O Brasil tornou-se, desde a década de 1970, um gigante dos canaviais e, atualmente é o maior produtor de álcool e cana-de-açúcar do mundo. Porém, segue com certa timidez em relação aos estudos de melhoramento genético e combate às pragas que interferem significativamente na produção industrial desse vegetal.
Desde o surgimento do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), que tinha como objetivo a substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de petróleo porálcool, a partir de 1975 - devido à crise do petróleo em 1973 -, que os produtores priorizaram a expansão dessa cultura, em detrimento do aperfeiçoamento das plantações.
De acordo com o doutor em Fitopatologia e consultor em culturas de cana-de-açúcar, Álvaro Sanguino, investir na produção de canaviais sadios reflete diretamente na obtenção de plantações uniformes, livres de pragas e com resultados econômicos positivos, uma vez que esses investimentos reduzem a incidência de transtornos e gastos com reparações e manutenção do plantio.
Álvaro lamenta que em mais de 40 anos de estudos tenha visto poucos investimentos no melhoramento dessas plantas. "Há pelo menos dez anos a indústria canavieira se esqueceu de como se produz uma muda de cana", afirma o consultor.
As doenças
"Sempre levei para as usinas metodologias de formação de viveiros com mudas sadias", lembra o professor, ao enfatizar a importância de se produzir novas plantas livres de doenças que afetam a produtividade dos canaviais. Ainda de acordo com Sanguino, essas doenças são sistêmicas e derivadas de bactérias que ocorrem no interior da cana.
O pesquisador explica que uma vez que a muda é acometida por estas doenças, durante o processo de desenvolvimento e crescimento da planta ocorre uma obstrução do sistema vascular, impedindo a absorção de água e nutrientes. Assim, há uma perda considerável de produtividade.
Álvaro Sanguino afirma que, como a criação de novas mudas de cana geralmente ocorre a partir da planta adulta - que pode estar doente -, todas as características genéticas e de sanidade são automaticamente transferidas para os brotos, o que facilita o alastramento bacteriológico dentro da lavoura, caso não haja um investimento na produção de mudas sadias. "Cada vez que levamos um pedacinho dessa cana para frente, sem o devido cuidado, estamos multiplicando essa doença no campo", alerta o pesquisador.
Desafios do setor
Para os produtores de cana-de-açúcar, mais que investir nas plantações é enfrentar desafios e encará-los como boas oportunidades de contribuir para que o mercado consiga melhores resultados e produza ainda mais. Este é o conceito defendido pelo gerente de Marketing AgMusa da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Cássio da Silva Cardoso Teixeira e pelo responsável pelo desenvolvimento técnico de mercado da empresa, Edinaldo Mariani Junior.
De acordo com Junior, o setor está passando por uma revolução, principalmente na operação fim, ou seja, plantio de cana de açúcar. Ele afirma que todas as operações realizadas nesse processo terão impacto direto em toda a cadeia produtiva do ciclo dacana. "Nós vamos ajudar o setor a retomar as boas práticas, a produtividade e rentabilidade."
Junior afirma ainda que o processo de cultivo da cana-de-açúcar demanda uma complexidade e cuidados que vão desde o preparo da terra, a escolha das mudas, passando pelo manejo até a transformação do produto nas usinas. "Isso, somado à falta de mão de obra e o alto consumo de matéria-prima estão fazendo com que tenhamos baixa produtividade e problemas sérios na cultura de cana-de-açúcar", afirma o engenheiro agrônomo.
Contribuição econômica
De acordo com o gerente de Planejamento e desenvolvimento da usina Alta Mogiana, Luís Augusto Contin (Guto), a empresa, instalada em São Paulo, fatura cerca de R$ 2 bilhões por ano e gera 15 mil empregos diretos no grupo. A companhia consome 15,5 milhões de toneladas de cana por ano, com o cultivo de 184 mil hectares de área plantada.
A empresa, que é fundamentalmente voltada à produção açucareira, produz ainda etanol eenergia elétrica. Segundo Guto, o objetivo da companhia é atender os principais produtores da indústria alimentícia do País. Coca-Cola, Cargill e Brasil Kirin são exemplos desses parceiros comerciais.
O gerente relata que desde 2012 a Alta Mogiana busca um novo modelo de plantio decana, para substituir o modelo mecânico, que além de elevado custo apresenta falhas na distribuição das mudas e é muito agressivo às gemas - brotos da cana. "Assim, surgiu a parceria com a Basf e o uso da tecnologia AgMusa em larga escala", afirma.
Já Américo Ferraz, engenheiro agrícola, especialista em plantio e colheita de cana-de-açúcar e diretor da Odebrecht Agroindustrial, empresa presente em Goiás, afirma que a companhia possui atualmente uma capacidade de industrialização de cerca de 37 milhões de toneladas, com mais de 450 mil hectares plantados, com foco na produção de etanolhidratado.
Para o engenheiro, a garantia de sanidade das mudas é uma evolução, mas que ainda é preciso grandes melhorias, principalmente quanto aos maquinários. "Precisamos melhorar as plantadoras, ampliando sua autonomia e performance nos processos de distribuição de mudas, para conseguirmos plantar mais áreas em um espaço menor de tempo", relata.
De acordo com Ferraz, outro ponto que merece grande atenção de pesquisadores e empresários do setor é a redução de valor das plântulas - embrião vegetal que começa a desenvolver-se pelo ato da germinação. "Para um setor que precisa da quebra de paradigmas e mudanças radicais, principalmente em custos de produção, a gente precisa pensar em alternativas para baratear essas plântulas e conseguir a redução de custos que impacta diretamente na rentabilidade de todo o processo", atesta o engenheiro.
Mayone de Melo
O Brasil tornou-se, desde a década de 1970, um gigante dos canaviais e, atualmente é o maior produtor de álcool e cana-de-açúcar do mundo. Porém, segue com certa timidez em relação aos estudos de melhoramento genético e combate às pragas que interferem significativamente na produção industrial desse vegetal.
Desde o surgimento do Programa Nacional do Álcool (Pró-Álcool), que tinha como objetivo a substituição em larga escala dos combustíveis veiculares derivados de petróleo porálcool, a partir de 1975 - devido à crise do petróleo em 1973 -, que os produtores priorizaram a expansão dessa cultura, em detrimento do aperfeiçoamento das plantações.
De acordo com o doutor em Fitopatologia e consultor em culturas de cana-de-açúcar, Álvaro Sanguino, investir na produção de canaviais sadios reflete diretamente na obtenção de plantações uniformes, livres de pragas e com resultados econômicos positivos, uma vez que esses investimentos reduzem a incidência de transtornos e gastos com reparações e manutenção do plantio.
Álvaro lamenta que em mais de 40 anos de estudos tenha visto poucos investimentos no melhoramento dessas plantas. "Há pelo menos dez anos a indústria canavieira se esqueceu de como se produz uma muda de cana", afirma o consultor.
As doenças
"Sempre levei para as usinas metodologias de formação de viveiros com mudas sadias", lembra o professor, ao enfatizar a importância de se produzir novas plantas livres de doenças que afetam a produtividade dos canaviais. Ainda de acordo com Sanguino, essas doenças são sistêmicas e derivadas de bactérias que ocorrem no interior da cana.
O pesquisador explica que uma vez que a muda é acometida por estas doenças, durante o processo de desenvolvimento e crescimento da planta ocorre uma obstrução do sistema vascular, impedindo a absorção de água e nutrientes. Assim, há uma perda considerável de produtividade.
Álvaro Sanguino afirma que, como a criação de novas mudas de cana geralmente ocorre a partir da planta adulta - que pode estar doente -, todas as características genéticas e de sanidade são automaticamente transferidas para os brotos, o que facilita o alastramento bacteriológico dentro da lavoura, caso não haja um investimento na produção de mudas sadias. "Cada vez que levamos um pedacinho dessa cana para frente, sem o devido cuidado, estamos multiplicando essa doença no campo", alerta o pesquisador.
Desafios do setor
Para os produtores de cana-de-açúcar, mais que investir nas plantações é enfrentar desafios e encará-los como boas oportunidades de contribuir para que o mercado consiga melhores resultados e produza ainda mais. Este é o conceito defendido pelo gerente de Marketing AgMusa da Unidade de Proteção de Cultivos da Basf, Cássio da Silva Cardoso Teixeira e pelo responsável pelo desenvolvimento técnico de mercado da empresa, Edinaldo Mariani Junior.
De acordo com Junior, o setor está passando por uma revolução, principalmente na operação fim, ou seja, plantio de cana de açúcar. Ele afirma que todas as operações realizadas nesse processo terão impacto direto em toda a cadeia produtiva do ciclo dacana. "Nós vamos ajudar o setor a retomar as boas práticas, a produtividade e rentabilidade."
Junior afirma ainda que o processo de cultivo da cana-de-açúcar demanda uma complexidade e cuidados que vão desde o preparo da terra, a escolha das mudas, passando pelo manejo até a transformação do produto nas usinas. "Isso, somado à falta de mão de obra e o alto consumo de matéria-prima estão fazendo com que tenhamos baixa produtividade e problemas sérios na cultura de cana-de-açúcar", afirma o engenheiro agrônomo.
Contribuição econômica
De acordo com o gerente de Planejamento e desenvolvimento da usina Alta Mogiana, Luís Augusto Contin (Guto), a empresa, instalada em São Paulo, fatura cerca de R$ 2 bilhões por ano e gera 15 mil empregos diretos no grupo. A companhia consome 15,5 milhões de toneladas de cana por ano, com o cultivo de 184 mil hectares de área plantada.
A empresa, que é fundamentalmente voltada à produção açucareira, produz ainda etanol eenergia elétrica. Segundo Guto, o objetivo da companhia é atender os principais produtores da indústria alimentícia do País. Coca-Cola, Cargill e Brasil Kirin são exemplos desses parceiros comerciais.
O gerente relata que desde 2012 a Alta Mogiana busca um novo modelo de plantio decana, para substituir o modelo mecânico, que além de elevado custo apresenta falhas na distribuição das mudas e é muito agressivo às gemas - brotos da cana. "Assim, surgiu a parceria com a Basf e o uso da tecnologia AgMusa em larga escala", afirma.
Já Américo Ferraz, engenheiro agrícola, especialista em plantio e colheita de cana-de-açúcar e diretor da Odebrecht Agroindustrial, empresa presente em Goiás, afirma que a companhia possui atualmente uma capacidade de industrialização de cerca de 37 milhões de toneladas, com mais de 450 mil hectares plantados, com foco na produção de etanolhidratado.
Para o engenheiro, a garantia de sanidade das mudas é uma evolução, mas que ainda é preciso grandes melhorias, principalmente quanto aos maquinários. "Precisamos melhorar as plantadoras, ampliando sua autonomia e performance nos processos de distribuição de mudas, para conseguirmos plantar mais áreas em um espaço menor de tempo", relata.
De acordo com Ferraz, outro ponto que merece grande atenção de pesquisadores e empresários do setor é a redução de valor das plântulas - embrião vegetal que começa a desenvolver-se pelo ato da germinação. "Para um setor que precisa da quebra de paradigmas e mudanças radicais, principalmente em custos de produção, a gente precisa pensar em alternativas para baratear essas plântulas e conseguir a redução de custos que impacta diretamente na rentabilidade de todo o processo", atesta o engenheiro.
Mayone de Melo