Roberto Giacomini Chapola - Engenheiro, agrônomo, pesquisador do PMGCA/UFSCar/RIDESA
A produtividade média de cana-de-açúcar no Brasil na safra 2021/22 foi de 70,4 t.ha-1, o que representa uma redução de 7,4% em comparação à safra anterior. Esta diminuição pode ser atribuída às anomalias climáticas ocorridas ao longo de 2021 na região Centro-Sul, como a seca de grande intensidade após o primeiro trimestre do ano e as baixas temperaturas registradas entre junho e agosto, inclusive com formação de geadas em diversos canaviais (CONAB, 2022).
Para superar este e outros desafios, é fundamental que o setor sucroenergético invista em tecnologias. Uma delas é o melhoramento genético, que tem como meta a obtenção de novas variedades de cana-de-açúcar, superiores às atualmente em cultivo e que acumulem o maior número possível de características agroindustriais favoráveis. Atualmente, quatro programas de melhoramento genético de cana-de-açúcar estão em atividade no Brasil: Rede Interuniversitária para o Desenvolvimento do Setor Sucroenergético (RIDESA – variedades RB); Instituto Agronômico de Campinas (variedades IAC); Centro de Tecnologia Canavieira (variedades CTC), que deu continuidade ao programa da Copersucar (variedades SP); e GranBio (variedades Vertix), este último direcionado para o desenvolvimento de variedades de “cana-energia”. Havia ainda o programa da CanaVialis - Monsanto (variedades CV), que encerrou suas atividades em 2015.
As variedades RB começaram a ser desenvolvidas pelo Programa Nacional de Melhoramento da Cana-de-açúcar (Planalsucar), criado em 1971. Após seu encerramento em 1990, os recursos físicos e humanos foram absorvidos por sete Universidades Federais, que deram origem à RIDESA. Hoje, a Rede conta com dez Universidades, entre elas a Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), cujo programa de melhoramento atua nos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul.
Anualmente, o Programa de Melhoramento Genético de Canade-açúcar da UFSCar (PMGCA/UFSCar) realiza o Censo Varietal, com o objetivo de determinar quais as variedades mais utilizadas nas unidades produtoras de São Paulo e Mato Grosso do Sul. As informações deste levantamento permitem traçar tendências de participação e auxiliam na recomendação de variedades para determinadas condições. Além disso, o Censo aponta para as demandas atuais e futuras do setor, possibilitando aos programas direcionar a seleção de novas variedades para características específicas.
O Censo Varietal de 2021 contou com dados de 125 unidades, totalizando uma área superior a quatro milhões de hectares. As 20 variedades com maior participação estão listadas na Tabela 1. Os destaques foram a RB966928, a RB867515 e a CTC4, com percentuais de 16,2%, 13,4% e 13,4%, respectivamente. A boa aceitação da RB966928 e da CTC4 é justificada pela adaptabilidade de ambas à mecanização, enquanto que a participação significativa da RB867515 se deve à sua resposta em condições restritivas de solo e clima. As quatro variedades liberadas em 2015 pelo PMGCA/UFSCar também ficaram entre as mais cultivadas: a RB975201 ficou em 7º lugar, a RB975242 em 9º, a RB985476 em 14º e a RB975952 em 19º.
Tabela 1 – Variedades de cana-de-açúcar mais cultivadas em 125 unidades dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul em 2021
Considerando somente os quase 510 mil hectares de áreas de plantio (Tabela 2), as quatro variedades com maior participação foram a CTC4 (12%), a RB966928 (11,1%), a RB867515 (9%) e a RB975242 (8,4%). O crescimento da RB975242 nos últimos anos é atribuído ao seu desempenho em ambientes restritivos, onde vem se consolidando pelas boas produtividades apresentadas. Também se destacaram a RB975201, em 6º lugar, a RB985476, em 9º, e a RB975952, em 15º. Deve-se ressaltar ainda a participação de três das cinco variedades liberadas em 2021 pelo PMGCA/UFSCar: a RB975033 foi a 11ª mais plantada, enquanto que a RB005014 foi a 18ª e a RB975375, a 20ª. As recomendações de manejo das variedades liberadas pelo PMGCA/UFSCar em 2015 e em 2021 são mostradas na Tabela 3.
Na Figura 1, são apresentados os resultados das variedades agrupadas por sigla. Em área total, as variedades RB foram as mais utilizadas, com 55,7% de participação, seguidas pelas variedades CTC (31,3%), SP (5,5%), CV (4,2%) e IAC (3,2%), como mostra a Figura 1 A. Nas áreas de plantio, as variedades RB também tiveram a maior participação, com 53,5%, seguidas pelas variedades CTC (33,1%), CV (6,6%), IAC (4,1%) e SP (2,5%), como pode ser visto na Figura 1 B.
Os resultados apresentados mostram o crescimento de variedades de liberação recente nos últimos anos; entretanto, variedades tradicionais ainda têm espaço em situações específicas, como a RB867515 em solos de baixa fertilidade e, principalmente, em anos com déficit hídrico acentuado. É essencial que a expansão de uma nova variedade seja sempre criteriosa e baseada em resultados obtidos no local, por isso, recomenda-se aos produtores que busquem direcionar parte de seu tempo e de sua área para conhecer novas variedades, antes de acelerar sua multiplicação.
Tabela 2 – Variedades de cana-de-açúcar mais utilizadas em áreas de plantio de 125 unidades dos Estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul em 2021
Tabela 3 – Recomendações de manejo para nove variedades RB de cana-de-açúcar
Figura 1 – Participação das variedades de cana-de-açúcar, agrupadas por sigla, em 125 unidades de São Paulo e Mato Grosso do Sul em 2021: (A) área total e (B) área de plantio
REFERÊNCIA
CONAB - COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO. Acompanhamento da safra brasileira de cana-de-açúcar, Brasília, DF, v. 8, n. 4, abril 2022.