Com uma produtividade no mínimo estagnada nos últimos dez anos, o setor decana-de-açúcar vai receber recursos do BNDES e da Finep para desenvolver tecnologias que mudem esse cenário. O orçamento do programa lançado este ano com este fim, o PAISS Agrícola - Plano de Apoio Conjunto à Inovação Tecnológica Agrícola no Setor Sucroenergético -, inicialmente de R$ 1,48 bilhão, pode atingir R$ 2 bilhões, dada a elevada demanda recebida pelas duas instituições, segundo estimativas do mercado.
Das cinco linhas temáticas lançadas pelo programa, três devem ser priorizadas, afirma o chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Carlos Eduardo Cavalcanti. No foco, diz ele, estão o desenvolvimento de uma cana transgênica, de ferramentas de agricultura de precisão e a criação de uma semente de cana-de-açúcar que coloque fim ao arcaico plantio de brotos da cana.
Os pedidos de financiamento alcançaram R$ 4,5 bilhões para 61 planos de negócios. Nesse bolo, estão projetos de diversos grupos sucroalcooleiros, indústrias de máquinas e implementos agrícolas e de insumos. Como o orçamento é inferior à demanda, os projetos estão sendo analisados e os mais estratégicos serão priorizados.
Três dos projetos protocolados no PAISS são da Odebrecht Agroindustrial. Atualmente, 1,120 milhão de toneladas de cana das usinas do grupo são "desviadas" do processo industrial para produção de mudas. Por isso, um dos projetos que a companhia apresentou visa desenvolver um sistema de produção de mudas que demande menoscana, segundo o vice-presidente agrícola da empresa, Fabiano Zillo.
Ao todo, a Odebrecht Agroindustrial busca R$ 461 milhões para seus três projetos. Além do desenvolvimento de mudas, a companhia pesquisa uma logística viável economicamente para trazer do campo metade da palha que sobra no canavial após a colheita. Num primeiro momento, segundo Zillo, essa biomassa será usada na cogeração de energia. Mas, poderá também ser convertida na produção de etanol de segunda geração. "A equação que precisamos encontrar é a de recolher, transportar, descarregar na usina e processar essa palha", afirma o executivo.
Se obtiver êxito, a empresa pretende estender essa tecnologia às nove usinas de cana do grupo. O potencial "cheio" é de recolhimento de 225 mil toneladas de palha por unidade. Mas Zillo pondera que, como essa operação deve ser viável em um raio de até 20 quilômetros da usina, a expectativa real é de que o recolhimento da palha fique entre 100 mil e 140 mil toneladas por safra. "Conseguiremos produzir 0,85 Megawatt/hora (MWh) por tonelada de palha, o que significará uma energia adicional de 59 mil MWh", calcula.
Juntamente com outras usinas e com indústrias de máquinas agrícolas, a empresa também participa do desenvolvimento de uma máquina capaz de colher ao mesmo tempo três fileiras de cana. Hoje, a única tecnologia disponível no mercado permite a colheita de apenas uma linha. Assim, explica Zillo, em vez de 1,5 metro entre uma linha e outra, a usina poderia plantar no meio desse espaço mais uma fileira de cana. "Teríamos um ganho de produtividade de 20% a 30% ao reduzir o espaçamento", afirma Zillo.
Já a multinacional de máquinas CNH Industrial está levando seis projetos para serem apreciados pelo PAISS, com um orçamento de R$ 100 milhões. No foco dessas iniciativas está o aumento da produtividade da colheita mecanizada, hoje grande fonte de perda de rendimento das usinas. Os projetos são tocados com parceiros, entre eles usinas e outros fabricantes de máquinas, cujo portfólio não compete com o da companhia, diz Carlos Visconti, gerente de pesquisa e desenvolvimento de produto da área agrícola da CNH Industrial.
Alguns deles estão sendo desenvolvidos há mais de dois anos e devem sair do papel, mesmo sem a obtenção de recursos suficientes do BNDES, afirma ele.
Além de colheitadeira para colher em mais de uma linha ao mesmo tempo, a CNH também estuda novos materiais - itens para aumentar a confiabilidade e durabilidade das máquinas - que possibilitarão diminuir o custo de manutenção e o tempo de parada do equipamento, reduzindo o custo operacional da colhedora. Afora isso, estuda-se promover a gestão da máquina à distância. Algumas tecnologias poderão ser lançadas já a partir de 2016, prevê Visconti.
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) entregou três projetos ao PAISS Agrícola, num orçamento de R$ 70 milhões. O presidente do CTC, Gustavo Leite, diz que entre os planos está o de aprimorar o atual programa de marcadores moleculares da cana-de-açúcar, em parceria com o projeto Bioen, da Universidade de São Paulo. A partir desse programa, a empresa de pesquisa pretende acelerar o desenvolvimento de variedades decana. "Já havíamos reduzido de 15 para 8 anos o tempo de desenvolvimento de uma nova variedade. Com esse projeto, temos a ambição de reduzir a seis anos esse prazo".
A Raízen, a maior produtora de etanol e açúcar do país, protocolou no BNDES um projeto de R$ 20 milhões para desenvolver o plantio de mudas pré-brotadas de cana. "Trata-se de um processo complexo, pois a fase de testes demanda um ciclo inteiro da cana, de quatro a cinco anos", afirma o vice-presidente da Raízen Energia, Pedro Mizutani.
Fabiana Batista e Carine Ferreira
Com uma produtividade no mínimo estagnada nos últimos dez anos, o setor decana-de-açúcar vai receber recursos do BNDES e da Finep para desenvolver tecnologias que mudem esse cenário. O orçamento do programa lançado este ano com este fim, o PAISS Agrícola - Plano de Apoio Conjunto à Inovação Tecnológica Agrícola no Setor Sucroenergético -, inicialmente de R$ 1,48 bilhão, pode atingir R$ 2 bilhões, dada a elevada demanda recebida pelas duas instituições, segundo estimativas do mercado.
Das cinco linhas temáticas lançadas pelo programa, três devem ser priorizadas, afirma o chefe do Departamento de Biocombustíveis do BNDES, Carlos Eduardo Cavalcanti. No foco, diz ele, estão o desenvolvimento de uma cana transgênica, de ferramentas de agricultura de precisão e a criação de uma semente de cana-de-açúcar que coloque fim ao arcaico plantio de brotos da cana.
Os pedidos de financiamento alcançaram R$ 4,5 bilhões para 61 planos de negócios. Nesse bolo, estão projetos de diversos grupos sucroalcooleiros, indústrias de máquinas e implementos agrícolas e de insumos. Como o orçamento é inferior à demanda, os projetos estão sendo analisados e os mais estratégicos serão priorizados.
Três dos projetos protocolados no PAISS são da Odebrecht Agroindustrial. Atualmente, 1,120 milhão de toneladas de cana das usinas do grupo são "desviadas" do processo industrial para produção de mudas. Por isso, um dos projetos que a companhia apresentou visa desenvolver um sistema de produção de mudas que demande menoscana, segundo o vice-presidente agrícola da empresa, Fabiano Zillo.
Ao todo, a Odebrecht Agroindustrial busca R$ 461 milhões para seus três projetos. Além do desenvolvimento de mudas, a companhia pesquisa uma logística viável economicamente para trazer do campo metade da palha que sobra no canavial após a colheita. Num primeiro momento, segundo Zillo, essa biomassa será usada na cogeração de energia. Mas, poderá também ser convertida na produção de etanol de segunda geração. "A equação que precisamos encontrar é a de recolher, transportar, descarregar na usina e processar essa palha", afirma o executivo.
Se obtiver êxito, a empresa pretende estender essa tecnologia às nove usinas de cana do grupo. O potencial "cheio" é de recolhimento de 225 mil toneladas de palha por unidade. Mas Zillo pondera que, como essa operação deve ser viável em um raio de até 20 quilômetros da usina, a expectativa real é de que o recolhimento da palha fique entre 100 mil e 140 mil toneladas por safra. "Conseguiremos produzir 0,85 Megawatt/hora (MWh) por tonelada de palha, o que significará uma energia adicional de 59 mil MWh", calcula.
Juntamente com outras usinas e com indústrias de máquinas agrícolas, a empresa também participa do desenvolvimento de uma máquina capaz de colher ao mesmo tempo três fileiras de cana. Hoje, a única tecnologia disponível no mercado permite a colheita de apenas uma linha. Assim, explica Zillo, em vez de 1,5 metro entre uma linha e outra, a usina poderia plantar no meio desse espaço mais uma fileira de cana. "Teríamos um ganho de produtividade de 20% a 30% ao reduzir o espaçamento", afirma Zillo.
Já a multinacional de máquinas CNH Industrial está levando seis projetos para serem apreciados pelo PAISS, com um orçamento de R$ 100 milhões. No foco dessas iniciativas está o aumento da produtividade da colheita mecanizada, hoje grande fonte de perda de rendimento das usinas. Os projetos são tocados com parceiros, entre eles usinas e outros fabricantes de máquinas, cujo portfólio não compete com o da companhia, diz Carlos Visconti, gerente de pesquisa e desenvolvimento de produto da área agrícola da CNH Industrial.
Alguns deles estão sendo desenvolvidos há mais de dois anos e devem sair do papel, mesmo sem a obtenção de recursos suficientes do BNDES, afirma ele.
Além de colheitadeira para colher em mais de uma linha ao mesmo tempo, a CNH também estuda novos materiais - itens para aumentar a confiabilidade e durabilidade das máquinas - que possibilitarão diminuir o custo de manutenção e o tempo de parada do equipamento, reduzindo o custo operacional da colhedora. Afora isso, estuda-se promover a gestão da máquina à distância. Algumas tecnologias poderão ser lançadas já a partir de 2016, prevê Visconti.
O Centro de Tecnologia Canavieira (CTC) entregou três projetos ao PAISS Agrícola, num orçamento de R$ 70 milhões. O presidente do CTC, Gustavo Leite, diz que entre os planos está o de aprimorar o atual programa de marcadores moleculares da cana-de-açúcar, em parceria com o projeto Bioen, da Universidade de São Paulo. A partir desse programa, a empresa de pesquisa pretende acelerar o desenvolvimento de variedades decana. "Já havíamos reduzido de 15 para 8 anos o tempo de desenvolvimento de uma nova variedade. Com esse projeto, temos a ambição de reduzir a seis anos esse prazo".
A Raízen, a maior produtora de etanol e açúcar do país, protocolou no BNDES um projeto de R$ 20 milhões para desenvolver o plantio de mudas pré-brotadas de cana. "Trata-se de um processo complexo, pois a fase de testes demanda um ciclo inteiro da cana, de quatro a cinco anos", afirma o vice-presidente da Raízen Energia, Pedro Mizutani.
Fabiana Batista e Carine Ferreira