Ainda que 2015 tenda a ser marcado pela continuidade de um processo de concentração aprofundado pela crise dos últimos anos, o segmento sucroalcooleiro tem hoje mais motivos para acreditar em dias melhores do que no início de 2014. É o que sinaliza o estudo "Caminhos da Cana", recém-concluído pela Markestrat, organização de projetos e pesquisas com sede em Ribeirão Preto, no interior paulista.
"Em razão do cenário econômico complicado, o problema do endividamento das usinas deverá se agravar. O clima continua a ser uma preocupação, mas, mesmo assim, é possível prever o início de uma tendência de recuperação do segmento", afirma Marcos Fava Neves, conselheiro da Markestrat e professor titular da FEA/USP. "Essa recuperação, contudo, não será suficiente para evitar a continuidade de uma dolorosa depuração", diz.
Fava Neves também ressalva que, para se confirmar, esse cenário menos negativo depende da concretização de uma série de medidas e iniciativas que terão de ser adotadas pelos setores público e privado. Ele observa que muitas recomendações consideradas importantes para uma virada positiva continuarão apenas no papel. Todavia, enxerga nas que estão em andamento e em promessas que deverão de fato virar realidade um arcabouço já suficiente para que muitos "players" comecem a contornar problemas financeiros.
Na agenda do setor público, o especialista destaca como fatores positivos praticamente garantidos a volta da cobrança da Cide na gasolina, que confere maior competitividade ao etanol hidratado, e o aumento da mistura de etanol anidro no combustível fóssil, dos atuais 25% para 27,5%. Além disso, destaca o início da aprovação de legislações que tornam obrigatória a divulgação, nas bombas dos postos, que as emissões de CO2 do biocombustível são menores. "Isso já está acontecendo em Olímpia [município paulista] e vai se espalhar".
Fava Neves realça que as leis ambientais têm sido mais respeitadas do que no passado, o que é bom para o segmento. Ele acredita que haverá mais estímulo para a expansão da cogeração de energia e nota que o governo tem fortalecido as linhas de crédito para áreas agrícolas de cana e irrigação, para as quais a demanda tem se mostrado aquecida. Já questões como a melhoria e a simplificação da legislação trabalhista, do sistema tributário e do judiciário, que tanto poderiam beneficiar o segmento, dificilmente se tornarão realidade no curto prazo.
Apesar de o estudo da Markestrat pregar a instituição de um programa oficial de recuperação financeira de usinas, produtores de cana e indústrias de base focadas nesse mercado, Fava Neves também não vê possibilidades reais de isso acontecer. E o especialista é igualmente pessimista quanto a melhorias logísticas, concessões de subsídios ou mesmo em relação à evolução de programas de educação e capacitação.
Na agenda do setor privado, o trabalho, que é focado na região Centro-Sul do país, elege como prioridades medidas como o desenvolvimento de renovação e melhoria nos tratos culturais dos canaviais, aumento da produtividade, melhorias na mecanização, aportes em irrigação e em agricultura de precisão, intensificação de pesquisas em biotecnologia e em etanol de segunda geração (celulósico), modernização de equipamentos de usinas, avanço na gestão e adoção de melhores estratégias comerciais para o etanol. E defende o fortalecimento de associações e cooperativas de fornecedores independentes de cana - que, de acordo com Fava Neves, têm de se firmar como "produtores integrados".
"Há muitos agricultores arrendando suas terras e saindo da atividade, seja por causa de envelhecimento e ausência de sucessores ou em virtude do aumento de custos, de problemas climáticos ou da queda dos preços. Mas a tendência é que os produtores integrados organizados ampliem sua participação no suprimento de cana". De acordo com Fava Neves, os próprios produtores estão cada vez mais conscientes de seu papel e sabem que precisam evoluir em algumas frentes.
Nesse sentido, pesquisa da Markestrat captou entre 548 produtores independentes quais seriam suas seis "ações primordiais". As respostas que mais apareceram foram "melhorar minha produção no campo", "melhorar a gestão do meu negócio", "aumentar minha cultura associativista", "melhorar minha atuação política", "ser ativo na comunicação do setor" e "buscar melhores formas de relacionamento com usinas". Nada exatamente novo, mas medidas que se tornam mais urgentes a cada dia.
Ainda que 2015 tenda a ser marcado pela continuidade de um processo de concentração aprofundado pela crise dos últimos anos, o segmento sucroalcooleiro tem hoje mais motivos para acreditar em dias melhores do que no início de 2014. É o que sinaliza o estudo "Caminhos da Cana", recém-concluído pela Markestrat, organização de projetos e pesquisas com sede em Ribeirão Preto, no interior paulista.
"Em razão do cenário econômico complicado, o problema do endividamento das usinas deverá se agravar. O clima continua a ser uma preocupação, mas, mesmo assim, é possível prever o início de uma tendência de recuperação do segmento", afirma Marcos Fava Neves, conselheiro da Markestrat e professor titular da FEA/USP. "Essa recuperação, contudo, não será suficiente para evitar a continuidade de uma dolorosa depuração", diz.
Fava Neves também ressalva que, para se confirmar, esse cenário menos negativo depende da concretização de uma série de medidas e iniciativas que terão de ser adotadas pelos setores público e privado. Ele observa que muitas recomendações consideradas importantes para uma virada positiva continuarão apenas no papel. Todavia, enxerga nas que estão em andamento e em promessas que deverão de fato virar realidade um arcabouço já suficiente para que muitos "players" comecem a contornar problemas financeiros.
Na agenda do setor público, o especialista destaca como fatores positivos praticamente garantidos a volta da cobrança da Cide na gasolina, que confere maior competitividade ao etanol hidratado, e o aumento da mistura de etanol anidro no combustível fóssil, dos atuais 25% para 27,5%. Além disso, destaca o início da aprovação de legislações que tornam obrigatória a divulgação, nas bombas dos postos, que as emissões de CO2 do biocombustível são menores. "Isso já está acontecendo em Olímpia [município paulista] e vai se espalhar".
Fava Neves realça que as leis ambientais têm sido mais respeitadas do que no passado, o que é bom para o segmento. Ele acredita que haverá mais estímulo para a expansão da cogeração de energia e nota que o governo tem fortalecido as linhas de crédito para áreas agrícolas de cana e irrigação, para as quais a demanda tem se mostrado aquecida. Já questões como a melhoria e a simplificação da legislação trabalhista, do sistema tributário e do judiciário, que tanto poderiam beneficiar o segmento, dificilmente se tornarão realidade no curto prazo.
Apesar de o estudo da Markestrat pregar a instituição de um programa oficial de recuperação financeira de usinas, produtores de cana e indústrias de base focadas nesse mercado, Fava Neves também não vê possibilidades reais de isso acontecer. E o especialista é igualmente pessimista quanto a melhorias logísticas, concessões de subsídios ou mesmo em relação à evolução de programas de educação e capacitação.
Na agenda do setor privado, o trabalho, que é focado na região Centro-Sul do país, elege como prioridades medidas como o desenvolvimento de renovação e melhoria nos tratos culturais dos canaviais, aumento da produtividade, melhorias na mecanização, aportes em irrigação e em agricultura de precisão, intensificação de pesquisas em biotecnologia e em etanol de segunda geração (celulósico), modernização de equipamentos de usinas, avanço na gestão e adoção de melhores estratégias comerciais para o etanol. E defende o fortalecimento de associações e cooperativas de fornecedores independentes de cana - que, de acordo com Fava Neves, têm de se firmar como "produtores integrados".
"Há muitos agricultores arrendando suas terras e saindo da atividade, seja por causa de envelhecimento e ausência de sucessores ou em virtude do aumento de custos, de problemas climáticos ou da queda dos preços. Mas a tendência é que os produtores integrados organizados ampliem sua participação no suprimento de cana". De acordo com Fava Neves, os próprios produtores estão cada vez mais conscientes de seu papel e sabem que precisam evoluir em algumas frentes.
Nesse sentido, pesquisa da Markestrat captou entre 548 produtores independentes quais seriam suas seis "ações primordiais". As respostas que mais apareceram foram "melhorar minha produção no campo", "melhorar a gestão do meu negócio", "aumentar minha cultura associativista", "melhorar minha atuação política", "ser ativo na comunicação do setor" e "buscar melhores formas de relacionamento com usinas". Nada exatamente novo, mas medidas que se tornam mais urgentes a cada dia.