O valor da experiência no amendoim

21/08/2024 Noticias POR: Marino Guerra

Em ciclo instável sob o ponto de vista climático, conhecer bem os manejos da cultura foi fundamental


Amendoim fechado mesmo sofrendo com a falta de chuva de altas temperaturas, resultado da experiência

 

Como um dos cooperados fundadores do Projeto Amendoim da Copercana e se dedicando a cultura anos antes do nascimento da iniciativa, pode-se afirmar que casca não falta para o produtor Silvano Marcos Martins, adquirida pela infinidade de problemas que ele já viveu na lida. Trazendo como benefício não somente a resistência, mas também, conforme foi se tornando mais grossa, o nutriu com sabedoria e tranquilidade para encarar os desafios que vem todos os anos, a agricultura não é para quem sonha com um mundo em condições perfeitas, vide a última temporada, onde a instabilidade climática foi a problemática protagonista.

Cultivando algo em torno de 150 hectares em parceria com a Copercana, sua primeira lição é estar sempre atento em cada detalhe da roça, desde a relação características das áreas versus valor do arrendamento até a logística de entrega da colheita.

“Todos os anos a concorrência é muito forte aqui na região o que acarreta em arrendamentos com valores altos, também temos aqui muitos sitiantes, fazendo com que dificilmente conseguimos pegar um bloco acima de 20 hectares”, disse Silvano que também lembrou que em 100% dos talhões são plantados o amendoim em rotação de cultura com a cana, por isso ele prefere trabalhar com as variedades precoces, para não correr o risco de atrapalhar a programação de plantio da cana e manter uma relação e fama sadia com os arrendatários, fatores importantes para a negociação das áreas no ano seguinte.

Diferente da soja, onde o plantio direto pode ser considerado o modo padrão, no amendoim, o normal é fazer um bom preparado de solo, isso porque, dentre outros fatores, a presença de muita palhada pode ser um obstáculo para o ginóforo atingir o solo e formar a vagem, o que resulta diretamente na queda de produtividade, por isso Silvano se dedica ao preparo de solo, ao iniciar com duas grades pesadas, aragem (se conseguir fazer funda, exclui a subsolagem) e nivela o terreno pelo menos por três vezes, deixando-o livre para o desenvolvimento das plantas.

Quando foi iniciar os trabalhos de preparo, o clima começou a dar sinais de que não daria vida muito fácil. Em setembro, principal mês do manejo, em Pitangueiras choveu menos de 15 mm não tendo nenhuma chuva superior a cinco: “Quem manda no trabalho é a umidade de solo, no começo insisti em entrar mesmo no seco, meu resultado foram implementos quebrados e muito retrabalho”, conta Silvano que teve que esperar o início de outubro para soltar o pega, depois que boas chuvas abençoaram Pitangueiras nos primeiros dias do mês.

O plantio foi a fase mais tranquila, conseguindo cumprir sua programação de realizar tudo em 45 dias, sem problema com chuva, conseguiu um ambiente ideal para as sementes germinarem com vigor.


Amendoim fechado mesmo sofrendo com a falta de chuva de altas temperaturas, resultado da experiência. Produtor conseguiu realizar todo o seu plantio antes do primeiro veranico, o que acarretou, mesmo com problemas com a Tripes e posteriores problemas climáticos a formação de estandes vigorosos

“Não adianta você querer plantar tudo em um dia que depois não vai conseguir colher, a ansiedade mata a pessoa. Mesmo se tiver estrutura para colher em um dia, o tempo de maturação ficará sujeito de coincidir com uma invernada, e então correrá o risco de ter quebra de rendimento em 100% da sua roça. Agora ao adotar uma janela, mesmo que em alguns dias tenha problemas de umidade, ela influenciará muito menos no resultado final, pois é muito mais difícil chover ao longo de todos os dias de sua duração”.

Dizem que cadeia quieta é sinal de rebelião, quem é experiente na arte de gerar grande quantidade de alimento a partir de sementes semeadas na terra também já fica esperto quando o tempo está agradável demais, ainda mais quando já se esperava por instabilidades pluviométricas ao longo da primavera e verão em decorrência do “El Niño”.

E ela veio, no caso da roça de Silvano que está inserida na região de Pitangueiras, com um Veranico que durou cerca de 15 dias em novembro, fase que o amendoim está brotando e iniciando seu período vegetativo (crescimento), gerando o ambiente ideal para o Tripes e suas lagartas companheiras aparecerem.

“Eu trabalho de maneira preventiva fazendo aplicações a cada 10 dias, mas como estava muito seco não consegui segurar principalmente o Tripes após a brotação, que além de seu estrago, abre caminho para a Verrugose contaminar a folha e travar o desenvolvimento da planta. Quando a infestação chegou em níveis mais preocupantes, eu controlei a doença com fungicida, já nas pragas tive um problema inicial de resistência nas minhas primeiras escolhas de inseticidas, mas consegui acertar a mão ao rotacionar os produtos, então cheguei ao controle afetando apenas a vegetação inicial”.

Quanto a Pinta Preta, principal doença do amendoim, o produtor contou não ter tido problemas e cita dois motivos para isso, o primeiro que em anos mais secos sua incidência é menor, mas também porque adotou o Miravis Duo, nova tecnologia fornecida pela Syngenta, em 100% de sua área em duas aplicações (terceira e quinta), produto que está na sua segunda safra e já encantou grande parte dos produtores de amendoim.

Além do espaço menor de tempo de pulverização, seu trabalho de defesa também tem uma atenção especial nas bordaduras, principalmente em segurar o ácaro: “É preciso ficar atento se há tiguera de amendoim nos talhões vizinhos, mesmo em canaviais próximos de completar dois anos do plantio, se foi feita uma lavoura da cultura na rotação, é bem provável que uma quantidade suficiente de plantas infestadas de doenças, principalmente o ácaro, brotem, sendo levada para o talhão vizinho com ação do vento ou água da chuva. Quando tenho esta situação, peço permissão para fazer a capinagem ao dono do canavial vizinho”.

Silvano lembra que nesse caso o uso de herbicida se torna uma ferramenta auxiliar, pois como a cana está grande, acaba fazendo a função de guarda-chuva, fazendo com que o veneno não atinja o alvo.

 Um dos efeitos da falta de chuvas aliada com alta temperatura foi o florescimento tardio, na foto, tirada em 19 de janeiro, a lavoura já com a rua fechada, porém ainda florescendo


Para segurar pragas e doenças, principalmente o ácaro, o produtor capina a tiguera de amendoim das bordaduras dos canaviais vizinhos

Tecnologia versus logística e gente

Desde que filmes como Robocop, O Exterminador do Futuro e BladeRunner – O Caçador de Androides fizeram grande sucesso em todo o mundo na década de 80 do século passado, foi estabelecido no imaginário coletivo o conflito entre homens e robôs. Tema que foi ganhando maior relevância a partir do avanço da tecnologia e hoje assombra todos com a popularização das Inteligência Artificiais e sua ameaça a relevância do cérebro humano.

Tudo isso se estabelece no campo do imaginário contaminado por temperos da mente como ansiedade, preocupação e angústia. Na vida real a coisa funciona de maneira diferente, lógico que é inegável que a humanidade já convive há boas décadas num ambiente de revolução tecnológica acelerada, a qual nenhum telescópio conseguiu enxergar um fim, contudo a operação de Silvano é um exemplo de que a calma se tornou um aliado fundamental para não se perder neste imenso carreador formado pela mistura de gigabytes, cortisol e adrenalina.

Com um investimento constante em máquinas e equipamentos modernos, ele aponta para equipamentos que trouxeram ganhos imediatos em sua operação, como a plantadeira Tatu Suprema, que dentre suas características possui um distribuidor de sementes pneumático à vácuo: “depois que chegou meu rendimento de área, por conseguir colocar a semente individualizada no espaço certo aumentou muito, na semeadora antiga o depósito acontecia em montinhos, o que consumia mais, além da brotação ser irregular”.

Por outro lado, mesmo no plantio, ele detém tecnologias que não utiliza devido à falta de mão-de-obra qualificada, como o caso do GPS: “Tenho três tratores com o aparelho instalado, mas ainda faço os sulcos do modo convencional, pois não adianta ter se você não consegue dominar, a capacitação para os meus funcionários é algo que estou com bastante dificuldade de fazer. Se tenho um colaborador cabeceira, que agarra no serviço, faz tudo direito, mas quando chega algo novo, que investi para melhorar o rendimento, ele apanha, o valor do seu trabalho e empenho acaba diminuindo muito, o que afeta no resultado final”.

Na colheita ele destaca outra carência tecnológica, o fato de utilizar apenas máquinas de uma leira: “Mesmo sabendo que tenho quase o dobro de trator e gente, não tenho condições de avançar para o maquinário de duas leiras, isso por dois motivos, o primeiro é que meu barracão fica dentro da cidade e como essa máquina é muito larga não dá para transitar, e o segundo é o fato de como o meu perfil de áreas são talhões picados, seu transporte de um para outro é mais trabalhoso, lento e caro. Tenho amigos que investiram nela e tiveram que montar uma equipe de escolta com motosserras e fazedores de cerca, isso porque no caminho tem que ir cortando galhos e arrancando mourões para conseguir acesso nas propriedades”.

O produtor ainda lembra que a diferença de custo de mão-de-obra acaba ficando igual ao comparar com o alto valor do maquinário hoje, em suas contas um conjunto de trator mais colhedora de duas leiras não sai por menos de R$ 1,3 milhões, um desembolso expressivo ainda mais para quem já tem a frota montada e quitada.

Ainda quanto ao processo da colheita, mais especificamente na entrega, Silvano parabeniza a Copercana pelos investimentos na estrutura de recebimento, o que resultou numa expressiva redução da fila.

Os ensinamentos de Silvano relatados nesta reportagem é apenas uma gota no mar de conhecimento prático que ele tem sobre a lavoura de amendoim o que quando aliado com a consultoria da equipe técnica do projeto da Copercana forma um insumo fundamental para prosperar na atividade, pois sem experiência e atenção ao processo de inovação dificilmente se atinge boas produções em anos com condições climáticas e conjunturais tão peculiares.


Silvano com o agrônomo do Projeto Amendoim da Copercana, Edgard Matrangolo Júnior, união de conhecimento prático e técnico é fundamental para enfrentar os cenários climáticos e conjunturais que a cada ano se apresentam de uma maneira diferente