O Etanol pode substituir o diesel?

07/12/2017 Noticias Copercana POR: Revista Canavieiros
O uso eficiente do etanol, além dos impactos ambientais e sociais favoráveis, afeta positivamente a economia dos consumidores e dos agentes na sua cadeia de produção. Os avanços tecnológicos nessa matéria têm mais chance de se efetivarem no Brasil, mas podem interessar agentes nos EUA e, de forma crescente, em diversos países como a Suécia e a França, onde o uso do etanol tem aumentado.
A especificação do diesel e da gasolina pelas refinarias e dos respectivos motores pela indústria automobilística evoluíram ao longo de mais de um século de forma simbiótica, levando à produção de veículos cada vez mais eficientes e menos poluentes em um processo que ainda está longe de acabar.
O mesmo não aconteceu com o etanol, combustível homogêneo naturalmente especificado, com propriedades particularmente adequadas aos motores de combustão interna. Atualmente é usado em motores projetados essencialmente para usar gasolina que não tiram proveito das excelentes propriedades do etanol. Recentes desenvolvimentos de motores a etanol indicam que, além das vantagens ambientais, são mais compactos, podendo inclusive competir com motores a diesel diretamente ou em sistemas híbrido-elétricos.
A substituição do diesel pelo etanol, no Brasil, reduziria os impactos ambientais decorrentes dos transportes públicos em cidades como São Paulo, onde as emissões do diesel são mais problemáticas. Mais importante ainda seria substituir os quase 3 bilhões de litros de diesel usados pela agroindústria sucroalcooleira para plantar, colher e transportar a cana.
A quarta edição do Seminário sobre Etanol Eficiente, realizada no dia 25 de outubro, no auditório do Tech Center da Mahle, em Jundiaí-SP, discutiu a possibilidade de substituir diesel por etanol, tanto em veículos leves quanto pesados, avaliando as questões tecnológicas, principais barreiras e perspectivas de uso do CRE (Certificado de Redução de Emissões), a ser criado pelo programa RenovaBio.
A substituição do diesel na cadeia de produção do etanol
O tema foi abordado pelo diretor geral do INEE (Instituto Nacional de Eficiência Energética) e gerente do projeto Etanol Eficiente, Jayme Buarque de Hollanda. Segundo ele, é preciso que a agroindústria converse mais com a indústria automobilística, mas em particular com os sistemistas de modo geral. “O sistemista é quem sabe que, bem aproveitado, o etanol vai dar certo. A academia também precisa estar em várias frentes, estudando e desenvolvendo a oportunidade”, disse.
Hollanda também ressaltou que o processo produtivo da cana-de-açúcar no campo consome a impressionante soma de 3 bilhões de litros de diesel, ou 10% da energia do etanol produzido e analisou: “Não seria mais lógico se o próprio etanol, fruto do processo produtivo, pudesse ser empregado no abastecimento dos veículos pesados envolvidos nessa cadeia?”. O diretor do INEE ainda ponderou sobre o transporte da cana-de-açúcar, que vem sendo feito por caminhões e veículos pesados baseados em diesel. “Existe um pecado original nesse processo, e ele precisa ser atacado e resolvido pela substituição de motores a diesel por motores baseados em etanol, que eventualmente precisam ser projetados e desenvolvidos”.
Ainda de acordo com Hollanda, o INEE defende a necessidade de o Brasil produzir veículos com motores próprios para o uso do etanol. “O uso eficiente do etanol, além dos impactos ambientais e sociais favoráveis, afeta positivamente a economia dos consumidores e dos agentes na sua cadeia de produção. Os motores próprios para o uso do etanol são uma solução que concilia emissões locais e globais e que pode resolver os problemas constatados em diversos carros a diesel que subestimam as emissões locais. Sobe este aspecto, eles são ainda melhores que os motores elétricos à bateria, já que a energia elétrica na maioria dos países é gerada com combustíveis fósseis”, concluiu.
O potencial da nova regulamentação para o desenvolvimento do etanol
“É importante agora que alcancemos ganhos de produtividade, recuperando os índices que já tivemos no passado e que perdemos. As oportunidades de melhoria não existem apenas na área agrícola. Sobretudo, é necessário alcançar maior eficiência pelo desenvolvimento e aprimoramento de motores mais eficientes no consumo do combustível”, disse a presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), Elizabeth Farina.
Em sua explanação, a executiva enfatizou o RenovaBio, programa que visa estabelecer mecanismos de mercado para a promoção dos combustíveis renováveis, incentivando ganhos de produtividade, em oposição à adoção de medidas tributárias. “Há, dentro dele, um incentivo à eficiência pelos métodos que o produtor escolher em seu processo produtivo. Se ele substituir o diesel na sua cadeia produtiva poderá ganhar um certificado que reduzirá o seu custo de produção. Por outro lado, produtores que mantiverem processos ultrapassados, com danos ao meio ambiente e em prejuízo da produtividade, serão penalizados. A longo prazo todos vão buscar os métodos mais limpos, gerando um movimento positivo e virtuoso”.
Na oportunidade, a presidente da Unica ainda lembrou os esforços que a entidade tem feito nos últimos meses para convencer o Governo a não aumentar os impostos sobre o etanol.
Rota 2030
Rota 2030 é uma política de longo prazo em discussão no Governo brasileiro que estabelece as diretrizes e metas para a redução das emissões veiculares nos próximos anos, prevendo três ciclos de implementação: 2022, 2027 e 2032. A ideia é fomentar o desenvolvimento tecnológico para que o Brasil se torne mais competitivo no segmento em nível internacional, além de estabelecer um marco claro que fomente pesquisas no segmento em busca de uma matriz energética mais limpa e sustentável.
O Rota 2030 prevê seis grupos temáticos: cadeia de autopeças; pesquisa e desenvolvimento em engenharia e conectividade; eficiência energética, emissões, biocombustíveis e novas tecnologias de propulsão; segurança veicular, inspeção técnica e renovação da frota; produção em baixos volumes, produção local de sistemas automotivos e de eletrônica embarcada; estrutura de custos para integração de competitiva às Cadeias Globais de Valor.
O assunto foi discorrido pelo gerente de Serviços Científicos da Mahle, Marcos Clemente. Segundo ele, há uma série de programas em discussão dentro do Governo, e com o Rota 2030 existe uma preocupação no sentido de fortalecer a cadeia produtiva. Para ele, o setor está ansioso pela nova legislação para que possa iniciar seus planos de investimento, mas há vários programas em discussão dentro do Governo. “Enquanto o Rota 2030 foca no aumento da eficiência energética do tanque à roda e a competitividade, o Proconve busca a redução das emissões de poluentes e o RenovaBio busca garantir a competitividade dos biocombustíveis e a sua evolução”.
Por Fernanda Clariano:

Esse foi o assunto abordado na quarta edição do Seminário sobre Etanol Eficiente.
O uso eficiente do etanol, além dos impactos ambientais e sociais favoráveis, afeta positivamente a economia dos consumidores e dos agentes na sua cadeia de produção. Os avanços tecnológicos nessa matéria têm mais chance de se efetivarem no Brasil, mas podem interessar agentes nos EUA e, de forma crescente, em diversos países como a Suécia e a França, onde o uso do etanol tem aumentado.
A especificação do diesel e da gasolina pelas refinarias e dos respectivos motores pela indústria automobilística evoluíram ao longo de mais de um século de forma simbiótica, levando à produção de veículos cada vez mais eficientes e menos poluentes em um processo que ainda está longe de acabar.
O mesmo não aconteceu com o etanol, combustível homogêneo naturalmente especificado, com propriedades particularmente adequadas aos motores de combustão interna. Atualmente é usado em motores projetados essencialmente para usar gasolina que não tiram proveito das excelentes propriedades do etanol. Recentes desenvolvimentos de motores a etanol indicam que, além das vantagens ambientais, são mais compactos, podendo inclusive competir com motores a diesel diretamente ou em sistemas híbrido-elétricos.
A substituição do diesel pelo etanol, no Brasil, reduziria os impactos ambientais decorrentes dos transportes públicos em cidades como São Paulo, onde as emissões do diesel são mais problemáticas. Mais importante ainda seria substituir os quase 3 bilhões de litros de diesel usados pela agroindústria sucroalcooleira para plantar, colher e transportar a cana.
A quarta edição do Seminário sobre Etanol Eficiente, realizada no dia 25 de outubro, no auditório do Tech Center da Mahle, em Jundiaí-SP, discutiu a possibilidade de substituir diesel por etanol, tanto em veículos leves quanto pesados, avaliando as questões tecnológicas, principais barreiras e perspectivas de uso do CRE (Certificado de Redução de Emissões), a ser criado pelo programa RenovaBio.


A substituição do diesel na cadeia de produção do etanol
O tema foi abordado pelo diretor geral do INEE (Instituto Nacional de Eficiência Energética) e gerente do projeto Etanol Eficiente, Jayme Buarque de Hollanda. Segundo ele, é preciso que a agroindústria converse mais com a indústria automobilística, mas em particular com os sistemistas de modo geral. “O sistemista é quem sabe que, bem aproveitado, o etanol vai dar certo. A academia também precisa estar em várias frentes, estudando e desenvolvendo a oportunidade”, disse.
Hollanda também ressaltou que o processo produtivo da cana-de-açúcar no campo consome a impressionante soma de 3 bilhões de litros de diesel, ou 10% da energia do etanol produzido e analisou: “Não seria mais lógico se o próprio etanol, fruto do processo produtivo, pudesse ser empregado no abastecimento dos veículos pesados envolvidos nessa cadeia?”. O diretor do INEE ainda ponderou sobre o transporte da cana-de-açúcar, que vem sendo feito por caminhões e veículos pesados baseados em diesel. “Existe um pecado original nesse processo, e ele precisa ser atacado e resolvido pela substituição de motores a diesel por motores baseados em etanol, que eventualmente precisam ser projetados e desenvolvidos”.
Ainda de acordo com Hollanda, o INEE defende a necessidade de o Brasil produzir veículos com motores próprios para o uso do etanol. “O uso eficiente do etanol, além dos impactos ambientais e sociais favoráveis, afeta positivamente a economia dos consumidores e dos agentes na sua cadeia de produção. Os motores próprios para o uso do etanol são uma solução que concilia emissões locais e globais e que pode resolver os problemas constatados em diversos carros a diesel que subestimam as emissões locais. Sobe este aspecto, eles são ainda melhores que os motores elétricos à bateria, já que a energia elétrica na maioria dos países é gerada com combustíveis fósseis”, concluiu.


O potencial da nova regulamentação para o desenvolvimento do etanol
“É importante agora que alcancemos ganhos de produtividade, recuperando os índices que já tivemos no passado e que perdemos. As oportunidades de melhoria não existem apenas na área agrícola. Sobretudo, é necessário alcançar maior eficiência pelo desenvolvimento e aprimoramento de motores mais eficientes no consumo do combustível”, disse a presidente da Unica (União da Indústria de Cana-de-açúcar), Elizabeth Farina.
Em sua explanação, a executiva enfatizou o RenovaBio, programa que visa estabelecer mecanismos de mercado para a promoção dos combustíveis renováveis, incentivando ganhos de produtividade, em oposição à adoção de medidas tributárias. “Há, dentro dele, um incentivo à eficiência pelos métodos que o produtor escolher em seu processo produtivo. Se ele substituir o diesel na sua cadeia produtiva poderá ganhar um certificado que reduzirá o seu custo de produção. Por outro lado, produtores que mantiverem processos ultrapassados, com danos ao meio ambiente e em prejuízo da produtividade, serão penalizados. A longo prazo todos vão buscar os métodos mais limpos, gerando um movimento positivo e virtuoso”.
Na oportunidade, a presidente da Unica ainda lembrou os esforços que a entidade tem feito nos últimos meses para convencer o Governo a não aumentar os impostos sobre o etanol.
Rota 2030
Rota 2030 é uma política de longo prazo em discussão no Governo brasileiro que estabelece as diretrizes e metas para a redução das emissões veiculares nos próximos anos, prevendo três ciclos de implementação: 2022, 2027 e 2032. A ideia é fomentar o desenvolvimento tecnológico para que o Brasil se torne mais competitivo no segmento em nível internacional, além de estabelecer um marco claro que fomente pesquisas no segmento em busca de uma matriz energética mais limpa e sustentável.
O Rota 2030 prevê seis grupos temáticos: cadeia de autopeças; pesquisa e desenvolvimento em engenharia e conectividade; eficiência energética, emissões, biocombustíveis e novas tecnologias de propulsão; segurança veicular, inspeção técnica e renovação da frota; produção em baixos volumes, produção local de sistemas automotivos e de eletrônica embarcada; estrutura de custos para integração de competitiva às Cadeias Globais de Valor.
O assunto foi discorrido pelo gerente de Serviços Científicos da Mahle, Marcos Clemente. Segundo ele, há uma série de programas em discussão dentro do Governo, e com o Rota 2030 existe uma preocupação no sentido de fortalecer a cadeia produtiva. Para ele, o setor está ansioso pela nova legislação para que possa iniciar seus planos de investimento, mas há vários programas em discussão dentro do Governo. “Enquanto o Rota 2030 foca no aumento da eficiência energética do tanque à roda e a competitividade, o Proconve busca a redução das emissões de poluentes e o RenovaBio busca garantir a competitividade dos biocombustíveis e a sua evolução”.