatec, a Embrapa terá novos mecanismos e mais força para operar em sintonia com o setor produtivo.
Revista Canavieiros: A agricultura brasileira deu saltos extraordinários nos últimos anos, mas os desafios são muitos para que o setor continue crescendo com eficiência e sustentabilidade. Na sua opinião, de onde virá o novo salto da agricultura brasileira?
Lopes: Para a Embrapa temos dois grandes desafios para darmos novos saltos. O primeiro deles é sintetizar no termo intensificação sustentável.
Nós temos a realidade do Código Florestal que nos limita na expansão de área agrícola. Teremos que expandir a agricultura em áreas já abertas, por exemplo, as áreas de pastos degradados ou aumentar a eficiência e produtividade na agricultura que ainda tem produtividade relativamente baixa. Nos próximos anos vamos ter que desenvolver tecnologias, conhecimentos, práticas para intensificar o uso das áreas que já estão abertas. A Embrapa tem desenvolvido com muito sucesso modelos de produção integrada; modelos para recuperação de pastagens degradadas, os sistemas chamados ILP (Integração Lavoura-Pecuária) ou ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). No ano passado fizemos uma pesquisa e chegamos à conclusão que o Brasil já tem mais de 11 milhões de hectares de sistemas integrados. São sistemas que estão sendo desenvolvidos e aperfeiçoados por nós. Então essa é uma vertente. Uma agricultura que economiza recurso natural, de baixo impacto, de baixa emissão de carbono e, ainda assim, com uma produtividade crescente.
Outra vertente muito importante para a agricultura brasileira é a da agregação de valor da especialização e da diversificação. Nós ainda temos uma agricultura que está relativamente muito concentrada na produção primária, na exportação de commodity e temos que entender que o mundo está passando por uma mudança no padrão de consumo, a classe média do mundo está crescendo. As pessoas estão se tornando mais idosas, mais exigentes, então podemos esperar um futuro em que vamos ter demandas por produtos cada vez mais elaborados, cada vez mais sofisticados, a questão da diversidade de oferta, da qualidade, da funcionalidade de alimentos. Portanto, nós vamos ter que investir mais para garantir diversificação, especialização e agregação de valor, para que os nossos produtos possam alcançar mercados mais dinâmicos, mais competitivos, mais rentáveis e para que a agricultura brasileira possa ofertar produtos de qualidade cada vez maior, melhor e diversos para nossa população.
Revista Canavieiros: A Embrapa lançou no ano passado a Plataforma de monitoramento ABC. Poderia falar a respeito?
Lopes: O Brasil fez este compromisso em Copenhague (Dinamarca) de reduzir a emissão de carbono na sua agricultura e com isso foi criado o Plano ABC. O Brasil tem hoje a política pública mais bem estruturada para a redução de emissões na agricultu ra. Essa plataforma foi inteiramente criada com tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e pelas suas instituições parceiras como fixação biológica de nitrogênio, recuperação de pasto degradado, sistemas integrados, o plantio direto, que é tecnologia que já está aí, só que o Brasil terá que comprovar em âmbito internacional, no âmbito dos acordos internacionais que aquele compromisso que ele fez de reduzir emissão de carbono na agricultura está acontecendo. O avanço da incorporação dessas práticas está levando a uma redução nas emissões de carbono na agricultura, então criamos essa plataforma em Jaguariúna-SP, junto à Embrapa Meio Ambiente. É uma plataforma com pesquisadores de várias unidades que estão trabalhando para desenvolver métricas de monitoramento dos sistemas produtivos brasileiros para comprovar com números sólidos que o Brasil está incorporando práticas cada vez mais sustentáveis, de baixa emissão e dando uma contribuição.
A pesquisa está dando uma contribuição efetiva para a redução das emissões e a descarbonização da agricultura brasileira, isso vai ter um impacto muito grande no futuro das certificações dos nossos produtos e na comprovação em âmbito internacional dos avanços que o Brasil está fazendo no desenvolvimento de uma agricultura de baixa emissão de gás de efeito estufa.
Revista Canavieiros: Dentro deste contexto, o setor sucroenergético é estratégico, o que a Embrapa tem feito pelo setor?
Lopes: Não tem dúvida alguma, o setor sucroenergético é fundamental neste processo e o Brasil está em uma posição muito destacada no mundo como um produtor de energia renovável a partir de biomassa. Nós na Embrapa acreditamos que este setor vai evoluir para um outro patamar. Nós acreditamos que nenhum país do mundo tem a logística para a produção de biomassa que o Brasil tem através do seu setor sucroenergético.
É perfeitamente possível antever um futuro, não muito longínquo, em que as nossas usinas que hoje produzem açúcar e etanol possam ser eventualmente convertidas a biorrefinaria para produzir componentes muito mais sofisticados, de valor agregado muito maior, e a Embrapa está buscando, investindo em tecnologias de transformação e de destilação de biomassa, praticamente de tudo que se destila do petróleo. Então, temos um futuro muito interessante e promissor, que é o setor sucroenergético.
A afirmação é do presidente da Embrapa, Maurício Lopes, ao falar sobre o futuro da agricultura em evento realizado pela ABAG/RP (Associação Brasileira do Agronegócio da Região de Ribeirão Preto), e do IBISA (Instituto Brasileiro para Inovação e Sustentabilidade do Agronegócio), em Ribeirão Preto-SP, no dia 19 de abril. (ver matéria página 98/99). Segundo Lopes, a próxima grande revolução da agricultura no cinturão tropical do Globo está baseada no paradigma dos sistemas integrados.
“É preciso trabalhar o conceito da integração sustentável. Uma agricultura que economiza recurso natural, de baixo impacto, de baixa emissão, de maior eficiência. O processo de intensificação sustentável da agricultura brasileira está em curso. No ano passado nós fizemos uma pesquisa e chegamos à conclusão que o Brasil já tem mais de 11 milhões de hectares de sistemas integrados”, ressaltou ele, afirmando que este é um modelo de produção que deverá se expandir cada vez mais, permitindo fazer algo que “talvez o Brasil seja um dos pouquíssimos países no planeta capaz de fazer, uma produção diversificada de baixa emissão de carbono”, refletiu.
Um dia após participar do evento em Ribeirão Preto-SP, o presidente da Embrapa foi condecorado com a medalha da Ordem de Rio Branco, no grau de Comendador, em cerimônia no Palácio do Itamaraty, em Brasília. A Ordem de Rio Branco é a mais alta condecoração da diplomacia brasileira e homenageia pessoas físicas, jurídicas, corporações militares, instituições civis nacionais ou estrangeiras pelos seus serviços e méritos excepcionais. “Se fui merecedor de tão importante reconhecimento, tudo devo a uma organização extraordinária, chamada Embrapa, aos meus colegas e colaboradores, além dos muitos parceiros no Brasil e no exterior, que ajudam a fazer da pesquisa agropecuária brasileira uma das mais eficientes e reconhecidas do mundo. Este reconhecimento me estimula a seguir fazendo sempre o melhor pela nossa agricultura e pelo nosso Brasil”, afirmou. Confira a entrevista dada à Revista Canavieiros:
Revista Canavieiros: Na sua avaliação, qual é o principal gargalo hoje da Embrapa na questão de pesquisa e desenvolvimento para a empresa?
Maurício Lopes: A Embrapa é uma instituição já muito consolidada, comemora 44 anos no dia 27 de abril. Uma empresa, que apesar de jovem, deu muita contribuição importante para o Brasil, para a agricultura do país e ela segue com foco muito centrado nos desafios da agricultura no presente e nos desafios que virão do futuro. Óbvio que a grande limitação da pesquisa pública, não só no Brasil, mas praticamente em todo o mundo, é recurso. Em um momento em que os métodos de se fazer, de se buscar inovação se tornam cada vez mais complexos, cada vez mais sofisticados -, estamos vivendo na era da transformação digital, da automação na agricultura -, todas as agriculturas, seja de pequena, média ou grandes escalas vão passar por um processo rápido de evolução incorporando máquinas, equipamentos, conceitos e ferramentas cada vez mais sofisticadas. A pesquisa precisa estar na fronteira do conhecimento, isso também significa que precisamos estar muito atualizados em termos de competência, pessoas treinadas, habilitadas em termos de infraestrutura, uma infraestrutura coerente com os desafios da agricultura e condizente com o tamanho e a importância da agricultura brasileira. Então, ter recurso para garantir que a empresa esteja sempre capaz de dar resposta para a agricultura brasileira é sempre um grande desafio.
Revista Canavieiros: E como a Embrapa tem conseguido trabalhar com a limitação de recurso do Governo Federal?
Lopes: Com muita criatividade. Nos últimos anos, temos nos aproximado muito do setor privado, que aliás é uma grande vantagem.
A pesquisa precisa estar atuando de forma muito integrada, muito alinhada com o setor produtivo, porque a instituição de pesquisa operando sozinha não produz inovação. A inovação acontece no mundo privado, nas empresas, nas fazendas, então a gente tem buscado uma aproximação cada vez maior com o setor produtivo, com as empresas. Também temos buscado outras fontes de recursos, como o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Social). Conseguimos uma aproximação muito boa com o banco de fomento. A empresa conseguiu projetos importantes de grande porte com o BNDES, temos projeto de grande porte na área de aquicultura, que é uma área nova que a Embrapa tem investido muito; Fundo Amazônia, uma série de outros projetos, e hoje temos cerca de 400 acordos e contratos com parceiros, públicos, privados, nacionais e internacionais.
Revista Canavieiros: E do investimento da Embrapa quanto é orçamento público e privado?
Lopes: Ainda a participação desse orçamento, digamos, alternativo, que não significa orçamento de Tesouro, já vem de outras fontes de recursos, cerca de 20% do orçamento operacional. Nós ainda somos muito dependentes do Tesouro Nacional, vamos seguir com uma dependência ainda grande porque muitas vezes temos que investir em projetos de longo prazo, de alto risco que não são tão atrativos para o setor produtivo, mas a ideia é que também tenhamos mecanismos novos para vender ativos, para combinar ativos com o setor produtivo.
A Embrapa tem hoje tramitando no Congresso um Projeto de Lei, onde solicitamos autorização do Governo para abrir uma subsidiária chamada Embrapa Tecnologias SA, ou Embrapatec (subsidiária que está sendo criada para concentrar a comercialização de biotecnologias desenvolvidas pela empresa.) A ideia é que, tendo um braço formatado e habilitado para operar no mercado de inovações, a Embrapa possa fazer fluir o conhecimento e os ativos que gera de maneira mais rápida para o mercado de inovações. Nós estamos com a expectativa muito grande que com a aprovação da Embrapatec, a Embrapa terá novos mecanismos e mais força para operar em sintonia com o setor produtivo.
Revista Canavieiros: A agricultura brasileira deu saltos extraordinários nos últimos anos, mas os desafios são muitos para que o setor continue crescendo com eficiência e sustentabilidade. Na sua opinião, de onde virá o novo salto da agricultura brasileira?
Lopes: Para a Embrapa temos dois grandes desafios para darmos novos saltos. O primeiro deles é sintetizar no termo intensificação sustentável.
Nós temos a realidade do Código Florestal que nos limita na expansão de área agrícola. Teremos que expandir a agricultura em áreas já abertas, por exemplo, as áreas de pastos degradados ou aumentar a eficiência e produtividade na agricultura que ainda tem produtividade relativamente baixa. Nos próximos anos vamos ter que desenvolver tecnologias, conhecimentos, práticas para intensificar o uso das áreas que já estão abertas. A Embrapa tem desenvolvido com muito sucesso modelos de produção integrada; modelos para recuperação de pastagens degradadas, os sistemas chamados ILP (Integração Lavoura-Pecuária) ou ILPF (Integração Lavoura-Pecuária-Floresta). No ano passado fizemos uma pesquisa e chegamos à conclusão que o Brasil já tem mais de 11 milhões de hectares de sistemas integrados. São sistemas que estão sendo desenvolvidos e aperfeiçoados por nós. Então essa é uma vertente. Uma agricultura que economiza recurso natural, de baixo impacto, de baixa emissão de carbono e, ainda assim, com uma produtividade crescente.
Outra vertente muito importante para a agricultura brasileira é a da agregação de valor da especialização e da diversificação. Nós ainda temos uma agricultura que está relativamente muito concentrada na produção primária, na exportação de commodity e temos que entender que o mundo está passando por uma mudança no padrão de consumo, a classe média do mundo está crescendo. As pessoas estão se tornando mais idosas, mais exigentes, então podemos esperar um futuro em que vamos ter demandas por produtos cada vez mais elaborados, cada vez mais sofisticados, a questão da diversidade de oferta, da qualidade, da funcionalidade de alimentos. Portanto, nós vamos ter que investir mais para garantir diversificação, especialização e agregação de valor, para que os nossos produtos possam alcançar mercados mais dinâmicos, mais competitivos, mais rentáveis e para que a agricultura brasileira possa ofertar produtos de qualidade cada vez maior, melhor e diversos para nossa população.
Revista Canavieiros: A Embrapa lançou no ano passado a Plataforma de monitoramento ABC. Poderia falar a respeito?
Lopes: O Brasil fez este compromisso em Copenhague (Dinamarca) de reduzir a emissão de carbono na sua agricultura e com isso foi criado o Plano ABC. O Brasil tem hoje a política pública mais bem estruturada para a redução de emissões na agricultu ra. Essa plataforma foi inteiramente criada com tecnologias desenvolvidas pela Embrapa e pelas suas instituições parceiras como fixação biológica de nitrogênio, recuperação de pasto degradado, sistemas integrados, o plantio direto, que é tecnologia que já está aí, só que o Brasil terá que comprovar em âmbito internacional, no âmbito dos acordos internacionais que aquele compromisso que ele fez de reduzir emissão de carbono na agricultura está acontecendo. O avanço da incorporação dessas práticas está levando a uma redução nas emissões de carbono na agricultura, então criamos essa plataforma em Jaguariúna-SP, junto à Embrapa Meio Ambiente. É uma plataforma com pesquisadores de várias unidades que estão trabalhando para desenvolver métricas de monitoramento dos sistemas produtivos brasileiros para comprovar com números sólidos que o Brasil está incorporando práticas cada vez mais sustentáveis, de baixa emissão e dando uma contribuição.
A pesquisa está dando uma contribuição efetiva para a redução das emissões e a descarbonização da agricultura brasileira, isso vai ter um impacto muito grande no futuro das certificações dos nossos produtos e na comprovação em âmbito internacional dos avanços que o Brasil está fazendo no desenvolvimento de uma agricultura de baixa emissão de gás de efeito estufa.
Revista Canavieiros: Dentro deste contexto, o setor sucroenergético é estratégico, o que a Embrapa tem feito pelo setor?
Lopes: Não tem dúvida alguma, o setor sucroenergético é fundamental neste processo e o Brasil está em uma posição muito destacada no mundo como um produtor de energia renovável a partir de biomassa. Nós na Embrapa acreditamos que este setor vai evoluir para um outro patamar. Nós acreditamos que nenhum país do mundo tem a logística para a produção de biomassa que o Brasil tem através do seu setor sucroenergético.
É perfeitamente possível antever um futuro, não muito longínquo, em que as nossas usinas que hoje produzem açúcar e etanol possam ser eventualmente convertidas a biorrefinaria para produzir componentes muito mais sofisticados, de valor agregado muito maior, e a Embrapa está buscando, investindo em tecnologias de transformação e de destilação de biomassa, praticamente de tudo que se destila do petróleo. Então, temos um futuro muito interessante e promissor, que é o setor sucroenergético.