Uma variedade sem a devida avaliação pode causar um prejuízo por cinco ou seis anos. Expandir uma nova variedade é de grande responsabilidade, pois o manejo varietal precisa de conhecimento e informação.
Para atualizar as usinas, produtores e profissionais do setor no sentido de obterem potencial máximo no manejo, o grupo IDEA realizou nos dias 20 e 21 de setembro, no Centro de Eventos do Ribeirão Shopping, em Ribeirão Preto, a 17ª edição do Grande Encontro de Variedades de Cana-de-Açúcar, que este ano passou a abordar também Novas Técnicas de Fertilização.
O destaque das apresentações e discussões esteve nas últimas técnicas e avanços em fertilização que têm impulsionado a produtividade dos cultivos de cana-de-açúcar de maneira ambientalmente consciente.
Além de discussões sobre manejo varietal adotado por unidades sucroenergéticas e produtores de cana, o evento foi palco para a apresentação das mais recentes variedades de cana-de-açúcar e de futuras liberações.
Os programas de melhoramento apresentaram as variedades de cana-de-açúcar que vêm contribuindo para a produtividade do setor bem como os lançamentos.
O IAC (Instituto Agronômico de Campinas), através do gestor de adoção de tecnologias, Daniel Nunes, abriu os trabalhos apresentando os resultados de campo das novas variedades IAC em áreas comerciais e destacando as quatro principais variedades que estão chamando a atenção dentro do setor pensando em inovação tecnológica: IAC 5503, IAC 8008, IAC 6007, IAC 7207 e IACCCT C07-2361.
IAC07 2361 ( próximo lançamento em teste nos Estados de SP, MG, GO, MS, PR, TO e MT)
Já o CTC (Centro de Tecnologia Canavieira), por meio do gerente de desenvolvimento de produtos e assistência técnica do CTC, Mauro Violante, destacou como as variedades:CTC 9006, CTC 9007, CTC 2994 estão se deslocando e contribuindo com a produtividade do setor e também os seus lançamentos: CTC 9009 / CTC 9008 / CTC 3445.
A Ridesa/UFSCar - Rede Interinstitucional de Desenvolvimento do Setor Sucroalcooleiro também abordou o posicionamento das novas variedades e clones promissores. O engenheiro agrônomo e pesquisador da Ridesa/UFSCar, Antonio Ribeiro, na oportunidade apresentou o censo varietal 2023, onde destacou as variedades: RB975242, RB975201, RB975033, RB985476, RB005014, RB975375, RB975952 e RB015177. Ribeiro também pontuou os clones em destaque: RB075322, RB045836, RB065084 e RB075253.
Estrias vermelhas
O profissional de desenvolvimento técnico de mercado da Oxiquímica, Ricardo Dias, trouxe um alerta sobre estrias vermelhas, doença foliar extremamente grave que ataca o canavial muito rapidamente e traz perdas expressivas na produtividade (TCH e TAH), na qualidade da matéria-prima que vai para a indústria e na longevidade.
De acordo com Dias, todos os anos são discutidas questões sobre as doenças foliares e ano a ano têm piorado. Segundo ele, na região Centro-Sul, 30% da área cultivada têm variedades altamente susceptíveis a estrias vermelhas e é preciso verificar as variedades e o que pode ser feito em áreas onde há suscetibilidade a estrias vermelhas, pois essa bactéria fica na área mesmo pós-colhida. “Minha sugestão é que identifiquem os talhões problemas, pois se tem problema este ano, muito provavelmente terá no próximo ano também. Então, verifiquem o censo varietal, vejam as variedades susceptíveis, identifiquem áreas problemas e façam a avaliação nessas áreas”.
Cana bisada
O diretor do Grupo IDEA Dib Nunes, na oportunidade discorreu as estratégias para maximizar o desempenho de variedades, onde destacou as vantagens e os principais problemas da cana bisada. Dentre os principais problemas de um canavial bisado apontou: cana desidratada, seca ou apodrecida; cana com duas populações de colmos, muito broto chupão piorando o ATR; cana com maior tombamento e perdas; cana com brotação lateral e enraizamento; alto teor de contaminantes biológicos, Dextranas, Ácidos Orgânicos e Substâncias não açucares; cana com elevado ataque de pragas (broca, cigarrinha, sphenophorus e coletotrichum).
“Para escolher uma cana para bisar é preciso ir até o campo e se tiver ataque de coletotrichum, não pode bisar”.
Já as vantagens que uma cana bis (bem colhida) pode apresentar Dib destacou: a liberação de áreas de reforma mais cedo; a redução do custo de produção por tonelada produzida; quando o volume de cana bis é significativo ao entrar no início de safra, vai“empurrar” à frente as datas de colheita, ganhando idade no campo e com isso aumento de ATR e TCH; soltar a safra mais cedo, melhorando o fluxo de caixa.
Cuidados a serem tomados para seleção dos canaviais a serem bisados
De acordo com Dib, o ideal é preferir canaviais de últimos cortes; escolher canaviais que estejam com baixo desenvolvimento vegetativo, principalmente aqueles colhidos no final da safra; escolher canaviais sem florescimento ou indução floral; evitar bisar canaviais tombados ou bem desenvolvidos, principalmente a cana de ano e meio; canaviais em solos de menor fertilidade podem apresentar mais condições para bisar, embora com menores ganhos de TCH; realizar levantamentos de pragas e doenças antes da escolha da área para bisar; entrar com a cana bisada logo no início da safra sob o risco de ter uma redução na capacidade de brotação da soqueira; não bisar cana maturada ou geada; escolher as variedades mais adaptadas ao manejo, em especial aquelas que crescem mais lentamente; selecionar áreas com menores riscos de incêndios.
“O manejo cultural de cana bis como estratégia para se reduzir custos e aumentar a produtividade pode dar bons resultados, desde que esse sistema seja bem planejado e a empresa tenha possibilidade de ter no mínimo 15% a mais de áreas com canaviais. A escolha das variedades é de suma importância para se obter sucesso no sistema de produção de cana bis como manejo cultural”, destacou Dib.
O assistente técnico da Copercana, Amauri Ap. da Costa, o coordenador técnico da Unidade de Grãos da Copercana, Gustavo Nogueira, e a gestora técnica da Canaoeste, Alessandra Durigan, participaram do evento. Os profissionais se juntaram aos especialistas, pesquisadores e representantes do setor para se atualizarem sobre as mais recentes técnicas de manejo varietal de cana-de-açúcar desenvolvidas pelos principais institutos de pesquisas do país e também se informarem sobre as ultimas técnicas e avanços em nutrição que têm impulsionado a produtividade dos cultivos de cana de maneira sustentável.