Na economia mundial e brasileira
• As perspectivas da economia brasileira divulgadas no Boletim Focus do Banco Central do Brasil do dia 13 de outubro indicam: IPCA com variação de 4,75% (queda mensal) em 2023 e de 3,88% (alta mensal) ao final de 2023; PIB (Produto Interno Bruto) com crescimento de 2,92% (alta) neste ano e retração de 1,50% ao final do próximo (manutenção); câmbio fechando em R$ 5,00 e R$ 5,05, respectivamente em 2023 e 2024, ambos em alta; e por fim, a Selic em torno de 11,75% e 9,00%, os dois em manutenção no comparativo ao mês anterior.
No agro mundial e brasileiro
• Em setembro, o indicador dos preços globais de alimentos calculado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) fechou em uma média de 121,5 pontos, praticamente estável em relação a agosto (121,4). De um ano a outro o valor teve queda de 10,7% e foi 24,0% abaixo do pico atingido em março de 2022. Os aumentos nos preços do açúcar e milho acabaram compensando as quedas dos óleos vegetais, laticínios e carnes. A demanda mais robusta do milho brasileiro, a desaceleração das vendas na Argentina e o aumento das tarifas de transporte marítimo impulsionaram os preços do cereal. O açúcar, por sua vez, obteve um aumento de 9,8%, alcançando o patamar mais alto desde o final de 2010. Por outro lado, a oferta abundante e a menor demanda global pressionaram para baixo os preços dos óleos vegetais, laticínios e carnes no geral.
• Na atualização mensal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA), 6ª edição para a safra global de grãos em 2023/24, a produção de milho foi levemente reestimada para cima: de 1.214,3 (setembro) para 1.214,5 milhão de t (outubro). De um lado, a safra nos Estados Unidos foi reduzida de 384,4 para 382,7 milhões de t neste relatório ou 1,8 milhão de t; do outro, o USDA incluiu 1 milhão de t a mais para a produção do cereal na Argentina, agora estimada em 55,0 milhões de t. China e Brasil seguem com mesmos valores, de 277,0 (mesmo de 2022/23) e 129,0 milhões de t (-5,8%), respectivamente. Nas exportações, o Brasil segue como líder em 2023/24, com a expectativa de embarcar 59,0 milhões de t. Os Estados Unidos, segundo colocado, tiveram seus números reduzidos em 500 mil t com a baixa na oferta, para 52,5 milhões de t. Do lado dos estoques, o USDA estima 312,4 milhões de t (era de 314,0 no mês passado), volume que é 4,7% superior ao de 2022/23 ou 14,3 milhões de t adicionais.
• No campo, as lavouras norte-americanas de milho estavam 53,0% nas condições “boas + ótimas” até o dia 15 de outubro, o mesmo percentual do ano anterior. Já a colheita do cereal foi concluída em 45,0% das áreas, 3 pontos percentuais acima da média dos últimos 5 anos, de 42,0%. A colheita está mais rápida. Em Chicago, os preços do milho (contrato dez/2023) estavam em alta na data de fechamento da nossa coluna (20/10); eram negociados a US$ 5,072/bushel, 5,2% a mais do que os US$ 4,8177/bushel de um mês atrás.
• Na soja, em mais um mês, o USDA reviu para baixo a projeção na produção global: de 401,3 (setembro) passou a 399,5 milhões de t (outubro), baixa de 0,5% ou 1,8 milhão de t. A revisão é justificada pela piora nas condições das lavouras da oleaginosa nos Estados Unidos, que devem produzir 111,7 milhões de t, 1,1 milhão de t a menos do que a estimativa de setembro (112,8 milhões de t). Não houve alterações para os demais produtores de importância global: o Brasil segue com 163,0 milhões de t (+ 4,5%); Argentina com 48,0 milhões de t (+ 92,0%); e China com 20,5 milhões de t (+ 1,0%). Com a redução na oferta norte-americana, a previsão para os embarques foi também reduzida em aproximadamente 1 milhão de t. Como resultado, 500 mil t foram somadas às vendas brasileiras, agora previstas em 97,5 milhões de t. Já os estoques da soja foram reduzidos de 119,2 milhões de t no mês passado para 115,6 milhões de t neste. Ainda assim, serão 13,5% superiores aos de 2022/23.
• Nos Estados Unidos, 52,0% das lavouras apresentavam as condições “boas + ótimas” até o final da semana de 15 de outubro, 5 pontos percentuais a menos do que os 57,0% do ciclo passado (áreas estão piores neste ano). Já a colheita segue em ritmo acelerado, com 62,0% das áreas colhidas frente a 52,0% nos últimos 5 anos. O contrato de nov/2023 da soja, na Bolsa de Chicago, era negociado a US$ 13,1472/ bushel em 20 de outubro, apenas 0,1% inferior aos US$ 13,1610/bushel de 20 de setembro.
• No algodão, a produção global foi praticamente mantida no 6º relatório de 2023/24, com 24,5 milhões de t de pluma. A oferta nos principais produtores está assim estimada: China com 5,9 milhões de t da pluma (- 12,0%); Índia com 5,44 milhões de t (- 3,9%); Brasil com 3,2 milhões de t (+ 24,3 milhões de t); e Estados Unidos com 2,8 milhões de t (- 11,4%). Válido lembrar que, se confirmado estes valores, será a primeira vez que o Brasil irá superar os norte-americanos na produção. O USDA também reduziu em 22 mil t a perspectiva de embarques da pluma dos EUA, agora em 2,66 milhões de t; o Brasil vem logo na sequência com 2,57 milhões de t, ou seja, estamos nos aproximando no principal exportador do algodão. Por fim, em relação aos estoques, o órgão prevê 17,4 milhões de t, 2,2 milhões de t a menos que setembro e 3,5% inferior a 2022/23.
• As condições “boas + ótimas” das lavouras de algodão nos Estados Unidos somam 30,0% (até 15/10), 1 p.p. a mais do que os 31% de 2022. A colheita da pluma havia sido concluída em 33,0% dos campos, contra 32,0% na média dos últimos cinco anos (2018 a 2022). Em Nova York, os contratos de dez/2023 do algodão registraram forte queda mensal; foram de US$ 86,90 centavos por libra-peso (20/09) para US$ 82,33 cents/lb (20/10), 5,3% inferior.
• No 1º levantamento da safra 2023/24 de grãos no Brasil, divulgado pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a produção total foi estimada em 317,5 milhões de t, 1,5% a menos do que produzimos no ciclo 2022/23. Já a área deve crescer 0,3%, alcançando 78,8 milhões de ha. A baixa na oferta de grãos deve vir em função da redução na área plantada de milho, especialmente na 2ª safra, dado o desestímulo dos agricultores por conta dos baixos preços e elevados custos de produção. O cereal deve entregar, ao todo, 119,4 milhões de t (-9,5%), sendo: 26,2 milhões de t na 1ª safra (- 4,4%); 91,2 milhões de t na 2ª safra (- 10,7%); e 2,0 milhões de t (-13,5%) na 3ª safra. Em termos de área, 21,2 milhões de ha (-4,8%) serão cultivados com milho, 4,1 na 1ª safra (-6,7%), 16,3 milhões de ha na 2ª (-4,5%) e 637,1 mil ha na 3ª safra, praticamente os mesmos campos do ciclo passado.
• Na soja, o cenário é outro: serão 45,2 milhões de ha cultivados (+ 2,5%) ou 1,1 milhão de ha a mais; e 162,0 milhões de t produzidas (+ 4,8%) ou 7,4 milhões de t adicionais. No algodão, a Conab estima uma alta de 2,9% nas áreas de lavouras (1,71 milhão de ha), mas espera uma redução de 5,3% na oferta da pluma (3,0 milhões de t), justificada pela baixa na produtividade das lavouras, que deve cair de 1,91 para 1,75 t por ha (-7,9%) em vista das condições de clima esperadas com El Niño.
• Nas culturas de inverno, a produção e a área foram estimadas no mesmo patamar de 2022/23, em 12,3 milhões de t e 4,2 milhões de ha, respectivamente. Os destaques vão para o trigo, que deve entregar 10,5 milhões de t, para a aveia com 1,2 milhões de t e com a cevada outros 538,6 mil t.
• No campo, o plantio do milho 1ª safra alcançou 30,4% de progresso até o dia 14 de outubro, contra 30,9% no mesmo período do ano passado; praticamente o mesmo valor, com destaque para a região Sul, onde Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul já registram avanços de 85,0, 76,0% e 73,0%, respectivamente. Na soja, a situação é um pouco diferente, já que as chuvas têm atrasado as operações. 19,0% das áreas estimadas já haviam sido plantadas até 14/10, enquanto no mesmo período do ano passado (onde também enfrentamos relativo atraso), estávamos com 22,0%. Algumas análises já apontam que pode haver dificuldade para alcançarmos os 163,0 milhões de t que estão sendo estimados.
• Em setembro, as exportações do agronegócio brasileiro alcançaram a cifra de US$ 13,71 bilhões, muito próximo do valor registrado no mesmo período do ano passado. No acumulado de 2023, o Brasil já exportou US$ 126,22 bilhões (+3,6%). Novamente, o volume exportado foi maior (atribuído à safra recorde de grãos de 2022/23) enquanto os preços tiveram retração. Os cinco principais setores exportadores no último mês foram, em ordem: “complexo soja”, com US$ 4,28 bilhões (+11,9%) ou 31,2% de participação nas exportações totais. As vendas externas de soja em grãos atingiram um patamar recorde para setembro em volume (6,40 milhões de t), um crescimento significativo de 59,9% com a China desempenhando um papel crucial, quase 80%.
• Enquanto isso, as exportações de “cereais, farinhas e preparações” foram de US$ 2,07 bilhões (+7,9%), impulsionadas principalmente pelo milho, que registrou um aumento de 10,2%. A China emergiu como o principal importador do milho brasileiro, adquirindo 36,6% do valor total exportado. Em seguida, o setor das “carnes” teve retração de 19,2% em valor (US$ 1,96 bilhão) a partir de uma queda acentuada nos preços. A carne bovina teve queda de 26,4%, já o frango diminuiu 12,5%, e os suínos caíram 0,4%. Em quarto lugar o “complexo sucroalcooleiro” foi um dos poucos setores a registrar crescimento tanto em volume quanto em preço médio, com exportações de US$ 1,79 bilhão (+23,2%) impulsionadas pelo aumento do valor internacional do açúcar, juntamente com preocupações sobre a exportação do adoçante indiano. Finalmente, os “produtos florestais” exportaram US$ 1,13 bilhão, mas registrando uma queda de 24,6%.
• As importações foram de US$ 1,32 bilhão em setembro deste ano, indicando uma redução de 17,7% em comparação ao mesmo mês de 2022. Os destaques na aquisição de insumos foram: fertilizantes, defensivos agrícolas, produtos para nutrição animal e máquinas e implementos agrícolas. O saldo na balança comercial do setor foi de US$ 12,39 bilhões (+2,4%).
• O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) também divulgou em outubro a sua atualização trimestral para as cadeias de proteína animal. Com a visão já em 2024, o órgão estima que, na carne bovina, a produção global deve ficar em 59,1 milhões de t (-0,3%), onde o Brasil irá produzir 10,8 milhões de t (+2,3%) e exportar 2,85 milhões de t (+3,6%). Na suína, a estimativa é de 115,5 milhões de t (mesmo valor de 2023), com o Brasil produzindo 4,83 milhões de t (+5,0%) e exportando 1,53 milhão de t (+5,5%), neste último quesito, ultrapassando o Canadá e assumindo a 3ª posição. Por fim, na carne de frango, a oferta global será de 103,3 milhões de t (+0,9%), com produção brasileira de 15,0 milhões de t (+0,7%) e embarques em 5,0 milhões de t (+3,8%).
• As estimativas do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) apontam que o Valor Bruto da Produção Agropecuária (VBP) para este ano totaliza R$ 1,150 trilhão, um aumento de 2,7% em relação a 2022 (R$ 1,120 trilhão) ou R$ 30 bilhões a mais. O crescimento será impulsionado principalmente pelas lavouras, que terão faturamento de R$ 812 bilhões (+4,8%). Enquanto isso, a pecuária terá uma redução de 2,2%, gerando um montante financeiro de R$ 337,8 bilhões. Alguns produtos, como algodão, batata inglesa, café, trigo, carne de frango e carne bovina terão desempenho negativo devido aos preços mais baixos neste ano. Por outro lado, na pecuária: suínos, ovos e leite terão um desempenho favorável. Os estados líderes em faturamento foram Mato Grosso, Paraná, São Paulo e Minas Gerais, contribuindo com 51,5% do VBP total do país.
• Outro aspecto que voltou a chamar atenção foi a volta do congestionamento nos centros de exportação de commodities agrícolas no Brasil, os quais estão lidando com volumes recordes de soja, milho e açúcar durante o início da temporada de chuvas nos portos do Sul. Esse cenário resultou em atrasos nos embarques de café devido à escassez de caminhões e contêineres, ao mesmo tempo em que os tempos de espera para o carregamento de navios aumentaram. Esses desafios geram custos extras e atrasos.
• Em setembro, o Brasil adquiriu quase 4 milhões de t de adubos e fertilizantes químicos, representando um investimento de U$S 1,23 bilhão. Embora tenha ocorrido um aumento de 22,4% no volume importado em comparação com o mesmo período do ano anterior, o valor gasto diminuiu em 39,3% devido à considerável redução nos preços desses insumos. No acumulado de janeiro a setembro, as importações de adubos totalizaram 28,67 milhões de t, registrando uma diminuição de 5,5% em relação a 2022. Esse cenário reflete que as aquisições para a safra 2023/24 ocorreram em um momento mais tardio, e muitas decisões foram impulsionadas pela necessidade de plantio em momentos desfavoráveis para as transações comerciais.
• Na safra 2023/24, a Argentina planeja aumentar a área de cultivo de soja em 5,6%, chegando a 17,1 milhões de ha, enquanto a produção estimada é de 50 milhões de t, um aumento substancial de 72,4% em relação à safra anterior, que sofreu com uma severa estiagem.
• O Brasil registrou aumentos significativos no rebanho de suínos e galináceos ano passado, com crescimentos de 4,3% e 3,8%, respectivamente. O rebanho de suínos atingiu um recorde de 44,4 milhões de animais, impulsionado pela demanda chinesa. No caso dos galináceos, o efetivo alcançou 1,6 bilhão de animais, com o Paraná se destacando na liderança.
• Os preços do leite aumentaram 19,7%, alcançando R$ 2,31 por litro, elevando o valor da produção em 17,7% para R$ 80 bilhões. As regiões Sul e Sudeste lideraram a produção, enquanto o Nordeste cresceu devido a condições climáticas favoráveis e investimentos em tecnologia. Enquanto isso, as importações de produtos lácteos dos países do Mercosul atingiram um recorde de US$ 520 milhões em 2023, gerando preocupações e protestos no Brasil.
• E a Embraer concluiu testes de voo de dois modelos de aeronave (Phenom 300E e o Praetor 600) onde utilizou 100% de SAF (Sustainable Aviation Fuel) como combustível. O SAF é uma fonte sustentável que utiliza biomassa, resíduos agrícolas, etanol, gorduras animais e outros resíduos como matérias-primas. Ele é capaz de reduzir em até 80% as emissões de CO2 na aviação. Boa oportunidade ao agro!
• A Associação Brasileira das Indústrias de Óleos Vegetais (Abiove) estima que a produção brasileira de biodiesel deve ultrapassar 7 bilhões de litros neste ano. A expectativa do Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) é de que a mistura do biodiesel ao diesel, que hoje é de 12,0%, chegue a 15,0% em 2026.
• E finalizamos a análise do agro trazendo os preços dos principais produtos do setor. Na soja, os preços para entrega em cooperativa do estado de São Paulo (FOB) em 20 de outubro estavam em R$ 135,00/sc (60 kg) para entrega em nov/23 e em R$ 124,30/sc para mar/24. Já no milho, o preço físico era de R$ 58,50/sc, enquanto a negociação para mar/24 (B3) estava em R$ 57,80/sc. No algodão (Cepea/Esalq), a cotação era de R$ 133,48/@. Outros produtos do agro, de acordo com Cepea/Esalq, estavam com preços em: café arábica, R$ 857,60/sc (60kg); o Trigo Paraná em R$ 1.030,30/t; a laranja indústria (a prazo) em R$ 45,90/cx (40,8 kg); e o boi gordo em R$ 242,10/@.
Os cinco fatos do agro para acompanhar em outubro são:
1. O progresso de plantio da safra brasileira de grãos em 2023/24. Embora os avanços no milho 1ª safra estejam positivos, a soja (que ocupa maior parte das áreas no período) está um pouco atrasada em relação ao ano anterior. Este atraso pode afetar a produtividade e, consequentemente, a produção total no Brasil.
2. Inevitavelmente, olhar para o conflito entre Israel e o Hamas no Oriente Médio, o que tem levado os preços do petróleo para cima. Esta alteração significa alta nos custos de insumos (com diesel, fertilizantes e outros), mas também afeta taxa de juros, inflação e outros indicadores econômicos.
3. Olhar para os números finais da safra americana 2023/24, ainda em outubro temos visto a piora nas condições de lavouras, principalmente de soja. Vale lembrar também que o período de neve no Meio Oeste Americano (maior região produtora de grãos) já está se aproximando, e pode afetar as operações de colheita, interferindo no resultado produtivo além da questão logística com a seca no Mississipi.
4. As variações no câmbio! Depois de alcançar R$ 5,17 em 05/10, o dólar voltou a cair na semana seguinte, mas ainda segue acima de R$ 5. Apesar da tendência (e nossa aposta) ser a baixa, agora temos mais uma variável para considerar que é a guerra no Oriente Médio (mais uma).
5. Por fim, olhar para a questão da logística interna afetando o agro. Com as chuvas frequentes (reflexos do El Nino), de um lado, os produtores seguem aguardando fertilizantes (que ainda estão em portos) para iniciar a semeadura. De outro, muitos produtos que já deveriam ter sido exportados, estão chegando atrasados aos portos e adiamentos têm sido observados. Já vemos algum reflexo nos custos com contêineres e outros logísticos.
Reflexões dos fatos e números da cana em setembro/outubro e o que acompanhar em novembro
Na cana
• A moagem alcançou o valor acumulado de 493,09 milhões de t desde o início do ciclo 2023/24 até 1° de outubro, variação positiva de 14,24% em relação ao mesmo período de 2022 (431,63 milhões de t), de acordo com o levantamento da União da Indústria da Cana-de-açúcar (Unica). Apenas na segunda metade de setembro, 44,78 milhões de t foram processadas (+77,0%). Esse cenário reflete a maior quantidade de matéria-prima disponível nesta temporada.
• Ao todo, 260 unidades estão em operação até então nesta safra: 243 processando cana-de-açúcar, 8 unidades milho e 9 são “flex”. No ano anterior, o total de usinas em atividade era 242. Com relação à qualidade da matéria-prima, o ATR acumulado registrou valor de 140,13 kg/t (-0,58%). Enquanto isso, o mix de produção desde o início da safra está em 50,46% para o etanol e 49,54% para o açúcar. Mais uma vez, a variação continua subindo para o adoçante e caindo para o biocombustível.
• No monitoramento do mercado de Créditos de Descarbonização (CBios), até o dia 06 de outubro, as distribuidoras adquiriram 24,91 milhões de títulos. Até o prazo final para cumprir a meta de 2022 (30 de setembro) a parte obrigada já havia emitido 38,66 milhões de créditos, ou seja, um excedente de quase 2 milhões da meta. Agora, o foco está na meta de 2023, de 37,47 milhões de CBios, que deve ser cumprida até março de 2024.
• Segundo a consultoria StoneX, a temporada 2024/25 na região Centro-Sul do Brasil está prevista para registrar uma marca histórica na moagem de cana-de-açúcar, com uma produção estimada de 629,3 milhões de t, representando um incremento anual de quase 1%. Esse resultado supera o recorde projetado para a safra atual, que foi revisado para cima, atingindo 623,6 milhões de t. É importante notar que essa projeção de crescimento ocorre mesmo com a expectativa de uma redução na produtividade dos canaviais. O aumento da área colhida, que deve abranger 6% a mais, totalizando 7,78 milhões de ha, é um dos fatores que impulsionam esse cenário otimista. Além disso, a consultoria prevê que a concentração de açúcares na cana (ATR) aumentará cerca de 0,6%, atingindo 138,5 quilos por t, influenciada pelas condições climáticas previstas para 2024, com previsões de menor pluviosidade e temperaturas mais baixas.
• Um estudo feito pela Organização das Associações de Produtores de Cana-de-Açúcar do Brasil (Orplana) revelou que os custos de produção estão excedendo as receitas. A pesquisa indica que os prejuízos são de R$ 17,3/t para os produtores, com custo estimado de R$ 182,2/t e receita em R$ 164,9/t, o que totaliza mais de R$ 1 bilhão em perdas, na área de atuação da Orplana.
No açúcar
• A fabricação acumulada de 2023/24 fechou setembro em 32,62 milhões de t, um aumento de 23,77% frente as 26,35 milhões de t do ciclo anterior, ainda de acordo com a Unica. Olhando apenas para a segunda metade de setembro, a produção de açúcar foi de 3,36 milhões de t, o que representa um aumento significativo de 98,02% em relação ao observado na temporada anterior (1,70 milhão de t).
• Em setembro, o Brasil exportou 3,2 milhões de t de açúcar, 6,3% a mais do que no mesmo mês de 2022, segundo o Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa). Em receitas, foi US$ 1,60 bilhão arrecadados com o adoçante, 29,4% a mais, o que resultou em preço médio mensal de US$ 498,59/t (+ 21,7%). No acumulado de 2023 (janeiro a setembro), já exportamos 21,0 milhões de t de açúcar (+ 13,2%) e arrecadamos US$ 10,2 bilhões (+ 38,5%). Na média acumulada, os preços da t do adoçante estão em US$ 485,66/t.
• A Índia prolongou suas restrições às exportações de açúcar para além de outubro, visando reduzir os preços domésticos antes das eleições estaduais. A medida impacta os preços internacionais que já estão em níveis elevados, alimentando preocupações com a inflação global dos alimentos. Essas restrições já estão em vigor há dois anos, com cotas de exportação para usinas. Na última temporada, a Índia permitiu a exportação de apenas 6,2 milhões de t de açúcar, em comparação com 11,1 milhões de t na temporada anterior.
• Em relação aos preços, o contrato de mar/2024 na bolsa de Nova York estava em 27,29 cents/lb na data de fechamento da nossa coluna. Em Londres, as negociações para o mesmo período (mar/2024) fecharam em 731,10/t. A manutenção dos preços do açúcar em níveis elevados pode ser explicada pelo atraso dos embarques do açúcar no Brasil e pelas expectativas mais baixas de oferta na Índia e Tailândia.
• Segundo a Archer, as usinas brasileiras já fixaram cerca de 10 milhões de t de açúcar para 2024/25, a preços médios de 21,80 cents/lb. Estima-se que as exportações girem em torno de 26 milhões de t no próximo ciclo, o que indica que 38,75% do volume já foi fixado. Há um ano, o avanço era bem próximo, de 39,0%, mas os preços médios foram de 17,31 cents/lb.
• Já o Açúcar Cristal Branco em São Paulo (Cepea/Esalq) estava cotado em R$ 156,72/sc (50kg) em 19/10, uma leve alta mensal de 0,63%. Em agosto, a média mensal de preços foi de R$ 135,27/sc, subimos a R$ 151,20/sc em setembro e, nas parciais de outubro, estamos com R$156,44/sc.
No etanol
• Segundo a Unica, a produção acumulada de etanol do começo de abril até 1° de outubro alcançou 23,43 bilhões de litros (+8,83%). Deste total, 13,81 bilhões de litros são de hidratado (+6,56%) e 9,62 bilhões correspondem ao anidro (+12,26%). O biocombustível produzido a partir do milho já totaliza 2,99 bilhões de litros, um avanço significativo de 44,21% em comparação ao mesmo período do ciclo passado.
• Por sua vez, as vendas de etanol somaram 2,76 bilhões de litros em setembro, aumento de 3,15% em relação ao mesmo mês de 2022. Desse volume, 1,00 bilhão de litros se refere ao tipo anidro (-12,22%) e 1,76 bilhão de litros do hidratado (+14,64%). No mercado interno, o consumo mensal do hidratado atingiu um pico para o mês (1,65 bilhão de litros), marcando um aumento anual significativo de 18,45%.
• A Indonésia planeja retomar seu programa de mistura de etanol na gasolina como parte de sua estratégia para promover fontes de energia renovável. Recentemente o país iniciou as vendas de gasolina com 5% de etanol em duas cidades e agora planeja estudar a possibilidade de aumentar a mistura para 7%, visando à redução de emissões.
• A União Nacional do Etanol de Milho (Unem) projeta um crescimento significativo para o etanol de milho nos próximos anos, chegando a 10,9 bilhões de litros até 2031/32. Além disso, o etanol de milho desempenha um papel essencial para manter a robustez do mercado de etanol no Brasil, especialmente em momentos em que o açúcar tem remuneração mais alta para as usinas sucroenergéticas.
• A Yara planeja substituir o gás natural de origem fóssil por biometano em sua unidade de Cubatão (SP), onde é produzida amônia, tornando-a "amônia verde" ou "amônia de baixo carbono". A transição será gradual, começando com 3% do consumo total, com o objetivo de alcançar a totalidade até 2030. Essa mudança tem o propósito de descarbonização, não resultando, por enquanto, em redução de custos. A empresa acredita que o biometano permitirá uma redução de 80% nas emissões de gases de efeito estufa na unidade.
• Em relação aos preços, os dados disponibilizados pela SCA em 19 de outubro apontam que o hidratado estava em R$ 2,710/l e o anidro em R$ 2,570/l na cidade de Ribeirão Preto (SP), com impostos já contabilizados.
Para concluir, os cinco principais fatos para acompanhar em novembro na cadeia da cana:
1. A guerra entre Israel e o Hamas e uma possível escalada do conflito no Oriente Médio, o que tem afetado de forma expressiva o mercado do petróleo. Um dia antes dos bombardeios, em 06 de outubro, o barril do Brent era cotado em US$ 84,07 e chegou a US$ 93,76 em 20 de outubro. Alguns especialistas já afirmam a possibilidade de os preços ultrapassarem os US$ 100/barril, a depender dos próximos episódios.
2. Avaliar os impactos que a alta no petróleo poderá trazer nos preços de diesel (custos de produção) e da gasolina, podendo estimular a escolha do etanol hidratado vis-à-vis a fonte fóssil. Em setembro, as vendas do hidratado cresceram
14,6%.
3. Reta final na moagem da safra 2023/24 no Centro-Sul e a avaliação dos números finais. Novembro é um mês em que muitas usinas finalizam as operações.
4. Os efeitos que o El Niño pode trazer para as lavouras, já pensando em 2024/25. Apesar da previsão de alta na moagem, a produtividade deve ser inferior (previsão de momento), considerando a expectativa de menores chuvas e temperaturas mais baixas em 2024.
5. Por fim, seguir de olho no mercado global de açúcar, com destaque para as novas restrições da Índia para exportações do produto em período pré-eleitoral; os atrasos no transporte (logística e chuvas) e no embarque (portos sobrecarregados) do açúcar brasileiro; a previsão de baixa na moagem de cana-de-açúcar em 2023/24 na Ásia (destaque para China e Tailândia); e as movimentações das usinas em relação a fixação de preços para o próximo ciclo.
Valor do ATR: em setembro, o Açúcar Total Recuperável (ATR), divulgado pelo Consecana, fechou o mês com preços em R$ 1,2051/kg, 1,0% a mais do que em agosto. Resgatando aqui o histórico da safra 2023/24: abril estava em R$ 1,2129/kg; maio fomos a R$ 1,1943/kg; junho pulamos para R$ 1,2223/kg; julho ficou com R$ 1,2153/kg; agosto, nova queda, fechando em R$ 1,1930/kg; e em setembro, voltamos a R$ 1,2051/kg. Com o resultado de setembro, o ATR acumulado está em R$ 1,2107/kg. Nossa previsão é de que fique entre R$ 1,20 e R$ 1,23/kg até o término da safra 2023/24, em abril do próximo ano.
Marcos Fava Neves é professor Titular (em tempo parcial) das Faculdades de Administração da USP, em Ribeirão Preto, e da FGV, em São Paulo, especialista em Planejamento Estratégico do Agronegócio. Confira textos e outros materiais em doutoragro.com e veja os vídeos no Youtube (Marcos Fava Neves).
Vinícius Cambaúva é associado na Markestrat Group, mestrando em Administração de Organizações pela FEA-RP/USP e especialista em comunicação estratégica no agronegócio.
Beatriz Papa Casagrande é consultora na Markestrat Group, aluna de mestrado em Administração de Organizações na FEA-RP/USP e especialista em inteligência de mercado para o agronegócio.