O mês de junho pode definir a temperatura da relação entre a Odebrecht e seus credores. Todos os passos do grupo, que possui dívida bruta entre R$ 90 bilhões e R$ 100 bilhões e líquida maior que R$ 80 bilhões, estão sendo acompanhados pelos grandes bancos e pelo BNDES. Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a preocupação. E embora nem o grupo admita olhar para essa alternativa nem os bancos desejem, a expressão "recuperação judicial" não é mais tabu nas conversas, é agora um destino a ser evitado.
A Odebrecht tem dito aos credores que o mês terá marcos importantes e positivos, como colocar em dia as demonstrações financeiras. Os credores querem ver, além dos balanços atrasados, avanço na venda de ativos e no acordo de leniência para que a sobrevivência à Operação Lava-Jato seja crível. E também entender melhor a real situação de liquidez do grupo.
No fim de 2015, a Odebrecht informa que tinha R$ 24 bilhões em caixa, uma posição muito semelhante ao que possuía um ano antes. A dúvida é quanto disso é livre de compromissos já firmados com projetos e obras em andamento. O grande temor dos bancos é que em algum momento seja preciso escolher entre pagar dívida e seguir com uma obra.
A despeito de o grupo ter como cultura separar os negócios e os riscos, a holding está de alguma forma comprometida com avais, seguros, garantias de performance de bonds e os acordos de "equity support agreement", uma espécie de garantia de cobertura de capital. A companhia não informa valores. Sobre o tema, explica que "presta suporte a alguns negócios em fase pré-operacional ou em situações muito específicas e procura ter valor e prazo limitados".
Exemplo disso é a Odebrecht Agroindustrial, companhia de açúcar e álcool, que está reestruturando R$ 13 bilhões em dívidas. A maior parte dos créditos tem garantia da controladora. Segundo a empresa informou ao Valor, a expectativa é que um acordo final seja assinado até o dia 10. No dia 20 de maio, foi assinado com os bancos um memorando com as diretrizes principais para o acordo.
Na reestruturação, segundo fonte a par do assunto, a holding controladora Odebrecht assume R$ 4 bilhões da dívida da subsidiária, fornecendo ações preferenciais da Braskem como garantia. A holding capta com bancos uma dívida nova e coloca o dinheiro na Agroindustrial. Também serão aportados ativos de energia, avaliados em R$ 2 bilhões. Em troca, os débitos serão alongados por cerca de dez anos.
O objetivo é adequar o endividamento à capacidade de geração de caixa da operação. Em 2015, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da unidade alcançou R$ 1 bilhão, depois de patinar por cinco anos com o subsídio no preço da gasolina praticado pela Petrobras.
Também para junho são esperados que cheguem ao caixa do grupo os primeiros recursos vindos do programa de desmobilização de ativos, que prevê um acréscimo de até R$ 12 bilhões ao caixa, entre 2016 e começo de 2017.
Além de dinheiro novo, a companhia informou ao Valor que as vendas pretendidas devem reduzir em R$ 17,5 bilhões a dívida, com baixo impacto no Ebitda pois os projetos vendidos estão em fase inicial. O montante equivale a 21% da dívida líquida atual. Por esse percentual, é possível dizer que o endividamento líquido atual do grupo é de R$ 83 bilhões.
Os primeiros negócios fechados devem ser a venda do negócio de concessões rodoviárias no Peru, Rutas de Lima, e da mina de diamantes Catoca, em Angola. E entre 45 e 60 dias, a expectativa é que seja selada a venda da Odebrecht Ambiental, que pode trazer cerca de R$ 5 bilhões. No total, espera-se cerca de R$ 6,5 bilhões com tais transações pouco mais da metade do programa total de vendas.
O Valor apurou que, a despeito de a primeira leva de ativos colocados à venda não ser tão extensa quanto os bancos gostariam, internamente o grupo já admite que os esforços estarão concentrados na manutenção de Braskem e Odebrecht Engenharia e Construção, operação nacional (Construtora Norberto Odebrecht) e internacional.
No futuro, a holding deverá ter um papel apenas de gestora de ativos, para que a influência sobre as subsidiárias fique restrita. Não está descartado que a Odebrecht tenha que buscar novos sócios para diluir suas participações como tentativa de recuperar a credibilidade. O desenho final do modelo de governança, segundo o Valor apurou, depende das diretrizes estabelecidas no pretendido acordo de leniência para as investigações do Ministério Público Federal (MPF).
A companhia foi a que mais resistiu a buscar tal solução. Também demorou para assumir que teria de encolher. Tudo isso ampliou a preocupação dos bancos. Também em junho completa um ano que Marcelo Odebrecht, ex-presidente e neto do fundador, Norberto Odebrecht, está preso.
Reestruturação de dívida da Agroindustrial deve ser assinada até dia 10, e holding assume R$ 4 bi em compromissos
Agora, além da leniência, há uma estrutura de reestruturação em andamento. O banco de investimentos Lazard foi contratado para assessorar o que a Odebrecht chama de "revisão da estratégia financeira da holding e aprimoramento do processo de gestão de investimentos". Para o futuro, o foco da preocupação dos credores é fluxo de recursos para o conglomerado, quadro que se agrava com o próprio cenário econômico.
O escritório E. Munhoz Advogados representa a companhia, ao lado do Lazard. Os credores estão representados pelo Machado Meyer Advogados, mesma dupla que atua na Agroindustrial.
O Lazard também está à frente das conversas sobre o futuro da Odebrecht Óleo e Gás. O banco de investimentos Rothschild, além da Agroindustrial, também está trabalhando na Odebrecht Realizações e na construtora.
Os credores gostariam de ver o grupo colocar sua fatia de controle na Braskem à venda, junto com a da Petrobras, o que poderia ampliar substancialmente o valor obtido por ambas as empresas.
A Odebrecht, entretanto, acredita que ainda não chegou à hora de pensar sobre isso. A Braskem é hoje o melhor ativo do grupo e começa agora a colher o fruto de pesados investimentos, embora tenha seus próprios desafios com os processos de investigações pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pela comissão de valores mobiliários americana, a SEC, além de uma ação de classe movida por investidores em busca de ressarcimento em Nova York.
A Braskem, ao mesmo tempo que é fonte de um dos maiores fluxos de caixa, é também de dívida. O balanço da holding Odebrecht deve consolidar e expor o crescimento dos compromissos da petroquímica, que fechou 20115 com R$ 27,3 bilhões em financiamentos mais R$ 12,3 bilhões de compromissos em "project finance" para a unidade no México.
Aos interlocutores, a Odebrecht admite que não terá condições de tocar grandes projetos de infraestrutura, tanto dentro como fora do Brasil. Não por acaso, estão à venda o gasoduto do Peru, a participação na Usina Hidrelétrica Santo Antônio e a Odebrecht TransPort (em parte ou no todo).
As maiores dívidas após a Braskem estão na Óleo e Gás, Agroindustrial e na operação de infraestrutura e logística.
Em 2014, as dívidas da Óleo e Gás somavam R$ 12,7 bilhões ou US$ 4,8 bilhões, já que as captações foram feitas na maioria mediante a emissão de bonds no mercado internacional.
Embora as conversas com os detentores desses bonds esteja aberta, a conclusão é demorada pois envolve a renegociação dos contratos para as sondas com a Petrobras, que foram dados em garantia às emissões.
No segmento de infraestrutura, transportes e logística, os compromissos ao fim de 2014 somavam quase R$ 13 bilhões. Além do desafio das dívidas, a dificuldade está no volume de investimento necessário para os projetos.
A Odebrecht Engenharia e Construção espera entregar as demonstrações financeiras nos próximos dias. O motivo do atraso não publicação é o debate com a auditoria PricewaterhouseCoopers sobre como registrar os impactos da corrupção no negócio.
O mês de junho pode definir a temperatura da relação entre a Odebrecht e seus credores. Todos os passos do grupo, que possui dívida bruta entre R$ 90 bilhões e R$ 100 bilhões e líquida maior que R$ 80 bilhões, estão sendo acompanhados pelos grandes bancos e pelo BNDES. Quanto mais o tempo passa, mais aumenta a preocupação. E embora nem o grupo admita olhar para essa alternativa nem os bancos desejem, a expressão "recuperação judicial" não é mais tabu nas conversas, é agora um destino a ser evitado.
A Odebrecht tem dito aos credores que o mês terá marcos importantes e positivos, como colocar em dia as demonstrações financeiras. Os credores querem ver, além dos balanços atrasados, avanço na venda de ativos e no acordo de leniência para que a sobrevivência à Operação Lava-Jato seja crível. E também entender melhor a real situação de liquidez do grupo.
No fim de 2015, a Odebrecht informa que tinha R$ 24 bilhões em caixa, uma posição muito semelhante ao que possuía um ano antes. A dúvida é quanto disso é livre de compromissos já firmados com projetos e obras em andamento. O grande temor dos bancos é que em algum momento seja preciso escolher entre pagar dívida e seguir com uma obra.
A despeito de o grupo ter como cultura separar os negócios e os riscos, a holding está de alguma forma comprometida com avais, seguros, garantias de performance de bonds e os acordos de "equity support agreement", uma espécie de garantia de cobertura de capital. A companhia não informa valores. Sobre o tema, explica que "presta suporte a alguns negócios em fase pré-operacional ou em situações muito específicas e procura ter valor e prazo limitados".
Exemplo disso é a Odebrecht Agroindustrial, companhia de açúcar e álcool, que está reestruturando R$ 13 bilhões em dívidas. A maior parte dos créditos tem garantia da controladora. Segundo a empresa informou ao Valor, a expectativa é que um acordo final seja assinado até o dia 10. No dia 20 de maio, foi assinado com os bancos um memorando com as diretrizes principais para o acordo.
Na reestruturação, segundo fonte a par do assunto, a holding controladora Odebrecht assume R$ 4 bilhões da dívida da subsidiária, fornecendo ações preferenciais da Braskem como garantia. A holding capta com bancos uma dívida nova e coloca o dinheiro na Agroindustrial. Também serão aportados ativos de energia, avaliados em R$ 2 bilhões. Em troca, os débitos serão alongados por cerca de dez anos.
O objetivo é adequar o endividamento à capacidade de geração de caixa da operação. Em 2015, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da unidade alcançou R$ 1 bilhão, depois de patinar por cinco anos com o subsídio no preço da gasolina praticado pela Petrobras.
Também para junho são esperados que cheguem ao caixa do grupo os primeiros recursos vindos do programa de desmobilização de ativos, que prevê um acréscimo de até R$ 12 bilhões ao caixa, entre 2016 e começo de 2017.
Além de dinheiro novo, a companhia informou ao Valor que as vendas pretendidas devem reduzir em R$ 17,5 bilhões a dívida, com baixo impacto no Ebitda pois os projetos vendidos estão em fase inicial. O montante equivale a 21% da dívida líquida atual. Por esse percentual, é possível dizer que o endividamento líquido atual do grupo é de R$ 83 bilhões.
Os primeiros negócios fechados devem ser a venda do negócio de concessões rodoviárias no Peru, Rutas de Lima, e da mina de diamantes Catoca, em Angola. E entre 45 e 60 dias, a expectativa é que seja selada a venda da Odebrecht Ambiental, que pode trazer cerca de R$ 5 bilhões. No total, espera-se cerca de R$ 6,5 bilhões com tais transações pouco mais da metade do programa total de vendas.
O Valor apurou que, a despeito de a primeira leva de ativos colocados à venda não ser tão extensa quanto os bancos gostariam, internamente o grupo já admite que os esforços estarão concentrados na manutenção de Braskem e Odebrecht Engenharia e Construção, operação nacional (Construtora Norberto Odebrecht) e internacional.
No futuro, a holding deverá ter um papel apenas de gestora de ativos, para que a influência sobre as subsidiárias fique restrita. Não está descartado que a Odebrecht tenha que buscar novos sócios para diluir suas participações como tentativa de recuperar a credibilidade. O desenho final do modelo de governança, segundo o Valor apurou, depende das diretrizes estabelecidas no pretendido acordo de leniência para as investigações do Ministério Público Federal (MPF).
A companhia foi a que mais resistiu a buscar tal solução. Também demorou para assumir que teria de encolher. Tudo isso ampliou a preocupação dos bancos. Também em junho completa um ano que Marcelo Odebrecht, ex-presidente e neto do fundador, Norberto Odebrecht, está preso.
Reestruturação de dívida da Agroindustrial deve ser assinada até dia 10, e holding assume R$ 4 bi em compromissos
Agora, além da leniência, há uma estrutura de reestruturação em andamento. O banco de investimentos Lazard foi contratado para assessorar o que a Odebrecht chama de "revisão da estratégia financeira da holding e aprimoramento do processo de gestão de investimentos". Para o futuro, o foco da preocupação dos credores é fluxo de recursos para o conglomerado, quadro que se agrava com o próprio cenário econômico.
O escritório E. Munhoz Advogados representa a companhia, ao lado do Lazard. Os credores estão representados pelo Machado Meyer Advogados, mesma dupla que atua na Agroindustrial.
O Lazard também está à frente das conversas sobre o futuro da Odebrecht Óleo e Gás. O banco de investimentos Rothschild, além da Agroindustrial, também está trabalhando na Odebrecht Realizações e na construtora.
Os credores gostariam de ver o grupo colocar sua fatia de controle na Braskem à venda, junto com a da Petrobras, o que poderia ampliar substancialmente o valor obtido por ambas as empresas.
A Odebrecht, entretanto, acredita que ainda não chegou à hora de pensar sobre isso. A Braskem é hoje o melhor ativo do grupo e começa agora a colher o fruto de pesados investimentos, embora tenha seus próprios desafios com os processos de investigações pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e pela comissão de valores mobiliários americana, a SEC, além de uma ação de classe movida por investidores em busca de ressarcimento em Nova York.
A Braskem, ao mesmo tempo que é fonte de um dos maiores fluxos de caixa, é também de dívida. O balanço da holding Odebrecht deve consolidar e expor o crescimento dos compromissos da petroquímica, que fechou 20115 com R$ 27,3 bilhões em financiamentos mais R$ 12,3 bilhões de compromissos em "project finance" para a unidade no México.
Aos interlocutores, a Odebrecht admite que não terá condições de tocar grandes projetos de infraestrutura, tanto dentro como fora do Brasil. Não por acaso, estão à venda o gasoduto do Peru, a participação na Usina Hidrelétrica Santo Antônio e a Odebrecht TransPort (em parte ou no todo).
As maiores dívidas após a Braskem estão na Óleo e Gás, Agroindustrial e na operação de infraestrutura e logística.
Em 2014, as dívidas da Óleo e Gás somavam R$ 12,7 bilhões ou US$ 4,8 bilhões, já que as captações foram feitas na maioria mediante a emissão de bonds no mercado internacional.
Embora as conversas com os detentores desses bonds esteja aberta, a conclusão é demorada pois envolve a renegociação dos contratos para as sondas com a Petrobras, que foram dados em garantia às emissões.
No segmento de infraestrutura, transportes e logística, os compromissos ao fim de 2014 somavam quase R$ 13 bilhões. Além do desafio das dívidas, a dificuldade está no volume de investimento necessário para os projetos.
A Odebrecht Engenharia e Construção espera entregar as demonstrações financeiras nos próximos dias. O motivo do atraso não publicação é o debate com a auditoria PricewaterhouseCoopers sobre como registrar os impactos da corrupção no negócio.